Sarney continua sendo voz influente e suas observações podem servir de conselhos para Michel Temer

 

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José Sarney: sabedoria e experiência em forma

De todas as verdades que sobrevivem no meio político brasileiro, poucos duvidam de que a mais consistente é a que aponta o ex-presidente José Sarney como um dos – ou o? – mais ativo e influente político do Brasil, mesmo já beirando os 90. O fim da sequência inacreditável de mandatos eletivos em 2015 – que poderá ser retomada nas eleições de 2018 – não o afastou do epicentro da vida política e partidária do País, ao contrário, parece tê-lo aproximado ainda mais das rodas de decisão, pois coincidiu com a chegada do PMDB ao poder. Uma prova de que Sarney está tão ativo quanto sempre foi o registro feito quinta-feira pela colunista de O Globo ????????, em nota sobre um jantar que reuniu, terça-feira, a cúpula do PMDB na residência da senadora tocantina Kátia Abreu (PMDB). De acordo com o registro, em meio a conversas sobre a situação que o Brasil vive no momento e da condução dada ao Governo pelo presidente pemedebista Michel Temer, o ex-presidente fez o seguinte comentário: “Se eu fizesse tudo o que os economistas quisessem, eu teria sido cassado”. Todos os que ouviram transformaram o comentário em conselho ao presidente Michel Temer.

O comentário do ex-presidente José Sarney foi feito a propósito da grita dos senadores contra o presidente Michel Temer. Eles avaliam que o presidente está tomando medidas muito duras e impopulares e que isso poderá prejudicar o desempenho dos candidatos do partido em todos os níveis. Concordam que para colocar a casa em ordem a receita tem de ser amarga, mas acham que em meio a essa dureza deve haver doses fortes de “ternura”, ou seja, medidas que agradem ao povão, onde está a base do eleitorado. Nesse sentido, pregam que o presidente Michel Temer não deve ouvir apenas os tecnocratas comandados por economistas, mas deve dar atenção às “ponderações” feitas por vozes aflitas do Congresso Nacional, dando uma tintura mais política ao Governo.

Atento a todos os movimentos que ocorrem em Brasília, ex-presidente José Sarney, que traz na biografia a trajetória do céu ao inferno no comando do Plano Cruzado, que levou o País à moratória, faz uma recomendação: antes de tomar qualquer decisão de envergadura, o presidente da República deve conversar com o Congresso. Isso porque ele sabe que as decisões técnicas são necessárias e eficazes, mas os resultados políticos que elas poderão produzir serão muito mais abrangentes se forem o resultado de um grande entendimento com o Congresso Nacional, a começar pelo fato de que, envolvendo Câmara dos Deputados e Senado, todos serão responsáveis pelo que vier, podendo colher os frutos dos resultados positivos e dividir os hematomas de eventuais desastres.

José Sarney conhece os dois lados da moeda. Ganhou status de semideus quando implantou o Plano Cruzado, passando à sociedade brasileira a ideia de que finalmente o País entraria nos trilhos de uma nova ordem. Mas, por se tornar refém de economistas, frequentou a calçada do inferno quando adotou o desastroso Plano Cruzado II, sem dar atenção aos alertas e sugestões feitos por vozes do Congresso e de outros segmentos da política, e cujo resultado foi que entregou o Governo ao presidente Fernando Collor de Mello, o fanfarrão alagoano que venceu a eleição batendo exatamente nos desastres ocorridos no Governo da Nova República. Quando do alto da sua experiência José Sarney recomenda a Michel Temer que converse mais com o Congresso, dita exatamente a receita que o presidente deve usar para enfrentar a crise com suporte político.

Não há quem não veja sensatez nas recomendações do velho, mas lúcido, político maranhense, que continua prestigiado e disputado como interlocutor, mesmo alvejado por incômodos revezes, como ser acusado de envolvimento num suposto esquema para minar a Operação Lava Jato.

Em Tempo: Pesquisa recente revela que nada menos que 78% dos eleitores do Amapá afirmam que votarão em José Sarney para o Senado, caso ele seja candidato nas eleições do ano que vem. Ele tem dito que já se aposentou mesmo e que não pretende se candidatar, mas quem o conhece de perto, garante que ele está se coçando.

 

PONTO & CONTRAPONTO

Parece claro que Edivaldo Holanda perdeu a vontade e a paciência de continuar remando contra a maré

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Edivaldo Holanda: gesto solitário

Teve repercussão maior do que merecia o gesto do deputado Edivaldo Holanda (PTC) de se afastar do bloco que dá sustentação ao governador Flávio Dino (PCdoB) alegando a necessidade de atuar de maneira independente na Assembleia Legislativa. Apesar das explicações dadas pelo parlamentar de que se tratava de um gesto pessoal, apolítico e que só objetiva apenas maior liberdade na sua atuação legislativa, uma rede de especulação agitou o meio político, vendo na mudança anunciada por Edivaldo Holanda uma crise de largas proporções nas entranhas do Governo Flávio Dino. Essa conclusão ganhou forma com a contribuição do próprio deputado, que em suas declarações usou sempre o tom de ironia, sinalizando que está mesmo se afastando do grupo liderado pelo governador.

O fato causou impacto no Palácio de la Ravardière, onde o prefeito Edivaldo Jr. (PDT), hoje apontado como o mais importante aliado do governador Flávio Dino, foi apanhado de surpresa, já que próprio Edivaldo pai informou aos jornalistas que não conversara com o filho sobre sua decisão. O prefeito de São Luís “escalou” alguns sondar o ambiente nos bastidores políticos e foi informado que a decisão do pai não causou nenhum estrago na base de sustentação do Governo nem nas relações dele, prefeito, com o governador.

Essa movimentação resgatou uma informação que parecia adormecida: Edivaldo Holanda nunca se deu bem com o governador Flávio Dino. As diferenças afloraram na campanha de 2012, quando julgou que o filho, então candidato a prefeito, estava abandonado pelo então deputado federal Flávio Dino, o mesmo acontecendo na campanha de outubro passado, quando, também pelo argumento de que o agora governador Flávio Dino não estava dando o apoio necessário ao projeto de reeleição do prefeito, gerou um forte clima de tensão nos bastidores da campanha, só controlado depois de muita conversa. Edivaldo Holanda também criticou o fato de que ficou sozinho na defesa do prefeito na Assembleia Legislativa enquanto adversários como Eduardo Braide (PMN) e Wellington do Curso (PSD) e outros nomes da oposição o bombardeavam diariamente na tribuna. Tudo isso embalou o anúncio de quarta-feira.

Alguns quiseram atribuir o afastamento ao fato de que Edivaldo Holanda descobriu recentemente que está com câncer, tudo indica que uma coisa nada tem a ver com a outra, pois o parlamentar aparenta bem estar físico e já deu demonstrações de que está encarando a doença com firmeza.

O que parece mesmo é que Edivaldo Holanda se deu conta de que não tem mais paciência nem necessidade de remar contra a correnteza. O filho está politicamente consolidado e ele tem coisa mais importante para fazer, que cuidar da saúde. E ponto final.

São Luis, 07 de Abril de 2017.

 

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