A crise que bombardeia as organizações que controlam o futebol mundial, incluindo a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), desencadeada na esteira de um megaescândalo de corrupção, e que começa a se espraiar pelo país, provocando um movimento de reação dos clubes, desembarcou ontem no plenário da Assembleia Legislativa. Num discurso pouco inflamado, mas recheado de informações e de recados diretos e indiretos, o deputado Sérgio Frota (PSDB), de longe o mais importante e bem sucedido cartola do futebol maranhense, previu que o futebol brasileiro vai passar por mudanças profundas em pouco tempo. E cantou a pedra: o caminho será a criação de ligas, para que os clubes saiam de vez da tutela da CBF e, no caso dos estados, das federações.
Enfático e com argumentos incontestáveis, o deputado, que preside o Sampaio Corrêa, observou que o escândalo de corrupção na Fifa aconteceu porque a organização não tem controle, uma vez que é formada por um grupo de confederações, estas sustentadas por federações, que por sua vez controlam os clubes. “Os nossos clubes tudo aceitam e nada apitam”, declarou, acrescentando que os clubes brasileiros não têm nenhum poder de decisão diante do controle férreo mantido pela CBF.
Essa realidade anacrônica, porém, começa a mudar, segundo o deputado Sérgio Frota. O bilionário escândalo de corrupção na Fifa, armado por chefões de federações nacionais e continentais, demonstrou que o modelo faliu. E mostrou também que os clubes nada tiveram a ver com isso, numa demonstração de que essas organizações agem à revelia de todos – clubes, atletas e torcedores, que são, de fato, os grandes agentes do futebol, mas que sempre ficaram à margem das decisões em seus países. Daí a existência fundamental das ligas, como as diversas que movem o cada vez melhor, mais festejado e mais lucrativo futebol da Europa. E incluiu nesse contexto os Estados Unidos, que em breve estarão entre os grandes do futebol mundial, e a Argentina com seus maiores clubes.
– O futebol brasileiro é travado. Nossos clubes não fazem parte do futebol mundial. Hoje, nossos clubes só são conhecidos por nós mesmos -, disse, culpando o controle da CBF por essa realidade. “Os nossos clubes são tutelados, arrebanhados por entidades e pessoas que não sabem nem o que é uma bola”, bateu Sérgio Frota, para acrescentar, em tom de quase sentença: “Um novo tempo começa. Por que já está mesmo na hora de o futebol brasileiro entrar na maioridade do futebol mundial”.
O consistente discurso do deputado-cartola-boliviano tinha uma explicação plena: ele havia sido informado de que, pressionado pelos clubes, o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, admitiu mudar as regras para que os clubes possam criar ligas nacionais, regionais e até estaduais. Além disso, estava informado de que já está em curso um forte movimento destinado a pressionar para que o presidente renuncie. E mais: a CBF realizará amanhã uma assembleia geral para mudar algumas das suas regras, entre elas a que fixa que em caso de renúncia do presidente, assume o mais velho dos cinco vice-presidentes.
O fato é que com o seu discurso o deputado-cartola Sérgio Frota desencadeou na tribuna o processo de mudança que deve atingir o futebol maranhense na esteira das transformações iniciadas com a estrondosa revelação do megaescândalo de corrupção na Fifa, a partir de investigações feitas pelo FBI (a polícia federal norte-americana) e pelo Ministério Público dos EUA.
Sérgio Frota fechou seu discurso com um recado direto e cristalino: retornará à tribuna, ainda nesta semana, para falar especificamente sobre o futebol no Maranhão.
PONTOS & CONTRAPONTOS
No banco da CPI I
Ontem à tarde, o presidente da CPI do Congresso Nacional que apura suspeitas de corrupção na CBF, senador Zezé Perrella (PDT-MG), declarou, em discurso no Senado, que a tentativa de mudar a regra é porque, se o presidente renunciar – e tudo indica que o fará -, o vice da Confederação mais velho é o presidente da Federação Catarinense de Futebol, que não faz parte da turma controlada por José Maria Marin e Del Nero, e que, se assumir a presidência, vai destampar a chaleira do esquema. O senador disse mais ainda: se os presidentes de federações votarem tais mudanças na assembleia de amanhã, ele convocará cada um para que se explique na CPI, ao vivo e a cores, para todo o país.
No banco da CPI II
A advertência feita pelo presidente da CPI do Futebol certamente alcançou o presidente da Federação Maranhense de Futebol (FMF), Antonio Américo Gonçalves (foto). Por dois motivos. Primeiro porque, se votar a favor da mudança na regra dos vices da CBF, será convocado pela CPI para explicar o seu voto e, na esteira dessa, ter de dar muitas outras explicações. E depois, segundo o presidente da CPI, a assembleia da CBF também vai decidir que a partir de agora o presidente só pode se candidatar para uma reeleição. Antonio Américo vem dando toda pinta de que pretende comandar a FMF com o mesmo espírito do seu antecessor, Alberto Ferreira, ou seja, indefinidamente.
Bom acordo
Depois de várias rodadas de negociações, a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, comandada pelo presidente Humberto Coutinho (PDT) (foto), firmou acordo com o Sindicato dos Servidores da Casa (Sindsalem), que garante uma série de vantagens aos servidores efetivos do Poder Legislativo, a começar pelos reajustes previstos no atual Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos e reajuste de 10,34% nas gratificações de chefia, percentual que também contemplará as perdas inflacionárias no período de 1º de maio de 2014 a 30 de abril de 2015. Outros ganhos: aumento de R$ 500,00 para R$ 625,00 o valor do ticket-alimentação. Mais do que isso: a partir de agora, os servidores receberão o ticket-alimentação durante os 12 meses do ano (antes o benefício era retirado nas férias), e 12 meses de plano de saúde. Prorrogação do concurso público por mais dois anos, a partir da dada de vencimento (outubro de 2015) e nomeação dos 17 excedentes até dezembro de 2015. O acordo, que prevê outras vantagens administrativas, foi festejado por deputados e funcionários.
São Luís, 09 de Junho de 2015.