Antes de assimilar inteiramente o petardo disparado segunda-feira na sua direção pela Câmara Municipal com a derrubada dos 18 vetos por ele aplicados ao Plano Diretor, o prefeito Eduardo Braide (PSD) teve ontem sua armadura política duramente alvejada por conta da greve desencadeada por motoristas e cobradores, que deixou um exército de 600 mil trabalhadores e estudantes ludovicenses sem transporte. A gravidade da situação foi fortemente dramatizada pelo vereador Astro de Ogum (PCdoB), presidente da Comissão de Mobilidade Urbana, Regulação Fundiária e Ocupação do Solo Urbano da Câmara Municipal, que sentenciou: “São Luís está de luto, pois o transporte público acaba de morrer! E isso já era previsto. O osso não dá mais nem para a sopa, mas os empresários não o largam. Tem que ser tomada uma atitude!”.
O cruzamento de braços dos rodoviários se deu porque a Prefeitura deixou de usar dinheiro do contribuinte para subsidiar o custo do transporte. O prefeito Eduardo Braide passou a maior parte do dia tentando reanimar o “defunto”, mas o expediente foi fechado sem solução à vista.
E como não poderia deixar de ser, a greve virou munição pesada para os pré-candidatos a prefeito de São Luís. O prefeito Eduardo Braide foi duramente criticado por quatro aspirantes à cadeira que ele ocupa hoje, que o responsabilizaram inteiramente pela situação caótica a que São Luís está submetida desde ontem. O deputado federal Duarte Júnior (PSB), o presidente licenciado da Câmara de São Luís e atual secretário de Cultura Paulo Victor (PCdoB), e os deputados estaduais Carlos Lula (PSB) e Wellington do Curso (PSC) foram duros nas críticas, por meio das quais responsabilizaram inteiramente o prefeito pelo caos no sistema de transporte público da Capital causado pela greve.
Com a autoridade de quem disputou o cargo em 2020, o deputado federal Duarte Jr. disparou: “Lamentável! Já vamos para a terceira greve em menos de três anos de gestão. Não há nada pior do que um prefeito omisso”. Na mesma linha, o vereador licenciado Paulo Victor disparou numa rede social: “São Luís mais uma vez sem ônibus nas ruas. Prejuízo enorme para a população. A inércia e ineficácia da prefeitura no que diz respeito ao transporte público atrapalham a economia e o direito de ir e vir das pessoas. A passagem aumenta, mas os problemas continuam. Lamentável”. Os dois sinalizaram que vão continuar crivando o prefeito com críticas.
Outros petardos foram disparados da tribuna da Assembleia Legislativa por deputados que estão de olho no Palácio de la Ravardière. Carlos Lula (PSB), que incluiu os problemas de São Luís na sua agenda política, cobrou transparência: “A Prefeitura não pode ser refém das empresas de transporte, mas para isso ela tem que tomar as medidas necessárias, inclusive enérgicas, para evitar uma greve como essa. Não temos nenhuma transparência da Prefeitura de São Luís a respeito dos subsídios que ela paga. Precisamos saber o que aconteceu. Se o repasse deixou de ser feito porque os ônibus são velhos, pegam fogo ou quebram diariamente, eu concordo. A Prefeitura tem que dizer efetivamente onde e como esse dinheiro tem sido gasto e o que se vai fazer com essa situação”.
E Wellington do Curso (PSC) atacou: “São Luís amanheceu, mais uma vez, um verdadeiro caos. A população já vem sofrendo todos os anos com esse problema. É uma situação que não mudou nada desde a gestão anterior”. E questionou: “Onde estão as informações com relação ao investimento ou aos gastos da Prefeitura com o transporte público? Quanto se gasta de subsídio? Quanto é a conta da população? ”
Provavelmente, nenhum deles tem solução pronta para o problema, que vem de longe, mas eles se encontram em condições políticas de tentar colocar o prefeito de São Luís contra a parede e minar suas forças. O prefeito Eduard Braide, por sua vez, mesmo jogando em campo minado, sabe onde pisa e tem sempre uma carta na manga para virar o jogo. E tudo indica que dessa vez não será diferente.
PONTO & CONTRAPONTO
Dino e Brandão lançam hoje o Pronaci no Maranhão
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, e o governador Carlos Brandão (PSB) participarão hoje do lançamento do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci 2) pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública no Maranhão. No ato, que será realizado na Casa da Mulher Brasileira, serão entregues, em parceria com o Governo do Estado, equipamentos e serviços destinados a reforçar a segurança pública
Além da sua natureza institucional, revelando o bom relacionamento do Governo Federal, via Ministério da Justiça e Segurança Pública, com o Governo do Maranhão, o ato terá forte simbolismo político ao reunir o ministro e o governador num evento de total integração. A atuação deles juntos será um recado aos agentes que atuam nos bastidores com o propósito de fomentar uma briga que não tem razão de existir.
Até as pedras de cantaria da Praia Grande sabem que troca de comando no Governo do Estado produz tensões localizadas em pelejas por espaço de poder. E não poderia ser diferente com Flávio Dino e Carlos Brandão. A diferença agora é que os dois ocuparam seus espaços e andam muito ocupados para cair na teia dos fomentadores de uma crise dificilmente ganhará corpo.
Como já dizia o ex-deputado Lister Caldas, uma das mais felpudas e hábeis raposas e da política maranhense no século passado: Quem viver, verá.
Assembleia realiza debate sobre o uso medicinal da canabidiol
A Assembleia Legislativa deu ontem um passo importante na luta contra o preconceito e na defesa da saúde. Isso aconteceu num evento organizado pelo deputado Rafael Leitoa (PSB), que reuniu profissionais da área de saúde e representantes da sociedade civil para debater o uso de medicamentos à base de canabidiol (maconha). Na Assembleia Legislativa tramitam quatro projetos sobre o tema: o Projeto de Lei 001/2023, de autoria do deputado Rafael Leitoa, o de número 002/2023, da deputada Andrea Rezende (PSB), o PL 025/2023, do deputado Carlos Lula (PSB), e o PL 081/2023, do deputado Yglésio Moysés (PSB). “A ideia é anexarmos as quatro proposições e levarmos à votação em plenário”, disse Rafael Leitoa.
A reunião atraiu pesquisadores, usuários, operadores do Direito e representantes do Ministério Público Estadual e da Defensoria Pública, todos empenhados no aprimoramento dos projetos de lei que asseguram acesso a medicação à base de canabidiol. E os argumentos em defesa o uso da substância estão sustentados em pesquisas científicas que comprovam fartamente a eficácia dessa medicação.
Ricardo Monteles, pesquisador da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e membro da Associação Cultural de Pesquisa e Saúde com Cannabis (Acolhedeira), louvou a iniciativa do deputado Rafael Leitoa, definindo-a como “uma iniciativa salutar, um momento de confluência para garantir o direito à saúde”. E acrescentou: “Precisamos avançar na regulamentação do acesso à cannabis no Maranhão. Hoje, no Brasil, há centenas de milhares de pessoas sendo atendidas com a medicina canabinóide”.
A médica cirurgiã Thais Vasconcelos defendeu que “o Maranhão precisa enfrentar e buscar superar o preconceito, que acredito ser a maior barreira a ser enfrentada. Clinicamente, sobram evidências da eficácia terapêutica do uso da medicação à base de canabidiol”. O médico Paulo Fleury Teixeira também defendeu o uso de medicação à base de canabidiol afirmando ser “um recurso terapêutico de máxima segurança com uma atuação excepcional no sistema nervoso central, que não gera efeitos colaterais nem dependência”.
Dylson Bessa, 53 anos, tetraplégico, membro do Fórum Maranhense de Pessoas com Deficiência e Patologias, deu seu testemunho como usuário do óleo da cannabis. “O óleo tem melhorado muito minhas condições de saúde. Não há efeitos colaterais e não gera dependência. Sentia dores musculares terríveis. Minha qualidade de vida melhorou sensivelmente”, frisou.
Participaram do debate os deputados Neto Evangelista (União Brasil), Andrea Rezende (PSB), Carlos Lula (PSB), Yglésio Moysés (PSB) e Osmar Filho (PDT) pesquisadores, usuários, operadores do Direito e representantes do Ministério Público Estadual (MPE/MA) e Defensoria Pública (DPE/MA).
A deputada Andrea Rezende, que é odontóloga e ficou tetraplégica por causa de um acidente automobilístico em 2018, fez um chamamento: “Temos que envolver a sociedade nesse debate. Está mais que comprovado o quanto o uso medicinal dessa planta ajuda no tratamento de diversas doenças. Acho que esse é um caminho sem volta. Precisamos tornar essa medicação acessível a todos”.
São Luís, 26 de Abril de 2023.