Witzel e Dino mostram que “DNA” da magistratura só vale para político com base ética

 

Wilson Witzel perdeu a chance de aprender com Flávio Dino como usar o “DNA” da magistratura na política

Comissão Especial da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro aprovou ontem, por unanimidade, a admissibilidade do processo de impeachment do governador Wilson Witzel (PSC), um ex-juiz federal de viés militar, que surgiu do nada e se transformou num fio de esperança no charco moral da política fluminense, venceu uma eleição improvável, mas que, um ano e meio após a posse, foi acusado de corrupção e afastado do cargo por 180 dias. O processo irá agora a plenário, e se receber votos favoráveis de 47 deputados, seguirá para o Judiciário, para a formação de uma comissão mista de desembargadores e deputados, que terá a palavra final: se concordar com a decisão do parlamento a favor do impeachment, Wilson Witzel será defenestrado do cargo. O escandaloso caso do Rio de Janeiro demonstra, com clareza solar, que ter origem na magistratura não garante que o político será um exemplo de correção ética. Muitos dos que levam para a seara da política partidária o “DNA” da magistratura como referência costumam se tornar, eles próprios, referências. Outros o negam.

O governador Flávio Dino (PCdoB) é um caso exemplar, sob todos os aspectos: deixou a estabilidade e o prestígio da magistratura federal, que poderia levá-lo a um tribunal superior, para mergulhar sem volta na política partidária e encarar as urnas. Diferentemente de outros que entraram na política por portais pouco recomendáveis – caso de Sérgio Moro, um cidadão sem feição ideológica, que usou a magistratura em favor do projeto Bolsonaro, ganhou o Ministério da Justiça e atuou mirando ser seu sucessor -, Flávio Dino tem origem política clara. Militante de esquerda no movimento estudantil, exerceu a magistratura federal na estrita linha da lei, e quando julgou que havia chegada a hora, pediu demissão, assumiu sua condição ideológica e partidária e encarou as urnas, elegendo-se deputado federal em 2006 e exercendo o mandato com dignidade política e competência técnica exemplares, como ficou demonstrado na relatoria da Lei da Ficha Limpa. Antes de chegar ao Palácio dos Leões, amargou dois tropeços “educativos” nas urnas: não alcançou a Prefeitura de São Luís em 2008 nem o Governo do Estado em 2010.

Os dois infortúnios eleitorais foram usados como ensinamentos. Entre 2011 e 2014, mesmo sem mandato, Flávio Dino fez política integral, macro, intensa, percorrendo o Maranhão, ouvindo o cidadão e expondo suas ideias, preparando-se para o grande voo de 2014, quando chegou ao Palácio dos Leões com votação consagradora. Nos seus quatro primeiros anos, cumpriu, com rigor surpreendente, todos os compromissos administrativos, éticos e políticos que constaram do seu discurso de posse, feito no final da tarde do dia 1º de Janeiro de 2015 da sacada do palácio dos Leões para uma multidão entusiasmada, mas atenta. O resultado se mostrou à medida que o tempo passou: Governo sério, gestão correta, compromissos cumpridos, credibilidade crescente, aprovação em alta e horizonte largo, tudo traduzido numa reeleição retumbante em 2018, levando junto os senadores Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (Cidadania).

Político por convicção, fiel à sua base ideológica e à sua linha doutrinária, e absolutamente identificado com o estado democrático de direito, mesmo com seus adversários mais conservadores tentando dar conotação negativa ao adjetivo comunista, Flávio Dino ganha projeção nacional, fala de igual para igual sobre o País e vem dando lições de gestão pública eficiente e sadia. O desempenho do Governo do Maranhão na assoladora invasão do novo coronavírus foi um dos melhores do País, enquanto que o Rio de Janeiro amargou mais um momento de desgoverno, roubalheira, denúncias, prisões, com a população mais pobre pagando preço inaceitável, tudo agravado pela revelação de que o governador Wilson Witzel estava por trás da bandalha.

Se, mesmo com falta de identidade política e mediocridade administrativa, o governador do Rio de Janeiro tivesse se mirado no exemplo do governador do Maranhão e respeitado o “DNA” da magistratura, certamente estaria firme no comando e entrando para a História como o governante que devolveria um padrão ético ao governo fluminense.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Candidatura do “apóstolo” Sílvio Antônio é jogada para manter o PRTB de pé

Sílvio Antônio e Ana Célia, oficial/PM escolhida como candidata a vice, entram na disputa como porta-vozes de Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão e Levi Fidelis

Rejeitado pela quase totalidade dos partidos e grupos políticos que atuam no Maranhão, em que pese o fato de alguns lhe darem apoio no Congresso Nacional, o braço político do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desembarcou na corrida sucessória de São Luís na última hora com o “apóstolo” Sílvio Antônio, utilizando o PRTB, comandado nacionalmente pelo indefectível Levi Fidelis, tendo hoje o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, como seu quadro mais importante. Silvio Antônio é um político inexpressivo, que deixou o PSL no rompimento do partido com o presidente Jair Bolsonaro, e trafega no meio evangélico pregando teses da extrema direita.

Seu discurso é idêntico ao de Jair Bolsonaro quando candidato, vociferando contra a corrupção, mas que vem mudando progressivamente, agora que o presidente e seus familiares são investigados por supostos malfeitos com dinheiro público. Ao falar sobre plano de Governo, Sílvio Antônio saiu pelo caminho mais fácil: “Nós vamos, primeiramente, combater a corrupção”. Mas não disse exatamente ao que estava se referindo, não apontou caso concreto nem suspeita, ou seja, não tinha o que dizer. E seguiu a trilha de outros candidatos escolhendo como vice uma oficial da PM Ana Célia, jovem, negra e politicamente atuante.

É uma candidatura que segue a orientação de cima para manter o PRTB ativo, com direito à Fundo Partidário e Fundo Eleitoral.

 

Fome volta a preocupar, mas o Maranhão investe bem em segurança alimentar

Restaurante Popular no Maiobão: refeições a baixíssimo custo para os mais pobres

O levantamento divulgado pelo IBGE deu conta de que a fome voltou a avançar no Brasil em 2018, depois de ter sido expressivamente reduzida nos Governos do PT. E segundo os números divulgados, o Maranhão lidera o ranking da insegurança alimentar em todo o País. Pode ser, mas, por outro lado, nenhum estado do Norte e do Nordeste tem investido tanto em segurança alimentar como o Maranhão nos últimos seis anos. Nesse período, além de alguns programas relacionados com o combate à fome, o Governo do Estado aumentou de seis para 52 o número de restaurantes populares em São Luís e no interior, garantindo à população mais pobre, o fornecimento, a baixíssimo custo, de milhares de refeições por dia. E com um detalhe importante: o padrão de qualidade das refeições é igual na Capital e no interior, um caso raro no País.

São Luís, 18 de Setembro de 2020.

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