Até aqui ocupando a liderança nas preferências do eleitorado para disputar a sucessão na Capital, a deputada federal Eliziane Gama (PPS) cometeu um erro político primário quando, acompanhada do vereador Fábio Câmara (PMDB), procurou ontem a promotora de Defesa do Consumidor, Lítia Cavalcanti, para manifestar apoio a um pedido de intervenção na Prefeitura de São Luís. O tal pedido de intervenção se baseia no não cumprimento, por parte da administração municipal, de alguns itens de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado pelo prefeito Edivaldo Jr. (PDT) com o Ministério Público com o objetivo de solucionar problemas que afetam gravemente o transporte de massa no maior centro urbano do Maranhão.
A ida da parlamentar do PPS ao gabinete da promotora de Defesa do Consumidor para reforçar o pedido de intervenção fugiu inteiramente ao padrão de ação política, principalmente quando o que está mesmo em jogo não é exatamente o sistema de transporte, mas a corrida sucessória na Capital. Nesse contexto, o objetivo real de Eliziane Gama não foi contribuir para obrigar o prefeito a cumprir o TAC destinado a melhorar o sistema municipal de transporte de massa, mas sim o de fragilizá-lo politicamente, de modo a estancar o crescimento dele na preferência do eleitorado. A prova dessa conclusão foi demonstrada nas duas pesquisas sobre a corrida sucessória na Capital, publicadas há menos de duas semanas.
Não se diga, aqui, que a deputada federal Eliziane Game tenha cometido uma falta grave, por exemplo, no campo da ética, não. Como parlamentar, ela tem todo direito de defender melhorias no sistema municipal de transporte coletivo, de cobrar ações que eventualmente não estejam sendo postas em prática pela Prefeitura com esse objetivo. Ocorre que entre a sua iniciativa e a suposta falha da administração municipal há uma série de dados a serem levados em conta, sendo o primeiro deles o fato de que ela é pré-candidata assumida ao cargo de prefeito de São Luís e tem como adversário principal exatamente o prefeito Edivaldo Jr.. E mais: depois de dois anos de poucas obras e muitos ajustes, a gestão municipal vem se movimentando intensamente nos últimos tempos, levando o eleitorado a reavaliar o desempenho do prefeito, o que é natural.
Eliziane Gama foi para a Câmara Federal com o aval de mais de 130 mil votos, credenciada, portanto, para falar alto em nome do Maranhão e se posicionar em lugar destacado no centro dos grandes debates nacionais. Encontrou fácil o caminho da tribuna, onde surpreendeu pela sua desenvoltura discursiva e caiu nas graças do já cansado comando do PPS, que lhe abriu caminho para que ela se mostrasse como sangue novo da legenda popular-socialista. Com clara competência, ela aproveitou todas as oportunidades, como na CPI da Petrobras, por exemplo. Fez o que tinha de fazer, e com eficácia parlamentar. Mas o desempenho não foi suficiente para estabilizar sua liderança folgada na corrida sucessória como mostraram as primeiras pesquisas. As pesquisas mais recentes mostraram que a roda gira, e nesse movimento, o prefeito Edivaldo Jr. vem descobrindo o caminho das pedras e fortalecendo o seu cacife para pleitear a reeleição.
É hora do debate político, da exposição de ideias e propostas, de os aspirantes a prefeito de São Luís apontarem o que está errado e, ato contínuo, dizerem o que deve ser feito para sanar o erro. A deputada Eliziane Gama sabe que frases do tipo “A população precisa de um transporte de melhor qualidade, que lhe garanta uma mobilidade segura, por preço justo” são refrãos manjados, que só fazem sentido se vierem acompanhados de uma proposta concreta, inovadora e viável para resolver o problema. E isso, infelizmente, ela não oferece. Daí não fazer muito sentido a parlamentar forçar a barra por pedido de intervenção quesó dará origem a uma briga judicial.
Com a inteligência política que tem, a deputada Eliziane Gama poderia tranquilamente ter evitado a polêmica atitude de se dirigir à Promotoria de Defesa do Consumidor para estimular uma medida extrema e polêmica contra o prefeito de São Luís. Afinal, a impressão que passou foi a de que, tendo sua liderança ameaçada pelo prefeito na corrida às urnas, ela quer golpeá-lo no tapetão. Mais saudável seria desafiar o prefeito para o debate em que prevaleçam ideias e não frases manjadas.
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PONTOS & CONTRAPONTOS
TAC já é velho
O Termo de Ajustamento de Conduta que a promotora Lítia Cavalcanti tenta transformar num pedido de intervenção na Prefeitura de São Luís é, na verdade, uma herança nascida ainda na gestão do prefeito Tadeu Palácio (PDT), que não o cumpriu, passando o abacaxi para o prefeito João Castelo (PSDB), que, o quanto pôde, resistiu assumir os compromissos alinhavados para melhorar o transporte de massa em São Luís. João Castelo se dobrou em 2011, puxando a bomba para suas mãos, não cumprindo muito do que estava escrito. A bomba caiu, finalmente, no colo do prefeito Edivaldo Jr., que assinou o TAC em 2014. Agora, três prefeitos depois e poucos itens resolvidos, a promotora Lítia Cavalcanti, estimulada pela deputada Eliziane Gama e pelo vereador Fábio Câmara – que também tem interesse na corrida sucessória de São Luís -, encaminha o pedido à procuradora Geral de Justiça, Cristina Rocha, a quem cabe denunciar o caso à Justiça.
Congresso em foco
Nenhum deputado federal do Maranhão apareceu entre os mais bem avaliados pelo já reconhecido prêmio anual do portal de notícias Congresso em Foco. A escolha é feita pelo voto direto e secreto de mais de 150 jornalistas que atuam na Câmara dos Deputados. O representante maranhense melhor avaliado é a deputada federal Eliziane Gama (PPS), que aparece em 24º lugar com sete votos. Depois dela vem o deputado Rubens Jr (PCdoB) em 64º lugar com dois votos, seguido de Cleber Verde (PR), Hildo Rocha (PMDB) e Júnior Marreca (PEN), todos com um voto. Em outras edições do prêmio, parlamentares maranhenses apareceram com destaque: Flávio Dino (PCdoB), Sarney Filho (PV), Domingos Dutra (PT), por exemplo. E o então senador José Sarney (PMDB) sempre aparecia entre os melhores colocados na categoria “mais influentes”.
São Luís, 18 de Setembro de 2015.