Visita mostrou que Dilma precisa de Dino e vice-versa

 

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Dilma entre Dino e Edivaldo Jr.: afinidade, pragmatismo e muitos interesses em jogo 

De todos os movimentos que a presidente Dilma Rousseff (PT) fez no sentido de enfrentar a crise em campo aberto, o que foi mais enfático e lhe deu maior resultado prático e conforto político foi a visita que ela fez segunda-feira a São Luís, onde recebeu apoio efusivo do governador Flávio Dino (PCdoB) e do prefeito Edivaldo Jr. (PTC) e foi festejada por uma clack montada cuidadosamente por seus aliados no estado. Ao mesmo tempo em que entregou, de corpo presente e à distância, mais de três mil casas do programa Minha Casa, Minha Vida e inaugurou a estrutura do Tegram no Porto do Itaqui, a presidente afirmou que a crise é temporária e será superada e avisou que está pronta para enfrentar o que der e vier no cenário político, mais ainda depois de ouvir o discurso do governador maranhense, que bateu forte no que definiu como uma tentativa de golpe contra o mandato presidencial. A presidente viu também grupos partidários, a começar pelo PT, se esforçando para dizer-lhe que estão com ela – não se sabe até quando.

Mesmo sem ter no palanque um número expressivo de deputados federais maranhenses – dos 18, somente Rubens Jr. (PCdoB), José Carlos (PT) e Waldir Maranhão (PP) compareceram – e dos três senadores, apenas Edison Lobão se fez presente, a manifestação política do governador Flávio Dino contra a ameaça de impeachment e o aprofundamento da crise econômica deu à presidente a certeza de que ela ainda não está só. O discurso da presidente contra o que chamou de “vale-tudo” se casou perfeitamente com o do governador, que bateu forte na tentativa da oposição de aproveitar a crise econômica e os desdobramentos da Operação Lava Jato para derrubar o governo, rotulando o movimento de “golpista”.

O que se viu em São Luís foi uma fina sintonia na qual se misturam muita afinidade política e uma forte dose de pragmatismo, principalmente por parte do governador. Isso porque no contexto atual, a presidente precisa do governador e vice-versa. A necessidade de Dilma Rousseff é suporte para evitar o aprofundamento da crise política e atravessar as turbulências da crise econômica e, assim, recolocar o país nos trilhos e salvar o seu mandato. A necessidade de Flávio Dino é fazer do Palácio do Planalto um parceiro sólido, que lhe abra as portas e os cofres da Esplanada dos Ministérios e lhe assegure os recursos que precisa para viabilizar o seu programa de governo. Na dimensão política, Dilma precisa de Dino para reconstruir sua base de sustentação no Congresso Nacional, enquanto o governador depende da boa vontade presidencial para levar à frente o seu projeto de poder.

No tabuleiro em que o governo Dilma Rousseff se arrasta quase sem credibilidade e sob forte risco, o discurso de Flávio Dino não podia ser outro. E as razões são óbvias: ele tem afinidade política e ideológica com o governo petista e não quer nem sonhar com a possibilidade de a presidente cair. O governador tem plena consciência de que se o desastre chegar a esse ponto, ele e seu governo só têm a perder. E a explicação é simples e irrefutável: num eventual governo de Michel Temer, o PMDB do Maranhão voltará com toda força ao poder em Brasília. E nesse cenário, Dino sabe, e ninguém duvida, que as portas do Palácio do Planalto e da Esplanada dos Ministérios seriam fechadas a cadeado para ele e seu governo. E no Maranhão, o que restou do Grupo Sarney ganharia uma forte injeção de ânimo para pensar em voltar ao poder. Tudo, portanto, que não interessa ao governador Flávio Dino, que trabalha politicamente para varrer o sarneysismo do mapa político maranhense.

O ato que marcou a visita da presidente Dilma Rousseff ao Maranhão entrará para a crônica política do país como o momento em que a chefe da Nação começou a pisar no acelerador para reverter a crise que ameaça derrubá-la. E nele o governador Flávio Dino deverá ser pintado com o protagonista. E o prefeito Edivaldo Jr., numa escala bem menor, também.

 

Rumores dão conta de pedido de prisão

contra Rícardo Murad, que nega e pede

informação ao juiz federal do Tocantins

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Murad reage a rumores de sua orisão

O mundo político foi surpreendido ontem pela informação segundo a qual o ex-deputado estadual e ex-secretário de Estado da Saúde, Ricardo Murad, teria sido alvo de um mandado de prisão expedido pelo juiz da 4ª Vara da Seção Judiciária Federal do Estado do Tocantins sob a acusação de ter cometido graves irregularidades na execução do programa Saúde é Vida, o mais importante e abrangente do governo de Roseana Sarney (PMDB).

A primeira versão, que circulou por volta das 16 horas, informava que a prisão já tinha sido decretada e a decisão do magistrado envolvia também um irmão do deputado estadual Antonio Pereira (DEM), empresário do setor de saúde. Tal versão dava conta de que Ricardo Murad encontrava-se em Brasília, em local ignorado, enquanto um batalhão de advogados tentava reverter a situação.

A Coluna fez uma série de contatos com fontes ligadas ao ex-deputado, para obter informações mais precisas, mas todas elas, provavelmente aturdidas com a primeira versão, preferiram se manter em silêncio. No início da noite, o próprio Ricardo Murad confirmou os rumores, mas desmentiu, em mensagem no twitter, a versão inicial e informando que, diante dos rumores, partiu para o contra-ataque. Sua primeira providência foi oficiar, por seu advogado, ao titular da 4ª Vara Federal de Tocantins, colocando-se à sua disposição para qualquer esclarecimento, autorizando também a quebra do seu sigilo bancário e telefônico. Pediu também que se não houver pedido de prisão contra ele, que o magistrado expeça certidão negativa.

No pedido, feito de Brasília pelo advogado Fernando Tourinho Neto, Ricardo Murad justifica-o afirmando que tomou conhecimento, ontem, “por fontes muitíssimo bem informadas do Palácio dos Leões, da eminência de ser deflagrada com entusiasmo e conhecimento prévio do governador Flávio Dino e de seu irmão Nicolau Dino, subprocurador  geral da República, cujo objetivo seria  busca e apreensão em residências e empresas (Litucera, Lavatech, dentre diversas outras)”.

Até o fechamento da Coluna, exatamente à meia-noite, nenhuma informação nova chegou ao seu conhecimento, a não ser a avaliação segundo a qual o pedido de prisão de Ricardo Murad pode mudar radicalmente o destino do CPI da Saúde.

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

Lobão vaiado

lobao editadaO senador Edison Lobão pagou preço político e pessoal alto por integrar a comitiva da presidente Dilma Rousseff na visita a São Luis. Num ato em que todos os presentes eram governistas e aplaudiram entusiasticamente a chefe da Nação e o governador Flávio Dino, o senador, que já foi governador e ministro de Estado, foi estrepitosamente vaiado quando seu nome foi citado pela presidente. Citado na Operação Lava Jato como envolvido no esquema de corrupção que saqueou a Petrobras, mas que ele nega enfaticamente, Lobão amargou o constrangimento de ser vaiado. E ninguém saiu em sua defesa nem lhe deu socorro. Sentado na primeira fila das autoridades, Lobão ouviu os apupos sem esboçar qualquer reação. Parecia suspeitar de que as vaias foram ensaiadas.

 

Maranhão poupado

Muita gente estranhou o fato de que o senador Edison Lobão ter sido vaiado e o dewaldir 1putado Waldir Maranhão (PP), poupado. O ex-ministro de Minas e Energia foi vaiado por estar na lista dos suspeitos da Operação Lava Jato. O 1º vice-presidente da Câmara Federal, também citado no esquema como beneficiário de dinheiro sujo que irrigou a campanha do PP e com a cabeça na guilhotina da Justiça Eleitoral, sob a acusação de fraude na prestação de suas contas de campanha em 2010, também estava da primeira fila, foi ignorado pelos manifestantes. Para alguns observadores, a vaia que atingiu Edison deveria também atingir Waldir. Mas os manifestantes, ou quem os orientou, avaliaram que só o senador pemedebista a mereceu. Estranho.

 

São Luís, 11 de Agosto de 2015.

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