O ato em torno da candidatura do deputado federal Duarte Jr. (PSB) à Prefeitura de São Luís, que trouxe ao Maranhão, na última quinta-feira (26), os ministros políticos do Governo Lula da Silva (PT), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Márcio Macedo (Secretaria-geral da Presidência da República), ao mesmo tempo em que foi um movimento positivo para a campanha de Duarte Jr., o ato produziu também dois recados eloquentes relacionados com o clima de rompimento que vem afetando seriamente a base governista no estado. O primeiro: o governador Carlos Brandão (PSB) tem o comando pleno do Estado e uma base política forte. O segundo: o presidente Lula da Silva tem o governador Carlos Brandão na conta de um aliado de primeira linha, que faz um bom Governo, e não avaliza os movimentos que estão arrastando o grupo alinhado para o rompimento.
Convocada para ser um ato de mobilização em apoio à candidatura de Duarte Jr. ao Palácio de la Ravardière, numa demonstração do seu prestígio no Palácio do Planalto, a reunião cumpriu essa finalidade. Mas, como era previsível, avançou e traduziu, com clareza solar, o afastamento entre o governador Carlos Brandão e o grupo fiel à orientação política do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A demonstração mais nítida e eloquente desse clima foi dada pela presidente da Assembleia Legislativa, deputada Iracema Vale (PSB), aliada de primeira hora do governador Carlos Brandão, que direcionou sua fala exatamente para esse ponto, declarando que o chefe do Executivo não quer briga, mas também não vai abrir mão do poder que detém como líder de um grande grupo, que representa larga maioria na Assembleia Legislativa, por exemplo. Ela definiu o chefe do Governo como articulador e conciliador: “Só briga com o governador Carlos Brandão quem quer, ministro. E briga sozinho”.
Os dois ministros referendaram as palavras da presidente da Assembleia Legislativa e deixaram no ar forte impressão de que o Palácio do Planalto comunga inteiramente com essas suas colocações. Nas conversas reservadas, os ministros Alexandre Padilha e Márcio Macedo fizeram gestões para que o grupo permaneça unido, informando aos líderes maranhenses que esse é o interesse do presidente Lua da Silva. O recado nesse sentido foi dado aos líderes da aliança partidária ainda mantida integralmente, como o presidente do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry – tido como líder do grupo dinista -, os dirigentes do PT, o presidente estadual do MDB, Marcus Brandão, coordenador da campanha de Duarte Jr. e apontado como um dos principais conselheiros do governador Carlos Brandão.
O ato político produziu o que os seus organizadores previram. O candidato Duarte Jr. recebeu a reafirmação de apoio integral da base governista a que pertence e também da corrente dinista. Ali ficou acertado que na semana decisiva da corrida eleitoral ele terá aumentado expressivamente o seu volume de campanha, num grande esforço para levar a eleição para um segundo turno entre ele e o prefeito Eduardo Braide (PSD). Os estrategistas da campanha do candidato socialista acreditam que, mesmo diante da vantagem quilométrica do prefeito Eduardo Braide, na eventualidade de um segundo turno, que avaliam como “uma nova eleição”, há uma possibilidade de reverter a tendência. O fato é que a reunião animou a campanha de Duarte Jr..
Os resultados concretos desses gestos conciliatórios só serão cristalizados depois das eleições municipais, quando forem avaliados os resultados, que indicarão quem levará a melhor, quem continuará na mesma e quem perderá espaço no xadrez da política estadual, que tem no apoio de prefeitos o seu combustível essencial para a grande corrida eleitoral de 2026. O importante agora, para todos os envolvidos na disputa municipal, é reunir todos os meios e tentar sair com bons resultados nas urnas.
PONTO & CONTRAPONTO
Cenário em grandes municípios é de algumas definições e várias incertezas
Faltando exatamente uma semana para as eleições, o cenário é diferenciado nos grandes municípios, com desfechos claramente desenhados e outros rigorosamente imprevisíveis.
São Luís e São José de Ribamar lideram o grupo de grandes cidades onde as disputas eleitorais parecem resolvidas. Na Capital, todas as indicações levam à reeleição do prefeito Eduardo Braide (PSD). Em São José de Ribamar, o quinto maior município maranhense, é quase certo que o prefeito Júlio Matos (Podemos), apoiado pelo deputado federal Fábio Macedo (Podemos), será reeleito.
O ranking da indefinição é liderado por Imperatriz, onde os números indicam que haverá segundo turno. Esses mesmos indicadores apontam o deputado estadual Rildo Amaral (PP), apoiado pelo ministro André Fufuca (Esporte) e pelo ex-prefeito Sebastião Madeira (PSDB), como garantido na segunda rodada. A luta dura está sendo travada pelo segundo lugar para o segundo turno: entre a suplemente de deputado federal Mariana Carvalho (Republicanos), bolsonarista apoiada pelo deputado federal Aluísio Mendes (Republicanos), e o deputado federal Josivaldo JP (PSD), que tem o apoio do ex-prefeito Ildon Marques.
O cenário é o mesmo em Timon, onde as pesquisas apontam uma leve tendência pró-Dinair Veloso (PDT), apoiada pelo PT nacional e pelo senador Weverton Rocha (PDT), e Rafael (PSB), apoiado pelo governador Carlos Brandão, que aposta alto numa virada de jogo. E em Caxias, onde é rigorosamente imprevisível o desfecho da disputa entre Gentil Neto (PP), apoiado pelo governador Carlos Brandão, pelo ministro André Fufuca, e pelos grupos Gentil e Coutinho, e Paulo Marinho Jr. (PL), que tem o apoio do deputado federal Josimar de Maranhãozinho (PL) e do senador Weverton Rocha.
A disputa em Codó ganhou força entre o prefeito Zé Francisco (PSDB), que parecia fragilizado e reagiu, e Chiquinho da FC (PT), cuja eleição, que muitos julgavam certa, não é mais uma certeza absoluta. E, finalmente, em Pinheiro, a corrida continua sendo liderada por André da RalpNet (Podemos), mas agora seguido de perto por Batista Segundo (PL) e Kaio Hortegal (PP). Observadores de Pinheiro não batem martelo, preferindo aguardar o pronunciamento das urnas.
Com apenas quatro candidatos, o debate na TV Cidade (Record) foi inócuo
Absolutamente inócuo o debate realizado na noite de sábado pela TV Cidade (Record) entre quatro dos oito candidatos à Prefeitura de São Luís. Sem a presença de Eduardo Braide (PSD), Duarte Jr. (PSB), Wellington do Curso (Novo) e Fábio Câmara (PDT), o debate aconteceu apenas com os candidatos Yglésio Moises (PRTB), Flávia Alves (Solidariedade), Franklin Douglas (PSOL) e Saulo Arcangeli (PSTU).
Por uma desafinada coincidência, os quatro candidatos que participaram foram exatamente os menos preferidos pelos eleitores, segundo as pesquisas feitas para medir as preferências do eleitorado. De acordo com a pesquisa mais recente, a da Quaest, contratada pela TV Mirante, juntos, Yglésio Moises, Flávia Alves, Franklin Douglas e Saulo Arcangeli não alcançam 5% das intenções de voto, a começar pelo fato de que os dois últimos simplesmente não pontuaram.
Os candidatos que participaram, mesmo visivelmente desanimados, tentaram dar alguma razão se ser ao evento da Record. Flávia Alves confirmou ser uma novidade política positiva, com um discurso coerente e uma visão surpreendente da cidade e seus problemas. Franklin Douglas se mostrou com o sempre: bem informado, equilibrado e fiel à decisão do seu partido de fazer nestas eleições uma campanha nacional pelo passe livre estudantil no transporte coletivo, projeto aliás, abraçado por Duarte Jr. e Saulo Arcangeli. Este último reafirmou a linha estatizante da esquerda radical, defendendo firmemente a criação de uma empresa municipal para cuidar do transporte coletivo, incluindo a desapropriação dos veículos das atuais empresas.
E, finalmente, Yglésio Moises, que tentou criar clima por causa de interpretação de um item das regras do debate, reclamou da ausência do prefeito Eduardo Braide, tentou provocar a esquerda, mas levou rebordosa, e aproveitou o espaço para declarar “amor” pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, “meu líder, meu guia”.
Nada além disso.
São Luís, 29 de Setembro de 2024.