Tacada ousada: Andrea Murad ataca Flávio Dino e lança Ricardo Murad candidato a prefeito de São Luís

 

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Andrea Murad bate o governo e lança Ricardo Murad a prefeito de São Luís

Sob fogo cerrado disparado pelo Palácio dos Leões, que o mantém sob pressão investigando supostos indícios de malfeitos na execução do programa Saúde é Vida no Governo Roseana Sarney (PMDB), o ex-deputado estadual e ex-secretário de Estado da Saúde Ricardo Murad (PMDB) deu ontem uma demonstração de que sua ousadia política é muito maior do que estimam seus adversários. Na esteira da decisão judicial de bloquear bens do ex-secretário para cobrir eventuais danos à coisa pública durante sua gestão à frente do Sistema Estadual de Saúde, a filha dele, deputada Andrea Murad (PMDB), surpreendeu o plenário da Assembleia Legislativa ao lançá-lo candidato a prefeito de São Luís nas eleições do ano que vem. E com um propósito provocador que escancara ainda mais a impetuosidade do ex-deputado enfatizado pela herdeira política: o de dar aulas de gestão pública ao governador Flávio Dino (PCdoB).

Na maior parte do seu discurso de mais de 20 minutos, a deputada Andrea Murad deu tom de denúncia ao que define como “perseguição” do governador, primeiro ao ex-secretário da Saúde, e depois a ela própria e ao seu parceiro parlamentar, o deputado Souza Neto (PTN). Numa catilinária em que alternou ataques de zanga, de fúria e de ironia, a deputada falou mal da CPI, tentou atrair deputados governistas para sua seara política, chamou o governador do Estado de “doente” e “tirano”, por, segundo ela, “perseguir” o ex-secretário de Saúde. “O governador está frustrado por não ter podido prender Ricardo Murad. É o sonho dele”, declarou a deputada, avisando que vai continuar batendo forte no governo “todos os dias”.

Mas a chave do seu discurso inflamado contra o governo a deputada Andrea Murad deixou para o final: lançou o ex-deputado Ricardo Murad como candidato a prefeito de São Luís. E não o fez com um artifício para provocar o Palácio dos Leões, mas sim como uma decisão política acabada, com o seguinte argumento: “Nunca se deve subestimar um político com a capacidade de realização de Ricardo Murad. O povo vai dar a resposta (ao  governador) elegendo Ricardo Murad prefeito de São Luís!” E justificou a pré-candidatura do ex-secretário informando que tem recebido “muitas manifestações de apoio” por parte “do povo”, com quem tem feito contatos frequentes “pelas redes sociais”. E a julgar pelo tom das suas palavras, a deputada Andrea Murad exibiu nítida convicção de que a eleição do pai para a cadeira principal do Palácio de La Ravardière será uma barbada.

Se anunciou a pré-candidatura do pai para a Prefeitura de São Luís apenas para provocar o Palácio dos Leões, tudo bem, a estratégia política é dela e não se discute. Mas se o fez para tornar público um projeto político de fato, a deputada precisa agora dar muitas informações que o embasem. Para começar, Ricardo Murad encontra-se ainda filiado ao PMDB, e a julgar por acontecimentos recentes, suas chances de vir a ser o candidato do partido são mínimas. Ciente disso, ele preparou o PTN para abrigar-se, caso resolva sair do PMDB até o final de setembro, quando termina o prazo para filiação partidária de quem pretende disputar votos em 2016.

Se resolver a pendência partidária, Ricardo Murad encontrará pela frente uma série de obstáculos cuja superação não será nada fácil. O primeiro é que como candidato terá de enfrentar duas candidaturas muito fortes, a do prefeito Edivaldo Jr. (PTC), que a cada dia reverte um pouco da má impressão sobre sua gestão e ganha fôlego para pleitear a reeleição, e a da deputada federal Eliziane Gama (PPS), que lidera todas as pesquisas de opinião até aqui. Nesses levantamentos Ricardo Murad não passou até agora de 2% das intenções de votos, esmagados por uma rejeição estratosférica. Além do mais, até as convenções que definirão candidaturas, em junho do ano que vem, muita água vai rolar nas ações movidas pela Procuradoria Geral do Estado apontando-o com o autor de malfeitos na Secretaria de Saúde – uma delas, que tramita na Justiça Federal, já lhe bloqueou bens, na semana passada. Isso sem contar com a CPI da Saúde, que pode até não deslanchar, mas se o fizer poderá fazer um estrago dos grandes na imagem do ex-secretário da Saúde.

O ex-deputado Ricardo Murad conhece como poucos o tabuleiro da política maranhense, personagem de primeiro plano que é nesse cenário desde que José Sarney assumiu a presidência da República em 1985. E mais do que isso, sabe que, sem a máquina estatal para movimentar, seu fôlego é curto. Isso pode significar que ele vai testar seu cacife numa cartada de risco total. Ou que está blefando. Os próximos lances desenharão melhor o anúncio da deputada Andrea Murad.

 

PONTOS & CONTRAPONTOS 

 

Nem venha

humberto 1O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Humberto Coutinho (PDT), continua dando provas de que os embates que travou ao longo do tempo o transformaram numa raposa experiente, que sabe se movimentar e livrar-se de provocações. Ontem, a deputada Andrea Murad, em dois momentos do seu discurso, jogou laços de provocação com o objetivo de colocar o presidente numa posição desconfortável. No primeiro, insinuou que a Assembleia Legislativa vai “pagar um grande mico” com a CPI da Saúde. E depois disse, dirigindo-se à Mesa, que o governador “quer calar a Assembleia”. Certo de que por trás das palavras havia clara artimanha política, o presidente Humberto Coutinho se manteve impassível, não deixando a provocação prosperar.

 

Será recado?

sarney 3A exemplo do que fez na edição de sábado, a Coluna volta a se surpreender com o que pode ser uma reviravolta temática nas crônicas  que o ex-presidente José Sarney publica na capa de O Estado do Maranhão. Há exatas seis semanas, período que com a proposta de pacto lançada pelo ex-governador e deputado federal José Reinaldo Tavares (PSB), o ex-presidente mudou radicalmente a temática dos seus escritos: de janeiro a junho, Sarney dedicou praticamente todas as suas crônicas a dar pancadas inclementes no governador Flávio Dino. Do final de junho para cá, o cronista politicamente implacável com adversários abandonou a política e surpreendeu seus leitores ao tratar de temas como os mistérios do Universo, a força da juventude, as agruras da velhice, entre outros. No último domingo, Sarney parece ter voltado para o seu mundo real reeditando crônica antiga sobre o homem como animal político. Que termina assim: “A política é, em síntese, a arte de harmonizar conflitos dentro de uma sociedade democrática. É o terreno da conciliação, de usar o possível para a busca da felicidade”. Será um recado?

 

São Luís, 18 de Agosto de 2015.

 

 

 

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