O deputado Waldir Maranhão (PP-MA) iniciou ontem a contagem regressiva para deixar a presidência interina da Câmara Federal e, assim, sair do epicentro da mais longa crise vivida por aquela instituição nas últimas décadas. Mas o fará com o ânimo de quem levou a melhor numa guerra particular com o agora ex-presidente da Câmara Federal, o até pouco tempo todo-poderoso deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O empurrão foi a renúncia de Cunha ao comando, abrindo caminho para a eleição de um novo presidente. A eleição mandará Waldir Maranhão de volta ao cargo de 1° vice-presidente da Mesa Diretora, para viver o papel secundário que sempre viveu como deputado federal. O retorno devolverá “vida normal” ao parlamentar maranhense, à medida que o afastará no protagonismo tosco e desastrado que ele encenou ao assumir interinamente a direção da Casa com o afastamento, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de Eduardo Cunha do cargo de presidente e do mandato parlamentar. Já apontado como o mais desastrado presidente que a Casa já teve, pois superou o pernambucano Severino Cavalcante, que acabou derrubado e cassado, Waldir Maranhão cumpriu ontem seu último ato importante como presidente interino: convocou a eleição do novo presidente para quinta-feira da próxima semana.
A eleição do novo presidente devolverá o atual presidente interino ao seu devido lugar, encerrando um período em que, por tomar decisões e atitudes absolutamente fora dos padrões e não conseguir sequer presidir sessões e se movimentar num vai-vem jamais visto no comando de uma casa parlamentar. Foi o que ontem, ao renunciar, Eduardo Cunha chamou de “gestão bizarra”, jogando no limbo aquele que o saudou como “meu eterno presidente” quando votou contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Waldir Maranhão e Eduardo Cunha foram amigos até algumas semanas atrás. Cultivaram uma amizade de interesse, baseada estritamente no jogo pelo poder, que começou a se desmanchar quando Cunha sentiu os primeiros sintomas de perda de poder e que se agravou quando o pemedebista foi afastado pelo STF e o pepista assumiu a presidência da Casa interinamente. Ali foi deflagrado efetivamente o conflito de interesses, pois as posições se inverteram, passando Maranhão a dar as cartas, o que deixou Cunha profundamente irritado. Diante das pancadas que levou em razão de decisões equivocadas e desastradas que tomou, Maranhão foi se afastando de Cunha a cada dia, passando a ser hostilizado por aliados do presidente afastado. Ainda com força, Cunha manobrou para que Maranhão fosse execrado dentro do PP, contribuindo fortemente para que a direção pepista lhe tirasse o comando do partido no estado para entregá-lo ao deputado federal André Fufuca, outro aliado de primeira hora de Cunha e que saiu providencialmente de Brasília antes que a bomba estourasse.
Dois atos de Maranhão deixaram Cunha especialmente enraivecido com o agora ex-aliado linha de frente. O primeiro foi a Resolução anulando a sessão da Câmara que autorizou o Senado da República a abrir o processo de impeachment, que durou menos de 24 horas, mas causou um dos maiores rebuliços dos últimos tempos em Brasília nos últimos tempos, resultando num estrago dos diabos nas suas próprias costas. O outro foi a decisão que refez o andamento de uma consulta de Cunha à Comissão de Constituição e Justiça da Casa em relação ao processo de cassação do agora ex-presidente. Se a relação dos dois já estava se deteriorando, os atos serviram para afastá-los ainda mais, tanto e tão rapidamente que nos últimos tempos vinham trocando xingamentos.
O fato é que, ao renunciar a presidência da Câmara Federal, o deputado Eduardo Cunha perdeu o jogo para o deputado Waldir Maranhão, e a derrota será mais dura se o plenário da Casa confirmar a cassação do seu mandato, o que, tudo indica, vai acontecer, segundo oito entre oito analistas da cena política de Brasília. A se confirmar tal previsão coletiva, Cunha será mandato para casa sem nada, com as mãos abanando, e correndo todos os riscos de acabar dentro de uma cela de penitenciária. Maranhão, por sua vez, se também não renunciar ao cargo – certamente não o fará – continuará 1º vice-presidente da Câmara Federal até fevereiro do ano que vem. E se não for apanhado pela Operação Lava Jato – a denúncia que o alcançou até agora é inconsistente – e se não vier a ser condenado pela denúncia de que foi beneficiário direto de um esquema que desviou dinheiro de fundos previdenciários municipais – preservará seu mandato. E poderá surpreender o mundo concorrendo à reeleição em 2018.
PONTO & CONTRAPONTO
Edilázio Jr. ataca governador; Othelino Neto contra-ataca
A oposição está aproveitando a “crise” das emendas para intensificar ataques ao Governo. A metralhadora verbal da vez é o deputado Edilázio Jr. (PV), que em dois dias seguidos disparou chumbo grosso contra o governador Flávio Dino (PCdoB). O deputado verde fez dois discursos contundentes nos quais atacou o governador em todos os vieses, chamando-o de “incompetente” no plano administrativo e de “despreparado” no campo político. No primeiro discurso, mais longo e mais agressivo, feito na quarta-feira, focou a corrida sucessória de São Luís, criticando o governador por dar apoiar o projeto de reeleição do prefeito Edivaldo Jr., sem dar atenção aos demais aliados que também disputam a Prefeitura, no caso a deputada federal Eliziane Gama (PPS) e dos deputados estaduais Wellington do Curso (PP), Eduardo Braide (PMN) e Bira do Pindaré (PSB). Com habilidade, o deputado do PV tentou construir a ideia de que o governador está usando seus aliados como peões no jogo eleitoral de São Luís com o objetivo de ajudar na reeleição do prefeito.
A pancadaria verbal incomodou primeiro o deputado Bira do Pindaré, que defendeu o governador com um discurso ameno, apenas apontando o que seriam equívocos do deputado Edilázio Jr.. Reação mais dura teve o deputado Othelino Neto (PCdoB), que de maneira contundente, mas sem alteração de voz, rebateu o discurso de Edilázio Jr. com uma indagação e em seguida com uma afirmação que desarmou o oposicionista. A indagação: por que Edilázio Jr. demonstrava tanta preocupação com os aliados do governador Flávio Dino que disputam a Prefeitura de São Luis? E ele mesmo respondeu: “É porque o Grupo Sarney está tão perdido que não consegue sequer encontrar um candidato a prefeito”. Referia-se à frágil pré-candidatura do vereador Fábio Câmara (PMDB).
PT vai definir seu futuro nas eleições em São Luís
O PT vai decidir neste domingo se lança candidato à Prefeitura de São Luís ou participará da corrida eleitoral na Capital agregado a uma coligação liderada por um candidato ligado ao campo político liderado pelo governador Flávio Dino. Se optar pela candidatura própria, o partido deverá optar entre o deputado estadual Zé Inácio, o deputado federal José Carlos e o advogado e professor Mário Macieira. A cúpula petista do Maranhão sabe que o partido não tem a menor chance numa disputa em São Luís, principalmente se a presidente Dilma Rousseff for defenestrada definitivamente do poder. Mas justificam o esforço em relação às eleições em São Luís dizendo que seu maior objetivo é reunificar o partido, que vem sendo minado há mais de uma década por uma divisão corrosiva n o Maranhão.
São Luís, 07 de Julho de 2016.