Sem Dutra na Prefeitura e fora da disputa, Paço do Lumiar será palco de uma dura guerra pelo poder

 

Travando ainda uma luta pela vida, Domingos Dutra abre caminho para uma guerra implacável entre a prefeita interina Paula da Pindoba, Fred Campos e Inaldo Pereira

De todos os desafios que o PCdoB – de longe, hoje, o maior partido do Maranhão – enfrenta nos grandes municípios em relação à disputa por Prefeituras, o mais grave, e de solução mais complicada, é, sem dúvida, o que envolve a Prefeitura de Paço do Lumiar, o terceiro maior município da Ilha de Upaon Açu e o sexto na escala estadual. E a chave é a saúde do prefeito Domingos Dutra (PCdoB), que se transformou num grande mistério, e que tem sido mote de uma “guerra” familiar e que vem tornando incertos o seu retorno ao cargo e à corrida pela reeleição. Se Domingos Dutra, que se encontra em São Paulo em processo de recuperação, retornar ao cenário político com saúde para disputar a renovação do mandato, poucos duvidam de que ele será imbatível. Mas se, por outro lado, ele se recuperar sem poder continuar na Prefeitura nem disputar a reeleição, Paço do Lumiar será palco de uma guerra, a mais dura disputa eleitoral da região, com desfecho rigorosamente imprevisível. O futuro da Prefeitura de Paço do Lumiar é, por essa circunstância, uma preocupação central do PCdoB.

O mosaico de complicações começa com o fato de Paço do Lumiar ser o sexto maior município maranhense, que abriga mais de 120 mil habitantes e tem importância política destacada na Ilha. Depois, o município vinha sendo comandado pelo PCdoB, garantindo hegemonia governista na Ilha. E, mais importante, a Prefeitura estava sob o comando de Domingos Dutra, 63 anos, um dos mais destacados, respeitados e ativos membros da esquerda no Maranhão. À frente de uma gestão aguerrida e inovadora, ao mesmo tempo controversa devido à forte presença da primeira-dama Núbia Dutra – uma advogada de personalidade forte -, e bombardeada impiedosamente por adversários, e na qual vinha tentando dar respostas a cobranças que ele próprio fizera durante décadas, Domingos Dutra caminhava com segurança para a reeleição. Essa tendência e a situação administrativa sofreram reviravolta dramática na noite de 23 de julho, quando o prefeito sofreu um AVC, dando lugar à sua vice, Paula da Pindoba (Solidariedade).

O que se seguiu foi um enredo impressionante: reviravolta administrativa, guerra familiar com lances inacreditáveis, e um quadro que começou a ser desenhado na semana passada, com a remoção do prefeito, já lúcido e aparentemente em franca recuperação, de São Luís para São Paulo. A saúde do prefeito licenciado é o elemento chave para a corrida pela Prefeitura de Paço do Lumiar. E a motivação política geral é o poder de fogo daquela estrutura municipal, que neste ano teve suas contas irrigadas com nada menos que R$ 995 milhões em transferências (FPM, Fundeb e outras rubricas menos importantes), o equivalente a R$ 99,5 milhões por mês.

A dramática situação de Domingos Dutra acendeu o pavio de uma bomba no PCdoB, que de repente se deparou com a possibilidade de perder o controle de uma Prefeitura chave no seu projeto de poder. Uma situação mais agravada ainda pelo fato de ser Domingos Dutra, mais que um prefeito, um militante com amplitude de ação – foi um dos fundadores do PT -, um quadro que sempre foi muito além do mero interesse partidário, que tem na sua trajetória um lastro enorme e sólido de comprometimento com as lutas sociais e as campanhas da esquerda, sendo um dos políticos mais bem-sucedidos da sua geração. Seu afastamento do cenário transformou a corrida sucessória de Paço do Lumiar numa espécie de Babel de candidatos, na qual aparecem a prefeita interina Paula da Pindoba, o ex-prefeito Gilberto Aroso – que não pode ser candidato – Fred Campos, Inaldo Pereira, Karla Maria, Inácio Ferreira, Fábio Rondon e outros mais, gerando ambiente de incertezas quanto ao futuro do sexto maior município do Maranhão.

O fato concreto e indiscutível é que, por mais que se doure a pílula em relação ao prefeito Domingos Dutra, a impressão mais forte no momento é a de que Paço do Lumiar caminha para ser palco de uma guerra fratricida pelo poder, quebrando uma normalidade promissora que ali aterrissou com a eleição do ex-deputado federal em 2016. O PCdoB se prepara para ela.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Caixa gordo do PSL deve motivar bolsonaristas maranhenses a tentar depor Chico Carvalho

Chico Carvalho: deverá sofrer ataques fortes da turma ligada ao presidente Jair Bolsonaro

A crise que está debulhando o PSL nacional, com o grupo ligado ao presidente Jair Bolsonaro tentando destronar o fundador e presidente do partido, o deputado federal pernambucano Luciano Bivar, deve acirrar a queda de braço pelo controle da agremiação no Maranhão. No plano nacional, está claro que o presidente Bolsonaro e seu grupo querem mesmo é controlar o caixa da legenda no ano que vem, que será, como agora, o mais gordo de todos os partidos com representação no Congresso Nacional: R$ 102 milhões do Fundo Partidário e 150 milhões do Fundo Eleitoral, num total de R$ 252 milhões. Com um prefeito, um deputado estadual e alguns vereadores, o braço maranhense recebe cerca de R$ 100 mil por mês, o que dará o total de R$ 1 milhão em 2019, segundo uma finte do partido. No ano que vem, esse valor deverá subir para R$ 120 mil mensais do Fundo Partidário e será reforçado com pelo menos R$ 3 milhões do Fundo Eleitoral, totalizando uma irrigação de R$ 4,5 milhões na conta do PSL maranhense durante o ano das eleições municipais. O grupo bolsonarista do PSL maranhense não anda nem um pouco conformado com a permanência do vereador Chico Carvalho na presidência do partido, cargo que mantém há mais de uma década. Aliado de Luciano Bivar, Chico Carvalho está, como ele, determinado a resistir até o último cartucho. E com uma vantagem: os bolsonaristas do PSL maranhense são amadores demais.

 

Madeira pode ser candidato ou deixar o PSDB sem chance em Imperatriz

Sebastião Madeira: indeciso

O PSDB tem uma decisão difícil pela frente: lançar ou não o ex-prefeito Sebastião Madeira, seu secretário-geral, na corrida à Prefeitura de Imperatriz. O problema é que a decisão depende quase que exclusivamente de Sebastião Madeira, que governou o município entre 2009 e 2016, afirma ter mudado a face do município, mas contraditoriamente saiu desgastado, não elegeu seu sucessor e foi triturado nas urnas em 2018, com votação pífia para deputado federal, vitimado em parte por um desgaste que não consegue explicar e em parte pelo retumbante fracasso que foi a candidatura do senador Roberto Rocha (PSDB) ao Governo do Estado. Pesquisa recente realizada pelo instituto Econométrica mostrou Sebastião Madeira bem atrás dos candidatos que disputam a liderança, o deputado Marco Aurélio (PCdoB), que está na frente, e o ex-prefeito Ildon Marques (PSB), posicionado logo atrás. Se o ex-prefeito tucano decidir não se candidatar, o PSDB poderia ficar numa posição humilhante em Imperatriz, onde imperou por oito anos. Político tarimbado, Sebastião Madeira acha que ainda é cedo para decidir se será ou não candidato. Ele tem total poder de bater o martelo, mas sua decisão dependerá em parte do que vier a orientar o senador Roberto Rocha, que preside o partido no Maranhão.

São Luís, 27 de Outubro de 2019.

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