Ao participar do Lava-Pratos de Imperatriz e realizar um périplo por municípios da Região Tocantina, fazendo contatos e conversando, o vice-governador Felipe Camarão (PT) produziu a sinalização mais recente e enfática de que está decidido a estabilizar a sua relação política com o governador Carlos Brandão (PSB) e, nessa toada, conquistar o seu apoio para chegar ao Governo do Estado. Parece ter compreendido que o caminho é a montagem de uma chapa na qual ele seja o candidato ao Palácio dos Leões e o atual chefe do Executivo concorra a uma cadeira no Senado. A julgar pelos seus movimentos, o vice-governador parece convencido de que ele próprio tem de brigar pelo seu espaço e que a linha do confronto e da pressão não vai funcionar.
A lógica que parece mover o vice-governador é simples: atualmente, o seu aliado ideal para sair do Palácio Henrique de la Rocque e chegar ao Palácio dos Leões é o governador Carlos Brandão, que tem todas as cartas nas mãos. A principal delas é a decisão de renunciar em abril do ano que vem para concorrer ao Senado e abrindo caminho para que o vice se torne governador. Se essa crise se agravar e o governador decidir permanecer no cargo até o final, o vice-governador terá seus movimentos travados e não sairá de onde está. Ou seja, a candidatura de Felipe Camarão ao Governo só existirá se Carlos Brandão deixar o Governo em abril do ano que vem. Isso independente de ele ser apoiado pelo presidente Lula.
O segundo ponto é também muito claro. O governador Carlos Brandão é quem tem hoje poder de fogo político para aproximar o vice-governador Felipe Camarão dos segmentos políticos que fazem a ponte dos candidatos majoritários com o eleitorado, sendo os prefeitos peças-chaves nesse processo. Se não houver um pacto político e eleitoral firme entre o governador e o vice-governador, boa parte, se não a maioria ampla dos prefeitos, seguirá a orientação do governador Carlos Brandão, principalmente se a aliança for inviabilizada e ele decidir permanecer no cargo. Nesse caso, os ventos poderão soprar favoravelmente em favor do candidato que ele vier a lançar.
Esse cenário parece óbvio, e tudo indica que o vice-governador decidiu se posicionar e viabilizar a sua candidatura, certo de que apenas ser politicamente situado no dinismo e pertencer à ordem dos cristãos novos do PT não serão suficientes para leva-lo ao comando do Estado. Jovem, inteligente, tecnicamente competente, já tendo sido testado e aprovado como gestor, e bem relacionado com os mais diversos segmentos da sociedade civil organizada, Felipe Camarão tem as credenciais para pleitear a governança do Maranhão pelas urnas de 2026. Só precisa de um suporte político sólido para ter seu nome capilarizado no eleitorado. E esse suporte se chama Carlos Brandão.
A força política e o potencial eleitoral do governador Carlos Brandão pode ser medida com dados cristalinos. É bem avaliado em São Luís e tem o apoio total dos prefeitos de Imperatriz, Timon, Caxias, Bacabal, Santa Inês, Coroatá, Chapadinha, Barreirinhas, Pedreiras, Barra do Corda, Grajaú, Balsas e Paço do Lumiar, para citar apenas uma dúzia de grandes municípios, E como ele próprio disse na entrevista a O Globo, tem boas relações com católicos e evangélicos e é “assim” com o pessoal ao agro. Ou seja, chega com facilidade onde o vice-governador Felipe Camarão teria alguma dificuldade para chegar.
Nesse contexto, os movimentos recentes do vice-governador indicam que ele está tomando a dose certa do pragmatismo que todo político arrojado precisa para chegar onde pretende. No caso, Felipe Camarão parece ter chegado à conclusão de que o seu caminho para o Palácio dos Leões será muito mais viável numa dobradinha em que o governador Carlos Brandão seja candidato ao Senado. É claro que todo acordo pressupõe condições e concessões de parte a parte, e isso se resolve com as cartas sobre a mesa. E sem esquecer que o grande adversário é o prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD), que se fortalece a cada dia.
PONTO & CONTRAPONTO
Destaque
Sarney é homenageado no Senado como o grande condutor da transição para a democracia
O ex-presidente José Sarney (MDB) foi homenageado ontem pelo Senado da República em ato comemorativo dos 40 anos da volta do Brasil ao estado democrático de direito com o fim da ditadura militar, que infelicitara o país durante 21 anos. José Sarney se tornou presidente com a morte do presidente eleito Tancredo Neves, de quem era vice. Como o presidente, o líder maranhense conduziu, com habilidade e competência política, evitando conflitos que pudessem levar o país a um retrocesso. Hoje com 94 anos, o líder exibe um currículo que o tornou o político mais longevo entre os brasileiros, tendo sido deputado federal duas vezes, governador do Maranhão, senador da República por seis mandatos, tendo presidido a Casa por quatro períodos, e presidente da República por cinco anos. A homenagem do Senado o reconhece como o estadista que construiu as pontes que recolocaram o Brasil nos trilhos da democracia.
A homenagem ao ex-presidente da República lotou o plenário da Câmara Alta, com a presença de senadores, deputados federais e ministros de tribunais superiores, como o Supremo Tribunal Federal. O senador-presidente Davi Alcolumbre (União/AP) entregou uma placa alusiva ao evento a José Sarney, que foi distinguido pelo senador Jorge Kajuru (PSB-GO), autor do requerimento que originou o ato, e pelo deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), sobrinho de Tancredo Neves. Foi ainda saudado pelo ministro Dias Toffoli (Supremo) e pelos senadores Rodrigo Pacheco (União-MG), Renan Calheiros (MDB-AL) e Eduardo Braga (MDB-AM) entre outros parlamentares que se manifestaram.
O que eles disseram sobre José Sarney:
Davi Alcolumbre: “Com serenidade e compromisso, garantiu a estabilidade do país, pavimentando o caminho para a Constituição de 1988 e consolidando as bases do Estado democrático de direito. O presidente José Sarney desempenhou um papel crucial em um dos períodos mais desafiadores e transformadores da história brasileira”.
Deputado federal Aécio Neves (PSDB): “À primeira vista, presidente Sarney, parece existirem dois Tancredo: um, extremamente ameno no trato e nas palavras; outro, corajosamente radical nas ações e nos gestos. A fusão dos dois fez um homem por inteiro, comprometido sempre com a ordem democrática, absolutamente leal aos compromissos assumidos. Honrando sempre a palavra empenhada, transformou-se num interlocutor necessário na cena política brasileira durante décadas”.
Senador Jorge Kajuru: “O então senador José Sarney foi peça-chave para a transição democrática e para o nascimento da Nova República. Ao romper com o extinto PDS, herdeiro da antiga Arena, partido que dera sustentação política ao regime militar, José Sarney se transformou no maior fiador da redemocratização, integrando a chapa presidencial de oposição ao lado de Tancredo Neves, outro homem público histórico, inesquecível e eterno. (…) Graças à sua apurada sensibilidade e incomparável experiência política, Sarney logrou realizar uma transição sem traumas para a vida democrática”.
Senador Renan Calheiros (MDB): “José Sarney, digo absolutamente sem hesitar, é o pai, o coração e os olhos da democracia brasileira moderna. Sem ele não teríamos chegado aqui com nossas instituições fortes, estáveis, que já foram testadas inúmeras vezes, esbanjando vitalidade. Sem ele, seríamos ainda uma republiqueta caótica e atrasada”.
Senador Rodrigo Pacheco: “Presidente Sarney, ao longo desses anos e dessas décadas, se confunde com esse processo de amadurecimento democrático que vai, repito, desde a interrupção do momento e da fase ditatorial, mas que passa por uma promulgação de Constituição, pela estabilidade monetária com o plano real, que passa por políticas sociais, para se conferir cidadania e o mínimo de dignidade à pessoa humana, de acordo com aquela Constituição que V. Exa. ajudou a conceber. Então, V. Exa., Presidente Sarney, pode ter o sentimento absoluto de dever cumprido pelo que prestou a esta nação ao longo dessas décadas.
Senador Eduardo Braga (MDB/AM): “Sua coragem e determinação, sem valentia, mas com perseverança, Presidente Sarney, nos garantiram a Constituição cidadã de 1988, consolidando não só a retomada das eleições diretas para todos os níveis em nosso país, como também os direitos e garantias individuais, abrindo o horizonte do país para outras conquistas”.
Ministro Dias Toffoli (Supremo): “Vossa Excelência foi esse condutor tão paciente, tão resiliente, tão tranquilo, mas ao mesmo tempo tão firme, porque V. Exa. não deixou morrer em suas mãos a democracia. Se a democracia não morreu é porque V. Exa. teve a capacidade de sofrer todos os tipos de ataques, todos os tipos de críticas e todos os tipos de agressões, de maneira calma, pacífica, sem jamais erguer a voz. V. Exa. merece todos os elogios”.
Em Tempo: com informações da Agência Senado.
São Luís, 19 de Março de 2025.