Revelações atribuídas a Delcídio e coerção a Lula na Lava Jato deixam Flávio Dino e Grupo Sarney em clima de expectativa

 

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Dino e João Alberto preocupados com pressão sobre Lula

O terremoto político causado pelo vazamento do suposto depoimento do senador Delcídio do Amaral, ex-líder do PT, publicado pela revista IstoÉ, fazendo graves acusações ao ex-presidente Lula e à presidente Dilma Rousseff, agravado nesta sexta-feira pela 24ª etapa da Operação Lava Jato, tendo o ex-chefe da Nação, seus familiares e amigos próximos, estão repercutindo fortemente no Maranhão. Primeiro no Palácio dos Leões, onde o governador Flávio Dino (PCdoB), aliado de proa da presidente Dilma Rousseff, acompanha cada movimento com atenção cada vez maior. E, segundo, na cúpula do Grupo Sarney, mais fortemente no comando do PMDB, a começar pelo fato de que o presidente regional da agremiação, senador João Alberto, é o presidente do Conselho de Ética do Senado, onde Delcídio do Amaral será julgado em pouco tempo; e também pelo fato de que o senador e ex-ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, como a ex-governadora Roseana Sarney, ambos pemedebistas, estão sendo investigados.

No Palácio dos Leões, o governador Flávio Dino acompanha os fatos com atenção redobrada, e as razões para isso são várias e muito fortes. A primeira é que, como aliado da presidente Dilma Rousseff, a quem tem defendido, por acreditar que o processo de impeachment “é um golpe da oposição”. Uma fonte bem situada do governo disse à Coluna que o governador acompanha os acontecimentos “com preocupação”. O suposto depoimento do senador Delcídio do Amaral arrasta o ex-presidente e a presidente para o centro da do triturador, dando gás à oposição para returbinar o processo de impeachment. As mensagens do governador no twitter nesta manhã de sexta-feira revelam sua preocupação.

Numa das suas mensagens na rede social, o governador lembra que tem declarado apoio à Operação Lava Jato  e outras. “Contudo, abusos devem ser evitados”. Em outro posto, o governador, que foi juiz federal, afirma que “medidas coercitivas devem obedecer a princípio da proporcionalidade (necessidade). Não me parece o caso da condução coercitiva do ex-presidente Lula”. E completa o argumento num terceiro  post no twitter: “Se o Ministério Pública já diz possuir tantas provas, basta oferecer a denúncia  para que haja o direito de defesa e julgamento”. Ou seja, o governador continua enxergando excessos na no contexto da Operação Lava Jato. E não parece disposto a aceitar que a publicação da revista IstoÉ venha a prejudicar o Governo. Isso porque Flávio Dino sabe que a derrocada do Governo da presidente Dilma Rousseff e a eventual ascensão do vice-presidente Michel Temer serão desastrosos. Sabe que a queda de Dilma o deixará em situação política frágil, já que o substituto será o vice Michel Temer, o que na prática significa a volta do Grupo Sarney ao poder no Maranhão, o que, se acontecer, será desastroso para o Governo estadual.

No Grupo Sarney, em especial no PMDB, o clima é de forte expectativa e muita preocupação. O ex-presidente José Sarney trabalha com dois vieses, já que é aliado do ex-presidente Lula e da presidente Dilma; mas é também um dos caciques do PMDB, o que o coloca em posição confortável no meio da crise, já que a queda de Dilma Rousseff significará o fortalecimento do seu grupo no Maranhão embora a experiência recomende muita cautela nesse momento. Já o senador João Alberto se prepara para tempos complicados no comando do Conselho de Ética, que julgará o senador Delcídio do Amaral em meio à fase mais aguda da crise política. João Alberto tem manifestado preocupação com o clima no Senado e no Congresso Nacional, especialmente no Senado. O senador maranhense será grande responsável pelo processo contra o ex-petista, que já está denunciado no órgão do Senado. Há também no Grupo Sarney e no PMDB do Maranhão forte expectativa e, é visível, uma leve torcida para que o impeachment. E vale repetir a explicação: a queda da presidente Dilma será a ascensão do vice-presidente Michel Temer. Há também forte preocupação com os desdobramentos da Operação Lava Jato em relação ao senador Edison Lobão.

 

Michel Temer ignorou o “terremoto” que atingia Brasília quando fazia palestra na OAB em São Luís

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Temer com João Alberto, Roberto Costa e João Marcelo; com Fábio Câmara, e ouvindo Andrea Murad em São Luís

A bomba dispara pela revista IstoÉ, que começou a circular ontem, vazando o suposto depoimento do senador Delcídio do Amaral (ex-PT/MT), denunciando o igualmente suposto envolvimento do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff em também supostos esquemas para minar o andamento da Operação Lava Jato, para evitar que as investigações os alcançasse, repercutiu fortemente no PMDB do Maranhão, mas, curiosamente, o caso não foi tratado elo vice-presidente Michel Temer sua visita-relâmpago a São Luís na manhã de quinta-feira, para um evento do PMDB. O vice-presidente da República não tocou no assunto com jornalistas nem com o presidente do PMDB maranhense, senador João Alberto, que por acaso preside o Conselho de Ética do Senado da República, onde as bombásticas as revelações vão desaguar, cedo ou tarde.

Michel Temer aterrissou em São Luís pouco depois das 9 horas, seguiu para a sede da OAB, de onde saiu às 11 horas, seguindo para a residência do senador João Alberto, onde conversou com líderes pemedebistas, após o que, por volta do meio-dia, retornou ao aeroporto do Tirirical, de onde seguiu para Teresina. Acompanhado ex-ministros e ex-deputados federais e Eliseu Padilha, respectivos presidente e vice-presidente da Fundação Ulisses Guimarães, o cultural e mobilizador do partido, o vice-presidente preferiu fazer de conta de que nada havia de anormal no ar, enquanto os gabinetes e os salões dos três Poderes já começavam a pegar fogo em Brasília. Isso porque, no momento em que o vice-presidente se c fraternizava com líderes pemedebistas na residência do senador João Alberto, no Calhau, a presidente Dilma Rousseff lia a bombástica reportagem de IstoÉ na companhia do agora Advogado Geral da União (AGU), o ex-ministro da Justiça Cardoso.

Quem acompanhava a movimentação de Michel Temer em São Luís já sabendo do incêndio político ficou impressionado com o ar de indiferença do vice-presidente e dos ex-ministros em relação ao conteúdo da revista IstoÉ. Pareceu que estava alimentando uma estratégia, para não misturar as coisas. Sob suspeita de viver tramando contra a presidente da República, com o objetivo de assumir o comando da Nação caso ela seja catapultada do cargo, o vice-presidente certamente quis se manter distante da mega-confusão. Isso porque se o depoimento atribuído ao senador Delcídio do Amaral tiver algum fundo de verdade, as informações deverão virar nitroglicerina pura e impulsionar o processo de impeachment, que os líderes governistas consideravam a caminho do arquivo morto da Câmara Federal. Pode ser também que, numa hipótese muito remota, ao desembarcar em São Luís o vice-presidente ainda não soubesse do terremoto que acontecia em Brasília. Seria, de fato, surpreendente, pois o assunto já estava na rua desde quarta-feira, quando o comentaria da Rede Bandeirantes, Ricardo Boechat, revelou, em primeira mão, que IstoÉ anteciparia em dois dias a sua circulação por causa do suposto depoimento de Delcídio do Amaral. Impossível que o vice-presidente da república não tivesse conhecimento do assunto.

Na OAB, onde falou para líderes jovens do PMDB, comandados pelo deputado estadual Roberto Costa e pelo deputado federal João Marcelo, e por um grande número de advogados mobilizados pelo presidente regional da Ordem, Thiago Dias, o vice-presidente Michel temer, que é jurista de certo renome, falou da situação institucional do país, abordou a realidade política e partidária e defendeu a mobilização da Nação para assegurar a estabilidade das instituições democráticas, de modo a que as crises econômica e política enfraqueçam as bases da democracia brasileira. Ali foi efusivamente saudado e cumprimentado, principalmente por pemedebistas, a quem recomendou “união”.

Na residência do senador João Alberto, o clima foi mais descontraído ainda. Líderes pemedebistas, como o deputado federal João Marcelo, os deputados estaduais Roberto Costa e Andrea Murad e o vereador, que preside o PMDB em São Luís Fábio Câmara, todos manifestando disposição de fortalecer o partido no Maranhão, principalmente para as eleições municipais de outubro. O vice-presidente reafirmou o seu discurso de líder partidário e pediu a união do PMDB do Maranhão em torno de um grande projeto de devolver ao Brasil a normalidade política e a prosperidade econômica.

O vice-presidente Michel temer seguiu para Teresina deixando alguns pemedebistas mais atentos intrigados com o seu silêncio em relação à bombástica edição da revista IstoÉ.

 

PONTO & CONTRAPONTO

Vice-presidente esteve em São Luís durante três horas e não fez contato com o governador do Estado

O vice-presidente da República, Michel Temer, na condição de presidente nacional do PMDB, passou três horas ontem em São Luís e, até onde a Coluna pôde apurar, não fez um contato sequer com o governador do Estado, Flávio Dino (PCdoB). Se conversou com o chefe do Executivo estadual antes de chegar ao Maranhão, ou o fez em outro momento anteriormente, para explicar-lhe que sua agenda seria exclusivamente partidária e rápida – a permanência dele na Capital maranhense durou três horas -, tudo bem. Mas se o vice-presidente da República esteve em São Luís e foi embora sem fazer qualquer contato com o governador do Estado, as relações institucionais entre o Palácio do Buriti e o Palácio dos Leões estão gravemente desgastadas e precisam ser restauradas imediatamente. Nada a ver com a relação pessoal entre Michel Temer e Flávio Dino. Os dois são de partidos diferentes, que não se cruzam, e podem não ter afinidades ou não simpatizarem um com o outro. Mas mesmo assim, um é vice-presidente da República, que representa a Federação, e o outro governa um estado federado. Nada justifica, portanto, que o vice-presidente da República venha a São Luís e não tenha um contato com o governador do Estado, mesmo que um simples telefonema para cumprimentos. A Coluna não encontrou qualquer evidência de que houve um contato. Se houve, o comentário perde sentido, claro. Mas se não houve, fica registrada a lamentável gafe do vice-presidente da República.

 

São Luís, 04 de Março de 2016.

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