No que já é, sem dúvida, ser um dos momentos mais traumáticos da sua história, brasileiros assistem, perplexos, pela TV, os inacreditáveis depoimentos dos corruptores da Odebrecht, que mostram como o grande capital, encarnado em toda plenitude pela empreiteira, age monstruosamente para manipular e corromper agentes do Estado e líderes políticos para impor os seus interesses, e como eles, quando assediados, se deixam corromper, numa ópera reveladora da tragédia do Brasil, refletida no caos nos hospitais públicos, no aumento da violência, no baixo rendimento escolar, no caos na infraestrutura, enfim, na incapacidade do Estado de dar a resposta adequada aos impostos que arrecada. Nesse contexto, economistas, intelectuais, profissionais das mais diversas áreas, professores e artistas, homens e mulheres de bem até prova em contrário, rompem a letargia da perplexidade e propõem uma saída urgente para o Brasil. Liderados pelo economista e professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, que foi ministro dos Governos Sarney e FHC, o grupo lançou o manifesto Projeto Brasil Nação, cuja íntegra é a seguinte:
“O Brasil vive uma crise sem precedentes. O desemprego atinge níveis assustadores. Endividadas, empresas cortam investimentos e vagas. A indústria definha, esmagada pelos juros reais mais altos do mundo e pelo câmbio sobreapreciado. Patrimônios construídos ao longo de décadas são desnacionalizados.
Mudanças nas regras de conteúdo local atingem a produção nacional. A indústria naval, que havia renascido, decai. Na infraestrutura e na construção civil, o quadro é de recuo. Ciência, cultura, educação e tecnologia sofrem cortes.
Programas e direitos sociais estão ameaçados. Na saúde e na Previdência, os mais pobres, os mais velhos, os mais vulneráveis são alvo de abandono.
A desigualdade volta a aumentar, após um período de ascensão dos mais pobres. A sociedade se divide e se radicaliza, abrindo espaço para o ódio e o preconceito.
No conjunto, são as ideias de nação e da solidariedade nacional que estão em jogo. Todo esse retrocesso tem apoio de uma coalizão de classes financeiro-rentista que estimula o país a incorrer em déficits em conta corrente, facilitando assim, de um lado, a apreciação cambial de longo prazo e a perda de competitividade de nossas empresas, e, de outro, a ocupação de nosso mercado interno pelas multinacionais, os financiamentos externos e o comércio desigual.
Esse ataque foi desfechado num momento em que o Brasil se projetava como nação, se unindo a países fora da órbita exclusiva de Washington. Buscava alianças com países em desenvolvimento e com seus vizinhos do continente, realizando uma política externa de autonomia e cooperação. O país construía projetos com autonomia no campo do petróleo, da defesa, das relações internacionais, realizava políticas de ascensão social, reduzia desigualdades, em que pesem os efeitos danosos da manutenção dos juros altos e do câmbio apreciado.
Para o governo, a causa da grande recessão atual é a irresponsabilidade fiscal; para nós, o que ocorre é uma armadilha de juros altos e de câmbio apreciado que inviabiliza o investimento privado. A política macroeconômica que o governo impõe à nação apenas agravou a recessão. Quanto aos juros altíssimos, alega que são ‘naturais’, decorrendo dos déficits fiscais, quando, na verdade, permaneceram muito altos mesmo no período em que o país atingiu suas metas de superávit primário (1999-2012).
Buscando reduzir o Estado a qualquer custo, o governo corta gastos e investimentos públicos, esvazia o BNDES, esquarteja a Petrobrás, desnacionaliza serviços públicos, oferece grandes obras públicas apenas a empresas estrangeiras, abandona a política de conteúdo nacional, enfraquece a indústria nacional e os programas de defesa do país, e liberaliza a venda de terras a estrangeiros, inclusive em áreas sensíveis ao interesse nacional.
Privatizar e desnacionalizar monopólios serve apenas para aumentar os ganhos de rentistas nacionais e estrangeiros e endividar o país.
O governo antinacional e antipopular conta com o fim da recessão para se declarar vitorioso. A recuperação econômica virá em algum momento, mas não significará a retomada do desenvolvimento, com ascensão das famílias e avanço das empresas. Ao contrário, o desmonte do país só levará à dependência colonial e ao empobrecimento dos cidadãos, minando qualquer projeto de desenvolvimento.
Para voltar a crescer de forma consistente, com inclusão e independência, temos que nos unir, reconstruir nossa nação e definir um projeto nacional. Um projeto que esteja baseado nas nossas necessidades, potencialidades e no que queremos ser no futuro. Um projeto que seja fruto de um amplo debate.
É isto que propomos neste manifesto: o resgate do Brasil, a construção nacional. Temos todas as condições para isso. Temos milhões de cidadãos criativos, que compõem uma sociedade rica e diversificada. Temos música, poesia, ciência, cinema, literatura, arte, esporte – vitais para a construção de nossa identidade. Temos riquezas naturais, um parque produtivo amplo e sofisticado, dimensão continental, a maior biodiversidade do mundo. Temos posição e peso estratégicos no planeta. Temos histórico de cooperação multilateral, em defesa da autodeterminação dos povos e da não intervenção.
O governo reacionário e carente de legitimidade não tem um projeto para o Brasil. Nem pode tê-lo, porque a ideia de construção nacional é inexistente no liberalismo econômico e na financeirização planetária.
Cabe a nós repensarmos o Brasil para projetar o seu futuro – hoje bloqueado, fadado à extinção do empresariado privado industrial e à miséria dos cidadãos. Nossos pilares são: autonomia nacional, democracia, liberdade individual, desenvolvimento econômico, diminuição da desigualdade, segurança e proteção do ambiente – os pilares de um regime desenvolvimentista e social.
Para termos autonomia nacional, precisamos de uma política externa independente, que valorize um maior entendimento entre os países em desenvolvimento e um mundo multipolar.
Para termos democracia, precisamos recuperar a credibilidade e a transparência dos Poderes da República. Precisamos garantir diversidade e pluralidade nos meios de comunicação. Precisamos reduzir o custo das campanhas eleitorais, e diminuir a influência do poder econômico no processo político, para evitar que as instituições sejam cooptadas pelos interesses dos mais ricos.
Para termos Justiça precisamos de um Poder Judiciário que atue nos limites da Constituição e seja eficaz no exercício de seu papel. Para termos segurança, precisamos de uma polícia capacitada, agindo de acordo com os direitos humanos. Para termos liberdade, precisamos que cada cidadão se julgue responsável pelo interesse público.
Precisamos estimular a cultura, dimensão fundamental para o desenvolvimento humano pleno, protegendo e incentivando as manifestações que incorporem a diversidade dos brasileiros.
Para termos desenvolvimento econômico, precisamos de investimentos públicos (financiados por poupança pública) e principalmente investimentos privados. E para os termos precisamos de uma política fiscal, cambial socialmente responsáveis; precisamos de juros baixos e taxa de câmbio competitiva; e precisamos ciência e tecnologia.
Para termos diminuição da desigualdade, precisamos de impostos progressivos e de um Estado de bem-estar social amplo, que garanta de forma universal educação, saúde e renda básica. E precisamos garantir às mulheres, aos negros, aos indígenas e aos LGBT direitos iguais aos dos homens brancos e ricos.
Para termos proteção do ambiente, precisamos cuidar de nossas florestas, economizar energia, desenvolver fontes renováveis e participar do esforço para evitar o aquecimento global.
Neste manifesto inaugural estamos nos limitando a definir as políticas públicas de caráter econômico. Apresentamos, assim, os cinco pontos econômicos do Projeto Brasil Nação.
1- Regra fiscal que permita a atuação contracíclica do gasto público, e assegure prioridade à educação e à saúde.
2- Taxa básica de juros em nível mais baixo, compatível com o praticado por economias de estatura e grau de desenvolvimento semelhantes aos do Brasil.
3- Superávit na conta corrente do balanço de pagamentos que é necessário para que a taxa de câmbio seja competitiva.
4- Retomada do investimento público em nível capaz de estimular a economia e garantir investimento rentável para empresários e salários que reflitam uma política de redução da desigualdade.
5- Reforma tributária que torne os impostos progressivos.
Esses cinco pontos são metas intermediárias, são políticas que levam ao desenvolvimento econômico com estabilidade de preços, estabilidade financeira e diminuição da desigualdade. São políticas que atendem a todas as classes exceto a dos rentistas.
A missão do Projeto Brasil Nação é pensar o Brasil, é ajudar a refundar a nação brasileira, é unir os brasileiros em torno das ideias de nação e desenvolvimento – não apenas do ponto de vista econômico, mas de forma integral: desenvolvimento político, social, cultural, ambiental; em síntese, desenvolvimento humano. Os cinco pontos econômicos do Projeto Brasil são seus instrumentos- não os únicos instrumentos, mas aqueles que mostram que há uma alternativa viável e responsável para o Brasil”.
Estamos hoje, os abaixo assinados, lançando o Projeto Brasil Nação e solicitando que você também seja um dos seus subscritores e defensores.
Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista,
Eleonora de Lucena, jornalista,
Celso Amorim, embaixador,
Raduan Nassar, escritor,
Chico Buarque de Hollanda,
Mario Bernardini, engenheiro,
Roberto Schwarz, crítico literário,
Pedro Celestino, engenheiro,
Fábio Konder Comparato, jurista,
Kleber Mendonça Filho, cineasta,
Laerte, cartunista,
João Pedro Stedile, ativista social,
Wagner Moura, ator e cineasta,
Vagner Freitas, sindicalista,
Margaria Genevois, ativista de direitos humanos,
Rogério Cezar de Cerqueira Leite, físico,
Fernando Haddad, professor universitário,
Marcelo Rubens Paiva, escritor,
Maria Victoria Benevides, socióloga,
Luiz Costa Lima, crítico literário,
Paul Singer, economista,
Ciro Gomes, político,
Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, economista,
Alfredo Bosi, crítico e historiador,
Eclea Bosi, psicóloga,
Manuela Carneiro da Cunha, antropóloga,
Fernando Morais, jornalista,
Leda Paulani, economista,
André Singer, cientista político,
Luiz Carlos Barreto, cineasta,
Paulo Sérgio Pinheiro, sociólogo,
Maria Rita Kehl, psicanalista,
Tata Amaral, cineasta,
Eric Nepomuceno, jornalista,
Carina Vitral, estudante,
Luiz Felipe de Alencastro, historiador,
Roberto Saturnino Braga, engenheiro e político,
Roberto Amaral, cientista político,
Eugenio Aragão, subprocurador geral da República,
Ermínia Maricato, arquiteta,
Marcia Tiburi, filósofa,
Frei Betto, escritor e religioso,
Ribamar Corrêa, jornalista.
São Luís, 14 de Abril de 2017.
Como fazer para subscrever o documento?
A lista na sua maioria de assinantes apoiadores da causa brasileira para salvar a nação de toda a corgia de corruptos e ladrões do erário público é bastante respeitada e honrada, fora os três traidores que assinaram também que me causa nojo que são: Luiz Carlos Bresser-Pereira, economista e ex-ministro da fazenda do governo humilde, Fernando Haddad, professor universitário e ex-prefeito da cidade de são paulo e do PT e Vagner Freitas, sindicalista. esses três na minha humilde opinião, são traidores da nação brasileira.