A relação da Câmara Municipal de São Luís com o prefeito Eduardo Braide (PSD), que vinha ocorrendo na forma de uma medição de forças com variados graus de tensão, pode se transformar numa guerra política depois do pronunciamento feito pelo presidente do parlamento municipal, vereador Paulo Victor (PSDB), no qual ele chamou o chefe do Executivo de “covarde” e “palhaço”, afirmando também que ele “está brincando com a vida de professores”. O presidente do parlamento municipal foi além, afirmando existir na atual gestão municipal “uma quadrilha” que receberia “dinheiro de empresas”. E acrescentou que vai “mostrar quem é Eduardo Braide” durante uma CPI que está sendo proposta aos vereadores pelo vereador Beto Castro (PMB).
O discurso inflamado do presidente Paulo Victor – ele fez questão de falar na tribuna – foi uma reação a um movimento surpreendente do prefeito Eduardo Braide em relação ao Projeto de Lei que define regras para o pagamento de precatórios já liberados aos professores da rede de ensino da Capital. O projeto fora aprovado na semana passada, com emendas. O prefeito Eduardo Braide vetou as emendas. Na segunda-feira (06), os vereadores confirmaram todos os vetos, garantindo o PL na forma original. Algumas horas após a sessão em que os vetos foram confirmados ocorreu uma reviravolta: o prefeito Eduardo Braide surpreendeu a Casa ao encaminhar um novo projeto sobre o mesmo assunto, com modificações, inclusive com o acatamento de algumas emendas sugeridas e vetadas, e pedindo que a matéria fosse discutida e votada em regime de urgência. Apanhados de surpresa, os vereadores reagiram, mas respeitaram a prerrogativa constitucional do prefeito de São Luís.
A reação do presidente Paulo Victor, manifestada da terça-feira (07), foi diferente, mais forte e contundente: “Ele (o prefeito) utiliza a ferramenta política que lhe cabe e protela o pagamento como forma de deixar a sociedade de São Luís em choque com esta Casa. Este prefeito passa de bom moço, este prefeito covarde. Mas em breve eu mostrarei quem ele é. Esta CPI que os senhores estão assinando, mostrará quem é esta quadrilha que está na Prefeitura”. E deu um aviso claro e enfático: “Esta Casa não será mais usada como forma do prefeito ganhar likes e seguidores”.
Projeto dos precatórios e CPI à parte, o duro ataque do presidente Paulo Victor ao prefeito Eduardo Braide teve forte repercussão e certamente terá desdobramentos políticos. Isso porque, além das marchas e contramarchas que vêm alimentando a tensão na relação do Legislativo com o Executivo da Capital, a fala do vereador-presidente pode ter rompido, em caráter definitivo, todos os laços de uma convivência institucional que já vem tumultuada desde que vereador Paulo Victor assumiu o comando do parlamento municipal, deixando claro, em seus pronunciamentos, o seu viés oposicionista. Esse cenário se confirmou durante o período em que o presidente da Câmara se lançou pré-candidato a prefeito, e está sendo mantido agora, com ele fora da disputa pelo Palácio de la Ravardière. Está evidenciado, portanto, que o discurso do presidente da Câmara na sessão de quarta-feira foi bem mais que uma crítica eventual ao prefeito. Foi uma declaração de guerra.
Por temperamento ou por estratégia, é improvável que o prefeito Eduardo Braide parta para um embate direto com vereador-presidente Paulo Victor, revidando as palavras duras. O problema é que a CPI proposta pelo vereador Beto Castro, se aprovada e instalada, poderá ser um problema para o prefeito Eduardo Braide, à medida que, conforme o aviso dado pelo presidente da Câmara, os irmãos do chefe do Executivo municipal serão convocados para depor. E uma situação dessa natureza, em meio a um clima pré-eleitoral, pode gerar um desgaste incômodo no projeto de reeleição do prefeito de São Luís, que tem na lisura administrativa um ponto forte do seu discurso. E como a Câmara é uma Casa essencialmente política, o desfecho da crise pode ser o resultado de um amplo entendimento.
O fato é que o vareador-presidente Paulo Victor disparou um canhão na direção do Palácio de la Ravardière. Resta saber como será a reação, que não veio à tona até a noite de ontem.
PONTO & CONTRAPONTO
Conversas com Eduardo DP torna mais complicada a permanência de Juscelino Filho no Governo
Piorou consideravelmente a situação do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, diante da informação segundo a qual ele, como deputado federal, e o empresário Eduardo José Barros Costa, mais conhecido como Eduardo DP, teriam mantido uma “relação criminosa”, como atestariam gravações com conversa entre os dois no período de 2017 e 2020. Eduardo DP, como se sabe, é o dono da empreiteira que tem contratos milionários com a Codevasf, órgão do Governo Federal apontado como um suposto nicho de corrupção.
Juscelino Filho soube se segurar no comando do Ministério das Comunicações mesmo quando ele foi acusado de desvio com recursos oriundos de emendas parlamentares e a irmã dele, Luanna Alves (União Brasil), foi afastada da Prefeitura de Vitorino Freire. O presidente ouviu suas explicações e lhe deu a chance de permanecer no Governo, com a certeza de que não haveria novas revelações.
A informação liberada pela Polícia Federal contraria a versão do ministro Juscelino Filho, mostrando que sua relação com Eduardo DP evidencia crime. Vozes petistas berraram ontem tentando convencer o presidente Lula da Silva a mudar o ministro. Esse sentimento já ganhou até mesmo o União Brasil, partido do ministro, que já estaria sendo sacudido por setores que defendem a substituição de Juscelino Filho do Ministério das Comunicações.
REGISTRO
AML encerra ano do Bicentenário de Gonçalves Dias com lições e homenagens
Com quatro conferências e com a entrega de medalha comemorativa a um grupo de pessoas com representação cultural, a Academia Maranhense de Letras encerrou, terça-feira (08) a programação do Ano de Gonçalves Dias, comemorativo ao bicentenário do seu nascimento, durante o qual realizou uma série de eventos relacionados com o poeta, escritor e advogado caxiense Gonçalves Dias, considerado o pai do romantismo no Brasil e um dos mais importantes poetas de língua portuguesa.
Os palestrantes Aureliano Neto, Ana Luíza Ferro, José Neres e Lourival Serejo (presidente) abordaram diversos aspectos da obra e da trajetória de Gonçalves Dias, proporcionando aos presentes elementos fundamentais para a montagem de um painel rico em informações sobre o poeta caxiense. As quatro palestras proporcionaram a compreensão de que, além da força da sua poesia, o que o coloca no patamar mais alto da cultura poética nacional e da própria Língua Portuguesa, Gonçalves Dias foi um intelectual acima da média, estudioso da cultura dos povos originários e da fusão das três raças que resultou no homem brasileiro de hoje, e que morreu aos 41 anos deixando um legado que além da monumental obra poética, é composto de peças teatrais, contos, artigos, cartas e livros sobre os diferentes aspectos da vida e da gente brasileira.
Após as palestras dos quatro imortais, quem já conhecia Gonçalves Dias acrescentou informações e ampliou esse conhecimento. Os que por ventura não o conheciam passaram a conhece-lo e a compreender o seu gigantismo da literatura e na cultura do Brasil.
A AML homenageou com a Medalha do Bicentenário de Gonçalves Dias um expressivo grupo, que incluiu, por exemplo, o professor Ramiro Azevedo, a ex-procuradora geral de Justiça Elimar Figueiredo, o prefeito Benedito Coroba (Itapecuru Mirim) e o jornalista Clóvis Cabalau. Entre os homenageados, o autor desta Coluna, orgulhoso caxiense da gema, que divide a honraria com seus confrades da Academia Caxiense de Letras, todos com estatura cultural, reforçada pela condição de conterrâneos do grande mestre filho de português e cafuza e autor de poemas consagrados como “Canção do Exílio”, “I-Juca-Pirama”, “Os timbiras”, “Ainda uma vez, adeus”, entre muitos outros.
A Academia Maranhense de Letras honrou com grandeza e na medida certa o legado de Gonçalves Dias.
São Luís, 09 de Novembro de 2023.