O Grupo Sarney, que compreende a reunião de vários partidos, rascunhou ontem o seu rumo na corrida para a Prefeitura de São Luís ao receber festivamente a filiação da vereadora Rose Sales nos quadros do PV, que é o braço partidário liderado pelo deputado federal Sarney Filho. Esse rascunho ganhou traço de desenho quando o comando verde anunciou que Rose Sales deverá ser a candidata do partido à prefeita. Com a definição, o Grupo Sarney, que saiu fortemente desgastado das eleições gerais do ano passado, pode estar pavimentando dois caminhos para participar da corrida eleitoral na Capital. Um deles é fracionar a aliança tradicional, de modo a se fazer presente em várias frentes, e o outro é consolidar a pré-candidatura de Rose Sales em torno do grupo partidário formado por PV, PMDB, PTB, PSC, PSDC, DEM, entre outras legendas de menor expressão.
Com o desembarque no PV, a vereadora Rose Sales fecha um ciclo de indefinição durante o qual ela entrou em rota definitiva de colisão com o PCdoB, na esteira do seu rompimento com o prefeito Edivaldo Jr. (PDT) e, depois, do seu desencanto com o governador Flávio Dino (PCdoB), num processo que culminou com a saída do partido. Sem legenda e disposta a disputar a sucessão municipal, a vereadora fez uma longa e tortuosa via crucis em busca de um partido que a aceitasse com os seus valores políticos e lhe desse a oportunidade de representá-lo na disputa para Prefeitura de São Luís.
O passo inicial da atribulada caminhada de Rose Sales em busca de um partido foi filiar-se ao PP, comandado com mão de ferro no estado pelo deputado federal Waldir Maranhão, atual vice-presidente da Câmara Federal. A Operação Lava Jato, que apura o gigantesco esquema de corrupção na Petrobras, no entanto, revelou um PP politicamente sujo, por ter sido o mais voraz com o dinheiro desviado, tanto que 19 deputados, inclusive Waldir Maranhão, e um senador estão sendo investigados. Diante da situação cabeluda, a vereadora pulou fora da barca pepista, sendo em seguida assediada por vários partidos, mas fixou seu projeto no PMDB. Foram várias rodadas de conversas com o senador João Alberto, que chegou a avaliar a possibilidade de ela vir a ser a candidata do PMDB à Prefeitura ou, num projeto de aliança, indicá-la como candidata a vice. Não deu certo.
O PV foi o projeto político que mais a entusiasmou. Primeiro porque, dos partidos alternativos, ele é de longe o mais consolidado, e depois, trata-se de uma legenda com ideologia, doutrina e programa e com um projeto político coerente, equilibrado e voltado para causas nobres, a começar pela preservação do meio ambiente. No Maranhão, mesmo pertencendo umbilicalmente ao Grupo Sarney, o PV, sob o comando do deputado federal Sarney Filho, consegue manter uma linha política mais leve, o que o distancia do braço mais conservador do grupo liderado pela ex-governadora Roseana Sarney. Além disso, o PV maranhense é visto como o canal por meio do qual o sarneysismo tenta se reciclar, mostrar cara nova, tarefa hoje desincumbida pelos deputados Adriano Sarney e Edilázio Jr.
É nesse contexto de mudança que a vereadora Rose Sales desembarca no PV, onde, tudo indica, ganhará espaço para levar à frente seu discurso de oposição ao prefeito Edivaldo Jr. (PDT), de quem se afastou por razões até agora não muito bem esclarecidas, sendo a versão dominante a de que ela não teve o espaço que pretendeu na administração municipal.
Se confirmada candidata do PV à Prefeitura de São Luís, a vereadora Rose Sales terá pela frente outro desafio tão difícil quanto o de enfrentar o projeto de reeleição do prefeito Edivaldo Jr.: travar uma disputa dura, sem trégua, mas saudável, com a deputada federal Eliziane Gama, que deixou o velho e cansado PPS para embalar em São Luís a novíssima Rede Sustentabilidade criada por Marina Silva. O ponto central desse embate é que o PV e a Rede professam o viés ambientalista e devem usar o mesmo mote na corrida eleitoral. Será um duelo à parte, que poderá beneficiar o prefeito Edivaldo Jr., que já deu mostras de que está se preparando para uma campanha dura e difícil.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Sem tornozeleira
O ex-secretário-chefe da Casa Civil João Abreu não vai mais usar a tornozeleira que recebeu como uma das condições para ter sua prisão relaxada. Ontem, o empresário obteve da Justiça autorização para retirar a tornozeleira eletrônica que usava por determinação do desembargador José Luiz Almeida. A decisão foi tomada pelo desembargador Raimundo Barros, acatando argumento da defesa de que a medida era “extrema e descabida”. Barros se convenceu de que João Abreu é réu primário, se entregou à Polícia Civil quando sua prisão preventiva foi decretada, tem colaborado com a Polícia e não praticou nenhum gesto que pudesse ser interpretado como prejudicial às investigações. Além do mais, na liminar que concedeu o habeas corpus que relaxou sua prisão, João Abreu se obrigou a não sair de São Luís, entregar o passaporte para a Polícia, não fazer contato com os outros investigados e se apresentar em juízo todos os meses com um relatório das suas atividades. E teria de cumprir todas as exigências usando uma tornozeleira, para ser monitorado pela Polícia. As outras exigências continuam, mas agora sem o incômodo artefato eletrônico no tornozelo.
Carta solidária
Várias manifestações de solidariedade alcançaram o empresário e ex-chefe da Casa Civil no Governo Roseana Sarney. Agora partiu do empresário Edilson Baldez, presidente da Fiema e do Conselho Deliberativo do Sebrae no Maranhão, e um dos mais importantes líderes empresariais do estado. Ele emitiu carta aberta, de caráter pessoal, na qual manifesta apoio ao amigo, que foi preso acusado de receber propina no rumoroso e ainda não totalmente esclarecido caso do precatório da Constran. Segue, na íntegra, a carta de Edilson Baldez:
Venho, como amigo, prestar solidariedade a você que contribuiu de forma significativa à frente de instituições como a Associação Comercial do maranhão, Sebrae do Maranhão e Governo do Estado.
Ao longo da sua vida empresarial e política, o homem público João Abreu conquistou o nosso respeito e admiração. Sempre nos tratou com solicitude e elegância, ajudando a costurar importantes iniciativas em prol do desenvolvimento, reforçando a imagem de um gestor sereno, firme, ousado e aberto ao diálogo.
“Sabemos da sua seriedade, do seu compromisso com a coisa pública e da retidão como homem público, e lamento, juntamente com os meus pares, a forma como aconteceu esse episódio”.
Cordialmente
Edilson Baldez das Neves
São Luís, 02 de Outubro de 2015