Não se discute que o Palácio do Planalto usou o poder em escala elevada para garantir maioria folgada e derrotar o parecer do deputado-relator Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) que recomendava enfaticamente à Comissão de Constituição de Constituição e Justiça (CCJ) e, por via de desdobramento, ao plenário da Câmara Federal, a aprovação do pedido de autorização, feito pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para processar o presidente Michel Temer (PMDB). O comando governista usou sem pruridos os meios legais que dispõe – como a liberação de emendas parlamentares, por exemplo -, não dando a mínima para a interpretação de que a liberação “é legal, mas é imoral”. Em meio ao clima definido como “toma lá, dá cá” que permeou os quatro dias de funcionamento da CCJ desde que o relator Sérgio Zveiter leu o seu controvertido parecer recomendando autorização para processar o presidente da República, os quatro deputados maranhenses que integram a CCJ – Rubens Jr. (PCdoB), Hildo Rocha (PMDB), Cléber Verde (PRB) e Juscelino Filho (DEM) – atuaram e votaram cumprindo a orientação dos seus partidos. Foram três votos contra o parecer do relator e um a favor.
O deputado federal Rubens Jr. votou contra o presidente seguindo rigorosamente a orientação do seu partido, o PCdoB, que faz oposição cerrada ao Governo Michel Temer e desde o primeiro momento manifestou apoio claro à denúncia formulada pelo procurador geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente da República. E diante da decisão do ministro-relator Edson Fachin de antecipar o pedido de autorização à Câmara, o deputado Rubens Jr., que é vice-líder da bancada do seu partido, manifestou-se a favor da autorização, por entender que a denúncia, que é baseada na gravação da conversa do delator Joesley Batista (JBF) tem consistência e deve ser apurada. Para Rubens Jr., o plenário da Câmara Federal deve aprovar o pedido e o presidente deve ser afastado por até 180 dias, tempo em que a denúncia por corrupção passiva e formação de quadrilha seja devidamente apurada. O deputado Rubens Jr. mostra coerência à medida que na terça-feira (11), como coordenador da bancada maranhense, esteve no Palácio do Planalto em audiência com o presidente da República para pedir a suspensão do desconto de R$ 244 milhões que deveria ser feito por conta de antecipação do Fundeb, no que foi atendido, mas não mudou seu voto contra o chefe da Nação.
Um dos mais ativos integrantes da bancada maranhense, o deputado federal Hildo Rocha tem se notabilizado por estar sempre na linha de frente das grandes batalhas travadas pelo PMDB, como expoente da ala sarneysista do partido. Foi assim quando o PMDB defendeu inicialmente o então presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha (RJ), de quem se tornou aliado próximo, mas de quem se afastou quando o PMDB orientou nesse sentido. Foi também inicialmente defensor da presidente Dilma Rousseff (PT) contra o projeto de impeachment, mas também dele se afastou seguindo orientação partidária. No caso do pedido de autorização para processar Michel Temer, tomou posição firme a favor do presidente, assumindo, de maneira aguerrida e determinada, o risco político de denunciar a suspeita de que a mão da Rede Globo estaria por trás do parecer do relator Sérgio Zveiter. Vai repetir o voto em plenário.
Um dos mais experientes e bem articulados membros da bancada maranhense, o deputado Cléber Verde (PRB) votou contra o parecer de Sérgio Zveiter e a favor do relatório do deputado Paulo Abi Ackel (PSDB), que recomenda a não autorização ao Supremo para processar o presidente da República. Conhecedor como poucos do caminho das pedras, participando sempre das decisões maiores da Câmara Federal. Ligado ao Grupo Sarney, mas com atuação política nitidamente independente, Cléber Verde desde o início de posicionou ao lado do presidente da República. A Coluna apurou que ele foi um dos articuladores pró-Temer dentro da bancada do partido e deverá também ajudar na articulação da votação no plenário, marcada para o dia 2 de agosto.
Cristão novo na vida parlamentar, o deputado Juscelino Filho votou a favor do presidente Michel Temer cumprindo determinação partidária. O DEM, seu partido, formou com o PMDB e o PSDB o núcleo básico de apoio ao presidente da República. O Democratas ocupa ministérios, entre eles a poderosa paste da Educação, sendo o ministro Mendonça Filho um dos membros mais influentes da equipe de Governo. Juscelino Filho se ligou ao ministro e foi essa ligação que garantiu que ele e o seu tio, deputado estatual Stênio Rezende, assumissem o controle de DEM no estado. Vai repetir o voto no plenário e será um dos coordenadores da bancada na votação decisiva.
Independentemente do que possa ter acontecido nos bastidores, os deputados maranhenses que integram a CCJ rigorosamente de acordo com as suas orientações partidárias.
PONTO & CONTRAPONTO
Os presidentes Sarney, Collor e FHC usaram fartamente os instrumentos de Governo para se manter no poder
Na luta pela sobrevivência como chefe da Nação, Michel Temer jogou o jogo que jogaram os presidentes José Sarney (PMDB), Fernando Collor (PRN) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para se manter no poder. Os registros jornalísticos dos três momentos de tensão e agitação política envolvendo os ex-presidentes mostram que eles não mediram esforços nem o uso dos recursos ao seu alcance para alcançar seus objetivos, tendo sido os três acusados duramente de terem usado meios legais, porém imorais, para dobrar o Congresso Nacional.
José Sarney travou uma luta dura para se manter no poder. Ele foi eleito para governar seis anos, mas seus adversários na Assembleia Constituinte tentaram tirar-lhe dois anos. O presidente bateu pé e avisou que só abriria mão de um ano do seu mandato, fixando em cinco anos a duração do seu Governo. A tropa de choque do deputado Ulisses Guimarães (PMDB), comandada pelo senador-relator Mário Covas (PMDB), tentou derrubar Sarney, mas ele, forjado no jogo duro da política, usou os recursos ao seu alcance, entre eles a distribuição de concessões de emissoras de rádio AM, que viraram uma espécie de símbolo daquela guerra. José Sarney venceu, mas a grande mídia conseguiu fixar a impressão de que ele “ganhou mais um ano” usando tais recursos, uma leitura incorreta dos fatos.
O presidente Fernando Collor de Mello (PRN) usou todos os recursos que o Governo dispunha para evitar o impeachment. Seus aliados e agentes chegaram a distribuir dinheiro vivo a deputados federais para reverter a situação. Dizem que alguns membros da bancada maranhense teriam embolsado pacotes de cédulas novinhas em folha e votaram exatamente contrário ao acerto.
O presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que vive posando de vestal e dando lições de ética a Michel Temer, quase faliu o Governo para garantir a aprovação da emenda da reeleição. Milhões e milhões em emendas parlamentares foram liberados, convênios milionários foram firmados e liberados no ato com governadores e prefeitos influentes foram a parte visível do grande esquema montado por FHC para conseguir a aprovação da emenda da reeleição. Um escândalo que mais cedo ou mais tarde a História vai contar em detalhes, inclusive os mais sórdidos.
Wellington do Curso quer levar à frente CPIs para investigar Saúde e Futebol
O deputado Wellington do Curso (PP) fechou sua participação no semestre legislativo defendendo duas CPIs que ainda n.ao nasceram, dificilmente nascerão e se chegarem a nascer virão ao mundo natimortas. A primeira é a CPI da Saúde, de autoria do próprio deputado e por meio da qual ele pretende por a limpo tudo o que há de duvidoso e suspeito no Sistema Estadual de Saúde desde o Governo Roseana Sarney até aqui. Nos cálculos que fez, houve desvios de pelo “1 bilhão de reais”. Sabe que se a investigação andar ele comprará briga feia com a bancada de Oposição, especialmente o grupo parlamentar liderado pelo ex-deputado Ricardo Murad (PMDB). A outra é a CPI do Futebol, proposta pelo deputado Rigo Teles (PV) e na qual viu um filão eleitoreiro se investigações vierem a ser realizadas para valer, principalmente na Federação Maranhense de Futebol. Wellington do Curso, o futebol maranhense está contaminado por malfeitos que precisam ser investigados.
São Luís, 14 de Julho de 2017.