Desprestigiada nos últimos tempos, como uma entidade que perdera suas referências e seus objetivos, a Federação das Associações dos Municípios do Estado do Maranhão (Famem) ganhou ânimo novo depois das eleições, mais precisamente a partir do momento em que o prefeito reeleito de Tuntum, Cleomar Tema Cunha (PSB), anunciou ao mundo a decisão de se candidatar à sua presidência. O anúncio de Tema Cunha sacudiu os bastidores do municipalismo maranhense, tendo alcançado os 217 prefeitos eleitos e reeleitos como um rastilho de pólvora, e incluiu o futuro da entidade representativa dos municípios na pauta político do Maranhão para as primeiras semanas de 2017. A pré-candidatura do prefeito reeleito de Tuntum despertou atraiu para a disputa os prefeitos de Barra do Corda, Erick Costa (PCdoB), de Timon, Luciano Leitoa (PSB), de Porção de Pedras, Júnior Cascaria (PCdoB), de Pastos Bons, Iriane Gonçalo (SD), de São Mateus, Miltinho Aragão (PSB), de Arari, Djalma Melo (PTB), e de Caxias, Fábio Gentil (PRB), todos com peso político regional, mas nenhum com a solidez política do prefeito de Tuntum, cuja autoridade política começa com a eleição para o quarto mandato, um fato raro na vida política municipal do Maranhão.
Na sexta-feira (2) da semana passada, Tema Cunha ganhou uma adversária politicamente cacifada, a prefeita de Rosário Irlahi Moraes (PMDB) que entrou na briga pelo comando da Famem também com o cacife da reeleição. Advogada e administradora de empresas, Irlahi Moraes é rosariense da gema e tem se notabilizado por uma gestão eficiente no comando da cidade, que se reflete também na Região do Munim. A prefeita reeleita de Rosário é militante do PMDB desde jovem, nunca admitiu sequer a possibilidade de mudar de partido, o que por si só é um dado de coerência política. Irlahi ingressou no PMDB quando o partido ainda era comandado no Maranhão por Renato Archer, Cid Carvalho, Mauro Bezerra, entre outros pemedebistas, mantendo-se fiel à agremiação depois que ela passou ao domínio do Grupo Sarney, o início dos anos de 1990, com a queda de Cid Carvalho e a ascensão do hoje senador João Alberto ao comando do partido. Ainda muito jovem, Irlahi Moraes foi vereadora e presidiu a Câmara Municipal de Rosário em 1985, foi vice-prefeita de Bacabeira em 2000, elegendo-se prefeita de Rosário em 2012, reelegendo-se com segurança em 2016. Como se vê, uma pré-candidata com os pés no chão e com suporte para encarar a disputa.
Não se discute que os demais pré-candidatos são potencialmente fortes, ainda que entre eles estejam alguns ainda o devido lastro político. De todos os pré-candidatos, o que tem protagonismo político é o Tema Cunha, que além do gás político, conta com uma ampla teia de relações capazes de injetar-lhe muita força. O prefeito de Tuntum, que já conta com o apoio do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Humberto Coutinho (PDT) e com de parte do seu partido, teria também a simpatia do Palácio dos Leões. É provável que essa simpatia se transforme em apoio de pelo menos de uma grande fatia dos 46 votos do PCdoB na disputa, por exemplo. E como se não bastasse, ganhou uma declaração de apoio de ninguém menos que o prefeito eleito de São Luís de Ribamar, Luis Fernando Silva, que será uma das vozes mais influentes da seara municipalista maranhense a partir de 1º de janeiro de 2017.
Não é possível até aqui avaliar o grau de disposição dos atuais pré-candidatos de entrar mesmo para valer nessa disputa. Mas é possível afirmar, sem citar nomes, que alguns têm, de fato, o propósito, de comandar a entidade, como também há os que estão apenas tentando ultrapassar a fronteira dos seus municípios e dizer ao resto do mundo que existem na seara política. Até aqui, pré-candidatura para valer só a de Tema Cunha e, agora, a de Irlahi Moraes. Tema Cunha começou a se movimentar em direção à Famem no dia seguinte às eleições, quando teve sua reeleição confirmada, e de lá para cá vem fazendo uma campanha intensa. Irlahi Moraes deixou a poeira da disputa baixar, avaliou as suas condições, fez uma série de consultas, para só anunciar a sua pré-candidatura na última sexta-feira, em reunião com prefeitos e reeleitos da Região do Munim, dos quais recebeu apoio total.
Qualquer avaliação com os pés fincados no chão levará facilmente à conclusão de que os ventos do favoritismo sopram a favor do prefeito reeleito de Tuntum, que dispõe de uma forte estrutura política, acumula muita experiência e conta com uma rede de apoio invejável. Tema Cunha sabe, porém, que numa disputa dessa natureza demonstrações excessivas de poder podem inverter a lógica, o que equivale dizer que o caminho é conquistar voto a voto. É nessa direção que parece dar os primeiros passos a prefeita reeleita Irlahi Moraes, que desde a semana passada vem dando demonstrações de que não entrou na corrida apenas para fazer figura.
PONTO & CONTRAPONTO
Se Renan cair, Waldir chegará ao topo
Se o Supremo Tribunal Federal confirmar hoje o afastamento do senador alagoano Renan Calheiros (PMDB) da presidência do Senado da República, o Brasil terá de conviver com outra situação absolutamente surpreendente: 1º vice-presidente da Câmara Federal, o deputado federal Waldir Maranhão (PP) será o presidente do Congresso Nacional. No caso, ele permanecerá no comando da instituição até a realização de eleições para as mesas diretoras da Câmara Federal e do Senado da República, no início de fevereiro, a partir do que se forma a Mesa Diretora do Congresso Nacional, tendo como presidente o presidente do senado e como vice-presidente o 1º vice-presidente das Câmaras Federal. Como é quase certo que o plenário do Supremo confirmará o afastamento de Renan Calheiros, já que ele foi transformado em réu pela própria Corte, o que o tornará impedido de assumir a presidência de um Poder do Estado brasileiro, Waldir Maranhão assumirá automaticamente a presidência do Congresso Nacional, podendo definir a pauta, escolher matérias que entrem em regime de votação, marcar e convocar sessões e reunir o colégio de líderes formado por deputados e senadores. Só não entrará na cadeia sucessória presidencial, porque a cadeia sucessória só alcança o presidente titular do Senado e do Congresso Nacional. E Waldir, no caso, será substituto.
Essa situação já aconteceu com o senador Edison Lobão (PMDB). Lobão era 1º vice-presidente do Senado da República, no final do século passado, quando o presidente, senador paraense Jader Barbalho (PMDB), foi obrigado a renunciar, acusado de corrupção. Lobão assumiu a presidência do Senado, mas as sessões do Congresso à época seriam presididas pelo obscuro deputado federal paraibano Efrahim Moraes (DEM), que depois viria a ser senador e, ele também, obrigado a renunciar.
Tensões entre Governo e Oposição movimentam Legislativo
O Palácio dos Leões precisa fazer alguns ajustes urgentes na sua relação com a Assembleia Legislativa, principalmente com deputados de oposição. Desde a semana passada, na ausência do presidente Humberto Coutinho (PDT) por exames de saúde, a bancada oposicionista está em pé de guerra com o Governo por causa da resposta dada pelo secretário de Infraestrutura, Clayton Noleto, a um pedido de informação feito pelo deputado Edilázio Jr. (PV), que é também secretário-geral da Mesa Diretora da Casa. As sessões têm sido presididas pelo presidente em exercício, deputado Othelino Neto (PCdoB).
No seu requerimento de informação, que conseguiu aprovar num cochilo da bancada governista, Edilázio Jr. pediu as informações: para quais municípios o Governo levou o programa “Mais Asfalto”, quantos quilômetros foram feitos em cada município, qual o custo de cada projeto, quais os que foram concluídos e quais os critérios que o Governo adotou para escolher os municípios beneficiados. Em sua resposta, que chegou à Casa no final da semana passada, o secretário Clayton Noleto informou apenas os municípios alcançados pelo programa e em quais os trabalhos de asfaltamento foram concluídos e onde os trabalhos estão em andamento, não fazendo referência a custo nem a critérios de escolha.
A resposta do secretário Clayton Noleto foi duramente criticada pelo deputado Edilázio Jr., que a considerou incompleta e um “desrespeito” à oposição e à Casa. Na segunda-feira, foi mais longe, e em seguida apresentou requerimento convocando o secretário de Infraestrutura para dar explicações ao parlamento. A bancada governista se mobilizou para impedir, conseguindo evitar a convocação por 13 votos a nove, para muitos uma situação de risco para o Governo. Ontem, mais uma vez a oposição pressionou pela aprovação da convocação do secretário, obrigando os governistas a jogar pesado para impedir. Hoje, o plenário terá de se manifestar mais uma vez sobre o assunto, num clima em que até deputado governista avalia que o secretário Clayton Noleto errou ao responder naqueles termos ao requerimento do deputado Edilázio Jr., que ganhou munição farta para disparar contra o Palácio dos Leões.
São Luís, 06 de Dezembro de 2016.