O governador Carlos Brandão (PSB) fecha hoje o quinto mês do seu novo Governo no comando de um cenário político para muitos impensável se levado em conta o atual clima de tensão que divide o País, e que não tem paralelo nos tempos mais recentes da política estadual. Ele e seu Governo não enfrentam oposição na Assembleia Legislativa, onde pelo menos 40 dos 42 deputados se colocam como alinhados ao Palácio dos Leões, e mantêm uma convivência aberta e produtiva com a esmagadora maioria dos 217 prefeitos maranhenses. No que concerne à bancada federal, dos três senadores, apenas um, Weverton Rocha (PDT), não apoia o apoia, mas também não o hostiliza, e entre os 18 deputados federais, até agora nenhuma voz se levantou ostensivamente contra o chefe do Poder Executivo do Maranhão. Fora do tabuleiro da política, não há sinais de posições contrárias ao Governo estadual e ao governador na sociedade nas entidades civis, no empresariado nem no funcionalismo público.
Em resumo: mesmo com o governador e o Governo tendo adversários, que por enquanto preferem se manter sob o manto da discrição e da distância, o cenário político é de completa calmaria. Esse ambiente só é alterado pelos rumores de um suposto afastamento do governador Carlos Brandão do ministro Flávio Dino, da Justiça e Segurança Pública, mas que até agora não produziu um único dado concreto, não havendo, portanto, nenhum sintoma evidente de ruptura.
Quando saiu das urnas reeleito em um só turno, deixando para trás candidatos que apostaram alto num resultado contrário, o governador Carlos Brandão colocou em marcha um projeto político ousado, com o objetivo de construir uma unidade sem paralelo na história recente do Maranhão. Desde de José Sarney, nenhum governador atuou livre de oposição: o sucessor Antônio Dino, os eleitos indiretamente por indicação da ditadura (Pedro Neiva de Santana, Osvaldo Nunes Freire e João Castelo) e os eleitos pelo voto direto (Luiz Rocha, Epitácio Cafeteira, João Alberto, Edison Lobão, Roseana Sarney, José Reinaldo Tavares, Jackson Lago e Flávio Dino), todos governaram enfrentando oposição na Assembleia Legislativa e na bancada federal. Houve oposição, ora mais dura, ora mais branda, mas nenhum período de governo transcorreu sem adversários como agora.
O governador Carlos Brandão consolida o caminho aberto por Flávio Dino (PSB), que governou oito anos alvejado por oposicionistas, mas concretizou o fim da era em que a política maranhense foi marcada pela divisão entre sarneysistas e não sarneysistas. Como tudo o que nasceu sob o signo da ditadura militar, a política maranhense foi polarizada, sem a existência de outras vias. Agora, que o sarneysismo minguou, não sendo mais nem sombra do que fora até muito tempo, mas tenta sobreviver no que sobrou do MDB, a realidade política permite acertos que podem levar a um tabuleiro sem vozes desafinadas.
A eleição da deputada Iracema Vale (PSB) para a presidência da Assembleia Legislativa, e a do prefeito de São Mateus, Ivo Rezende (PSB) para a presidência da Federação dos Municípios Maranhenses (Famem), ambas por aclamação, sem votos contrários, e agora o movimento bem articulado para que o empresário Marcus Brandão, irmão do governador, assuma em breve o controle do MDB, num grande acordo com os Sarney, são fatos que mostram que o cenário político do Maranhão mudou radicalmente. E que o governador Carlos Brandão, auxiliado por políticos experientes como o ex-governador José Reinaldo Tavares, Sebastião Madeira e Luís Fernando Silva, vem sabendo construir e consolidar, sem confrontos, o seu espaço de poder nesse contexto.
A ciranda da política, porém, não para, e o seu giro costuma alterar realidades aparentemente consolidadas. Todos os sinais indicam que, pelo menos até aqui, o atual governador do Maranhão sabe disso é conhece as equações e fórmulas que podem ser usadas para evitar fissuras e rompimentos.
PONTO & CONTRAPONTO
Novo afastamento pode colocar ponto final da carreira de Felipe dos Pneus
Todos os sinais indicam que a carreira de Felipe dos Pneus como prefeito de Santa Inês chegou ao fim ontem, quando ele foi afastado pela segundas vez em dois anos e meio de governo acusado de corrupção. Isso porque o afastamento, pedido de novo pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), está fundamentado em argumentos muitos mais sólidos, que comprovariam que o prefeito de Santa Inês seria um dos líderes de uma quadrilha de corruptos.
O afastamento se deu na esteira da Operação Tríade, por meio da qual a Polícia Civil, sob a coordenação do Gaeco, cumpriu mandados em Santa Inês, São Luís, Raposa, Paço do Lumiar, São José de Ribamar, Pinheiro, Codó, Davinópolis, Governador Newton Belo e Teresina (PI).
Uma das promessas políticas do Maranhão, já tendo sido deputado estadual e alcançado a Prefeitura de um dos mais importantes e estratégicos municípios maranhenses, Felipe dos Pneus está sendo acusado de desviar dinheiro público em larga escala, por meio de obras com licitações fraudadas e outras tramoias criminosas. Depois da Operação Tríade, ele dificilmente permanecerá de pé no cenário político, podendo até correr o risco de ser impedido de concorrer à reeleição. Se conseguir, provavelmente será por garantia precária de liminares, o que pode complicar ainda mais a sua tentativa de sobreviver politicamente.
Há quem diga que só um milagre de Santa Inês salvará sua carreira política.
Declaração de Verde apoiando Braide abriu no MDB a discussão sobre sucessão em São Luís
A declaração de apoio do deputado federal Cleber Verde ao projeto de reeleição do prefeito Eduardo Braide (PSD), ao se filiar ao MDB e assumir o comando do partido na Capital, não foi comemorada nem criticada pela cúpula do partido. A indiferença, porém, é aparente, porque suas palavras repercutiram intensamente nos bastidores do partido.
De um modo geral, os chefes emedebistas concordam, em princípio, com o novo membro do partido, demonstrando simpatia pela ideia de reeleição do prefeito de São Luís. Ao mesmo tempo, avaliam que o deputado Cleber Verde se precipitou, perdendo a oportunidade de dar vazão à sua posição na mesa de decisões do partido.
No geral, avaliam que o momento foi inadequado, a começar pelo fato de que o MDB está tomado pelo clima de aliança com o governador Carlos Brandão que, até onde é sabido, não tem maior simpatia pela ideia de reeleição do prefeito Eduardo Braide. Nos mesmos bastidores, porém, corre que não será surpresa se o Palácio dos Leões a apoiar o prefeito de São Luís.
Uma fonte ligada ao deputado Cleber Verde disse que ele está consciente de que acertou na mosca ao fazer a declaração, que teve o mérito de abrir no MDB o debate sobre a sucessão na Capital. Faz sentido.
São Luís, 31 de Maio de 2023.