Waldir Maranhão pode ter interinidade longa na presidência da Câmara, mas vai enfrentar problemas políticos sérios

 

waldir presidente
Waldir Maranhão fala na sessão em que votou contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, e jurou fidelidade a Eduardo Cunha, a quem substituiu ontem  

 

O deputado federal Waldir Maranhão (PP), que integra a bancada maranhense, alcançou o degrau mais alto da sua carreira política: assumiu ontem interinamente a presidência da Câmara dos Deputados, a Casa do Congresso Nacional que representa efetiva e institucionalmente o povo brasileiro, onde exerce o posto de 1º vice-presidente. Chegou ao topo no desfecho de um roteiro em que a instituição foi tocada à base de armações, intrigas, rasteiras, manobras e lances de esperteza, num jogo comandado pelo presidente, deputado Eduardo Cunhar (PMDB-Jr), que, segundo denúncia aceita pelo Supremo Tribunal Federal, manipulou as regras e não observou limites. Seu tempo na interinidade presidencial não está definido e vai depender da evolução dos fatos, e sairá para entrar para a história no mínimo como uma figura controvertida. Se tornou presidente da Casa, mas não será o primeiro na cadeia de substitutos do presidente da República num eventual Governo Michel Temer (PMDB), com a queda da presidente Dilma Rousseff (PT). Qualquer decisão que a maioria colegiada da Câmara vier a tomar em relação à presidência não o levará em conta.

Como presidente interino, Waldir Maranhão terá as prerrogativas presidenciais plenas: convocará e presidirá sessões, controlará o Diário da Câmara, concentrará poder quase absoluto sobre a pauta, tomará decisões maiores juntamente com o Colégio de Líderes e, quando for o caso, com a Comissão de Constituição e Justiça. Paralelamente a isso, terá de suportar as pressões que farão para vê-lo longe do cargo, no máximo retornando à 1ª vice-presidência, para dela se afastar definitivamente em fevereiro do ano que vem. E mesmo que esteja sendo bombardeado por uma série de ações na Justiça, nas quais é acusado de desvios graves, como fraude eleitoral, lavagem de dinheiro e envolvimento direto no escândalo de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, entre outros, pelo menos até aqui nenhum questionamento foi feito ao seu mandato de 1º vice-presidente.

Provavelmente por estar fortemente impactado pelo fato de ter sido tirado da cama para se tornar presidente da Câmara Baixa com a notícia da queda do seu líder Eduardo Cunha, o deputado Waldir Maranhão assumiu uma postura que misturou timidez com prudência. Falou pouco, evitou polêmica, fez, enfim, um esforço gigantesco para mostrar sobriedade e passar alguma impressão de que a presidência da Câmara dos Deputados está em boas mãos. Nas poucas palavras que pronunciou numa entrevista à Globo News, o presidente interino da Câmara Baixa disse que o momento exige “serenidade” e que o importante agora é “temperar” os fatos com o “tempero” da prudência, sugerindo também que a hora é a de união pelo país. Na falta de um discurso mais denso, seguro, com argumentos técnicos e políticos para explicar sua posição no epicentro da crise, para passar à opinião pública a ideia de que não é um deputado qualquer, recorreu a “remédios” anticrise dos quais não se lembrou quando abriu mão da sua posição de representante popular para se transformar num membro do bando parlamentar chefiado por Eduardo Cunha.

Veterinário por formação, professor universitário e tendo no currículo um mandato de reitor da Uema, com alguns resultados reconhecidos, mas muita confusão, e três mandatos parlamentares nos quais se destacou  pelos seus conhecimentos na área de Educação, o deputado Waldir Maranhão tornou-se conhecido dos brasileiros quando, ao votar contra o impeachment. Mas não pelo voto corajoso com uma inacreditável, mas pela espantosa e injustificada declaração pública de completa submissão a Eduardo Cunha, chamando-o de “meu querido presidente” e lhe prometendo “fidelidade eterna”, tendo como resposta um sorriso visivelmente irônico do então presidente. Se já era apontado diariamente pela imprensa como “homem de Cunha”, num processo que minou sua já rarefeita identidade política, a declaração de submissão ao chefe o marcou para sempre. Tanto que agora, como presidente interino da Câmara, além das dificuldades políticas que enfrentará, todas as decisões importantes que vier a tomar poderão ser interpretadas como “coisa do Cunha”.

Poucos acreditam que Waldir Maranhão conseguirá negociar uma solução para o problemão que lhe caiu no colo. Isso porque, além da sua fragilidade política, são muitos os querem vê-lo pouco tempo no comando da Casa. E nesse ambiente de fortes pressões, o melhor que ele pode fazer é convidar os líderes, discutir a situação e se render à decisão da maioria.

 

PONTO & CONTRAPONTO

Presidente interino da Câmara Federal vive situações nada agradáveis

O presidente interino da Câmara Federal, deputado Waldir Maranhão, está vivendo situações que provavelmente nunca imaginou viver. Algumas situações que o envolvem no cargo.

1 – O seu primeiro ato como presidente foi uma decisão que atraiu a ira dos deputados governistas, especialmente a turma da esquerda. Waldir simplesmente resolveu encerrar uma sessão animada pelas manifestações na tribuna. A decisão deixou mais de 50 deputados revoltados. Ciente de que pisou na bola, reabriu a sessão duas horas depois.

2 – Aconteça o que acontecer, o deputado Waldir Maranhão não será presidente da República, mesmo que por algumas horas. A explicação: ele não é o titular da presidência da Câmara. Com Eduardo Cunha afastado, o próximo substituto eventual do presidente da República é o presidente do Senado da república, no caso o senador Renan Calheiros (PMDB-AL).

3 – A Coluna apurou ontem á noite que o coando do PP estaria disposto a rever a mudança de comando do partido no Maranhão. Por votar contra o impeachment, Waldir Maranhão foi punido com a perda do comando do PP estado, cargo entregue ao deputado federal André Fufuca. É quase certo que Waldir terá de volta o comando do PP se sua permanência no comando da Câmara durar mais do que as cinco sessões inicialmente previstas.

4 – Se não houver uma mudança no cenário, o presidente interino Waldir Maranhão não usará os benefícios que o cargo proporciona, como a mansão do presidente da Câmara, por exemplo. Ocorre que Eduardo Cunha foi afastado, mas ainda não perdeu o cargo, devendo continuar morando na residência oficial, tendo o presidente interino de se conformar com seu apartamento funcional. Há, porém, quem veja a situação por outro ângulo, prevendo que Cunha cairá em pouco tempo, perdendo de vez a presidência e o mandato, perdendo também as mordomias do cargo.

5 – Independente do período a que ela se estenderá, a interinidade na presidência da Câmara Federal não prejudicará a condição de 1º vice-presidente da Mesa Diretora de Waldir Maranhão. Ele foi eleito para exercer esse cargo e seu mandato está assegurado até fevereiro de 2017, quando o coando da Casa será renovado.

6 – Além dos problemas que enfrentará na interinidade como presidente da Câmara, Waldir Maranhão terá de resolver incômodos problemas com a Justiça. Um deles é com a Justiça Eleitoral, que rejeitou suas contas de campanha de 2010, por não ter ele conseguido explicar a origem de R$ 600 mil entre os gastos. Além disso, ele responde a inquérito no Supremo tribunal federal no qual é suspeito de ocultação de bens em fundos de pensão municipais que movimentaram R$ 300 milhões. E para complicar ainda mais a situação, o presidente interino da Câmara está sendo investigado pela Operação Lava Jato como beneficiário direto de um esquema de corrupção na Petrobras que teria chegado a lhe repassar “mensalidades” de R$ 30 e R$ 150 mil.

Leões comemoram ascensão de Waldir Maranhão
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Levado por Flávio Dino e Márcio Jerry, Waldir Maranhão comunicou à presidente Dilma seu voto contra o impeachment

O Palácio dos Leões comemorou a queda de Eduardo Cunha, visto pelo governador Flávio Dino como um vilão. E festejou discretamente, sem qualquer alarde, a ascensão do deputado Waldir Maranhão à presidência da Câmara Federal. Por maiores que sejam as diferenças políticas que os separam, o governador mantém o presidente interino da Câmara, a sua base de apoio, em que pesem suas relações com o presidente afastado Eduardo Cunha. Waldir Maranhão tem sido parceiro atuante do Governo do Estado em Brasília. E deu a mais explícita demonstração de aliado do governador Flávio Dino quando, atendendo a apelo decidiu contrariar a orientação de Cunha e do PP e votar a favor da presidente Dilma Rousseff. Foi homenageado por isso em ato comandado pelo governador em São Luís.

São Luís, 05 de Maio de 2016.

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