João Alberto estimula candidatura de Roseana, mas se ela recusar, ele pode ser o candidato do Grupo Sarney

 

João Alberto e Roseana Sarney na corrida

Com a autoridade de quem comanda o PMDB no Maranhão, de ser um dos nomes mais acreditados do Grupo Sarney, de estar mantendo relação muito próxima com a cúpula nacional do partido e de ser um dos principais articuladores do presidente Michel Temer no Senado da República, o senador João Alberto  (foto) assumiu a condição de mais entusiasmado porta-voz da ainda virtual candidatura da ex-governadora Roseana Sarney (foto) ao Palácio dos Leões. Enquanto ela se mantém operando nos bastidores, de onde examina, com pesquisas e informações da sua rede de contatos políticos, municiando-se de informações para bater martelo quanto à própria candidatura, o senador atua para manter a chama acesa nos correligionários do Grupo, que já começam a cobrar uma posição definitiva de Roseana Sarney sobre se será mesmo ou não a adversária do governador Flávio Dino (PCdoB). Na sua manifestação mais recente, feita de maneira enfática, segundo o blog do jornalista Diego Emir, João Alberto foi categórico: “Roseana é candidatíssima e vai ganhar a eleição”.

João Alberto trabalha com dois cenários. O primeiro deles é, de fato, a candidatura de Roseana Sarney, que ele tem na conta do projeto mais viável do Grupo Sarney nas eleições de 2018, reconhecendo que a ex-governadora é o nome em condições de reagrupar, se não todas, a maior parte das forças que liderava e que se dispersaram com a traumática derrota nas urnas em 2014. O outro, que é na verdade o “Plano B” a ser acionado na hipótese de o incluiu como o primeiro nome para enfrentar o governador Flávio Dino no caso, muito remoto, de a ex-governadora bater martelo e decidir permanecer em casa, confirmando a anunciada aposentadoria política.

João Alberto, que trabalha seriamente com a possibilidade de interromper sua aposentadoria, avalia que o cenário que prevê a candidatura de Roseana Sarney é o mais promissor. Para ele, o Grupo dispõe de nomes que podem perfeitamente fazer frente ao governador Flávio Dino, mas nenhum apresenta a consistência eleitoral que ela tem para enfrentar o governador. Todas as pesquisas contratadas pelo PMDB mostram que a ex-governadora tem a fidelidade de expressiva fatia do eleitorado, tendo também o contrapeso incômodo de uma elevada rejeição. Pesando pró e contra, a cúpula do Grupo Sarney, a começar pelo presidente do PMDB, avalia que Roseana Sarney é o nome e que sua candidatura, se bem trabalhada e embalada pelos fluidos do Governo Michel Temer e atrelada a um candidato presidencial de futuro pode medir forças com a do governador Flávio Dino, que até aqui lidera a corrida sem qualquer ameaça que lhe tire o sono.

O problema dos líderes do Grupo Sarney é convencer Roseana Sarney a sair da sua confortável aposentadoria para entrar numa disputa pesada, que exigirá dela um esforço gigantesco e sem qualquer garantia de que sairá das urnas com autorização para voltar a morar, por mais quatro anos, no Palácio dos Leões. Aparentemente, Roseana Sarney emite sinais de que está interessada, mas até agora não deu uma só declaração dizendo-se pré-candidata, e o que chegou mais próximo disso foi uma estranha ameaça: “Se eles me provocarem, serei candidata”, disse pretendendo dar a impressão de que o governador “treme” diante da possibilidade de ela sair para a briga nas urnas. Mas fontes que conhecem o “drama” afirmam que ela ainda não fez soar o gongo exatamente por não ter segurança de que chegará lá.

O senador João Alberto, ao contrário, opera estimulando o Grupo e a própria Roseana Sarney a entrar na briga para valer. E o faz dentro da velha lógica segundo a qual o importante é competir, porque só competindo é que se pode vencer uma competição. O senador sabe que nesse contexto ele terá papel importante e decisivo, seja como presidente do PMDB, seja como candidato a senador ou – quem sabe? – como candidato a governador.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Flávio Dino articula governadores e quer Lula abrindo o debate sobre soluções para o País sair da crise

Flávio Dino articula apoio a Lula
Flávio Dino articula apoio a Lula

Repercutiram fortemente no meio político nacional as declarações do governador Flávio Dino dadas à Rádio Estadão, de São Paulo, propondo que uma agenda para o país – que não inclua as reformas do Governo Michel Temer – seja posta em debate imediatamente, de modo que possa vir a ser a base temática da corrida presidencial. Ele também defendeu o ex-presidente Lula da Silva (PT) entre logo no debate, por acreditar que, no âmbito das esquerdas, só ele tem cacife político para liderar esse movimento, que já ganha corpo com a articulação de governadores para formar uma base de sustentação política da candidatura do líder petista.

A entrevista e o nível da abordagem confirmam que Flávio Dino é atualmente um dos mais destacados e acreditado líder na seara das esquerdas. Suas avaliações do quadro político nacional são recebidas no nas cúpulas partidárias como referências, o que lhe dá autoridade para falar em seu próprio nome e como porta-voz informal das esquerdas.

A articulação de um grupo de governadores em torno do ex-presidente Lula não é exatamente uma novidade. Esse grupo nasceu para dar apoio à presidente Dilma Rousseff, e continuou se articulando depois do impeachment e continuou operando para construir pontes institucionais dos estados com o atual Governo. Isso não impede que esse grupo possa abrir um grande diálogo sobre as saídas para a crise econômica e seus desdobramentos políticos, já que, segundo entende o governador maranhense, as reformas propostas pelo presidente Michel Temer estão na contramão dos interesses da sociedade brasileira.

– É preciso debater alternativas. Por isso eu acho muito importante que o ex-presidente Lula, até pela posição de destaque que ele ocupa nas pesquisas eleitorais, se coloque imediatamente no debate com um programa que possa apresentar outras ideias, para que a gente saia da situação de impasse político – propôs.

Confronto em Viana: um exemplo completo e acabado da tragédia brasileira causada pela omissão das instituições

Não há qualquer dúvida de que os índios Gamela são as principais vítimas do conflito armado ocorrido no povoado Bahias, no interior de Viana. Mas o que chama a atenção nesse episódio é que ele desenha com precisão uma tragédia muito maior do que a violência primitiva que marcou o embate entre eles e os fazendeiros que ocupam suas terras. O que acontece ali é, primeiro, a confirmação de que as instituições brasileiras não levam em conta a existência de índios como seres humanos e cidadãos que têm direito a tratamento diferenciado.

Os Gamela, como todos os povos  indígenas que lutam desesperadamente para sobreviver em território brasileiro, são tratados como excluídos incômodos cuja existência é mais um problema para a “sociedade brasileira”. E como eles, os fazendeiros de Viana, como quem brigam por território, também são tratados como sujeitos esquecidos, igualmente excluídos e cuja existência também incomoda mais do que satisfaz.

Como é possível dar o mesmo tratamento judicial a uma situação que, todos sabiam, caminhava claramente para o conflito direto e aberto? A ação movida pela Funai – o pior órgão da estrutura orgânica federal – se arrasta há dois anos, e só avança se arrastando por que o Conselho Indigenista  (CIMI), mantido pela Igreja Católica, atua como força de defesa. Então, o conflito, que era um problema sócio-cultural-econômico, virou um caso de polícia, reafirmando que só tentamos apagar o fogo quando ele já invadiu o canavial. Não há, portanto, como aceitar que diante de tantos avisos, advertências e alertas vermelhos, os Governos Federal e Estadual não agiram para evitar que cidadãos brasileiros se confrontassem brutalmente, empurrados pela omissão das instituições que deveriam evitar situações como essa.

Agora, depois do caldo derramado, usa-se um enorme aparato policial para caçar pistoleiros, numa exibição cinematográfica com forte cheiro de hipocrisia, porque a raiz do problema, que é a demarcação das terras pertencentes aos Gamela, continuará exposta e sem solução. E certamente continuará assim até que outro confronto, reforçado pelo ódio produzido pelo de domingo, deixe mortos, e não feridos.

São Luís, 02 de Maio de 2017.

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