“Crise dos Áudios” causa guerra de versões e reduz a zero as chances de reconciliação na base governista

Carlos Brandão e Marcus Brandão rebatem declarações de
Márcio Jerry e Rubens Jr.; Ana Paula Lobato
manda o PSB desembarcar do Governo

Mesmo considerando o elevado grau de imprevisibilidade da política, e que no Maranhão boi voa até com asa quebrada nessa seara, como diziam raposas antigas como Lister Caldas, a chamada “Crise dos Áudios”, que fez romper os últimos fios de ligação entre o chamado Grupo Dinista e o governador Carlos Brandão (ainda no PSB), tornou inviável qualquer tentativa de reaproximar esses grupos. Isso significa dizer que o governador deve permanecer no cargo até o final do seu mandato, abrindo mão de chegar ao topo da sua carreira como senador da República, e com o desafio de eleger como sucessor Orleans Brandão (MDB), seu sobrinho e principal auxiliar. E nesse contexto enfrentará oposição cerrada do Grupo Dinista, que irá para a briga com o vice-governador Felipe Camarão (PT), do ex-prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahesio Bonfim (Novo), e, muito provavelmente, o prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD).

Além de ter causado o rompimento definitivo da base construída em 2014 por Flávio Dino, a “Crise dos Áudios” pode ter criado uma situação embaraçosa na boa relação do governador Carlos Brandão com o presidente Lula da Silva (PT). E isso torna inviável qualquer esforço conciliatório do chefe da Nação.

As manifestações de terça-feira foram iniciadas com o explosivo discurso do deputado Yglésio Moyses (PRTB) – franco-atirador que se apresenta como porta-voz da direita radical bolsonarista no Maranhão -, acusando o Grupo Dinista de tentar achacar o governador Carlos Brandão. Em seguida veio a reação, primeiro do deputado federal Rubens Jr. (PT), que fez um discurso indignado em que negou a acusação de chantagem e acusou pessoas ligadas ao Governo de promover uma farsa. Ratificado pela forte fala do deputado federal Márcio Jerry (PCdoB), ambos negando enfaticamente a suposta tentativa chantagear o governador Carlos Brandão. Ambos confirmaram a autenticidade dos áudios e acusaram o entorno do Governo de haver feito uma montagem fora do contexto.

Se durante a noite houve alguma tentativa de conciliação, essa fracassou totalmente, porque o dia de ontem foi marcado por diversas tomadas de posição que só confirmaram o racha.

Primeiro veio a nota do governador Carlos Brandão, que começou reafirmando sua parceria com o presidente Lula da Silva “sob qualquer circunstância”. O governador acusou dinistas de quererem mandar no seu Governo, e de terem “reação insana, agressiva, utilizando-se até de chantagens e barganhas nada republicanas”. Afirma que o que foi revelado nos áudios “já era sabido”, assinalando que tudo foi confirmado pelo deputado federal Rubens Jr.. O mandatário fecha sua nota afirmando: “Eu não gravei, meu governo não gravou. Eles se fizerem gravar. Agora temem os efeitos dessa exposição vexatória a que se submeteram, expondo nomes de outros níveis de poder”, numa referência indireta ao ministro Flávio Dino”.

Alvo maior da reação do Grupo Dinista, que o acusam de estar por trás das gravações, Marcus Brandão, irmão do governador Carlos Brandão e presidente regional do MDB, divulgou nota em que confirma o teor dos áudios e acusa Márcio Jerry e Rubens Jr. de criarem uma nova narrativa depois que o teor dos áudios veio a público. Marcus Brandão afirmou que uma guerra vinha sendo deflagrada comedidas judiciais e outras ações contra o governador Carlos Brandão. “O Maranhão inteiro sabe das pressões, tentativas de achaque, ameaças e de prática de chantagem” contra o governador”.    

Na sequência, a presidente estadual do PSB, senadora Ana Paula Lobato divulgou nota informando que a nova Executiva estadual do partido se reuniu e, por unanimidade, decidiu recomendar aos seus filiados que ocuparem cargos no Governo os entreguem. E concluiu: “O PSB do Maranhão reafirma o seu compromisso com a ética. O respeito às instâncias partidárias, e a defesa dos valores democráticos que orientam sua trajetória”. Curiosamente, a nota da presidente do PSB não se refere à “Crise dos Áudios”.

Formou-se a “tempestade perfeita” no tabuleiro da política maranhense, reduzindo a zero as chances de uma recomposição.

PONTO & CONTRAPONTO

Apontado como pivô da “Crise dos Áudios”, Dino afirma que está fora da política

Flávio Dino manda assessoria informar que ele
não não mais atua em política desde
que voltou a usar beca

Das notas divulgadas ontem sobre a “Crise dos Áudios, a mais emblemática saiu do gabinete do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal. Sem uma declaração dele, a nota foi divulgada por sua assessoria com o seguinte teor: “O Ministro Dino esteve na política até fevereiro de 2024. De lá para cá, ele virou a chave e está no Judiciário. Portanto, ele não trata mais sobre política. Ele só se manifesta em sessões do STF e nos autos dos processos que relata”.

A nota alveja todas as declarações que apontam o seu envolvimento direto na crise que separou o grupo que o seguia da aliança que ele construiu e que passou a ser comandada desde abril de 2022 pelo governador Carlos Brandão. Isso porque, de fato, desde o dia 22 fevereiro de 2024, quando se tornou membro da Suprema Corte, não existe uma única declaração do ministro Flávio Dino a respeito da política do Maranhão.

Desde então, os seus aliados mais próximos têm relatado o distanciamento em relação ao tema. Segundo alguns políticos que com ele estiveram depois da posse no Supremo, Flávio Dino reagiu com silêncio repentino e ostensivo quando lhe foi perguntado algo sobre a política maranhense. O próprio deputado Rubens Jr. relatou no seu discurso a resposta que ouviu de leem 2024 quando foi consultado sobre como agir nos primeiros sinais da crise que levaria aso rompimento do grupo com governador Carlos Brandão. “Estou fora. Isso agora é com vocês”. E diante da ponderação em relação a um processo por ele relatado envolvendo o governador Carlos Brandão, sua resposta foi fulminante: “Isso será resolvido nos autos”.

Em resumo: está ficando difícil acusar o presidente da 1ª Turma da Suprema Corte de ser o mentor da estratégia de pressionar o governador Carlos Brandão, com quem não troca uma só palavra desde alguns dias após a posse.

Clara Gomes declara apoio a Marquinhos para a presidência da Câmara de São Luís

Marquinhos recebe o apoio de
Clara Gomes com o aval de Osmar Filho

Não é um sinal forte de uma e reviravolta na corrida à Presidência da Câmara Municipal de São Luís, que tem até aqui o vereador Beto Castro (Avante) como favorito absoluto, mas a mudança de posição da vereadora Clara Gomes (PSD), que declarou apoio à candidatura do vereador Marquinhos (União), indica que pode haver alteração nesse cenário.

A manifestação da vereadora Clara Gomes declarando apoio ao candidato Marquinhos não foi uma decisão aleatória. Ela contou com o aval do deputado estadual Osmar Filho (PDT), seu marido e parceiro político, que exerceu vários mandatos de vereador por São Luís, foi presidente do parlamento municipal e conhece como poucos os caminhos da Casa e os meandros e os humores do parlamento municipal para se chegar ao comando daquela Casa legislativa.  

Em princípio, não há evidências de que a candidatura do vereador Beto Castro – que conta hoje com mais de 20 dos 31 vereadores, a começar pelo presidente Paulo Victor (PSB), seu principal avalista – sofra um processo acelerado de emagrecimento. Mas, a julgar pela crônica das eleições da Câmara Municipal, a declaração de apoio de Clara Gomes sugere que muita água ainda vai rolar pelos gabinetes do Palácio Pedro Neiva de Santana.

São Luís, 23 de Outubro de 2025.   

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *