Resgate: Assembleia concede cidadania maranhense a Padre Josimo, 32 anos após o seu assassinato explosivo

 

Padre Josimo e o plenário da Assembleia Legislativo, que apoiou o projeto de Bira do Pindaré dando-lhe a cidadania

A Assembleia Legislativa aprovou ontem a concessão do título póstumo de Cidadão Maranhense a Josimo Morais Tavares, o Padre Josimo, um sacerdote paraense (Marabá) que entrou para a História das lutas sociais como herói e mártir ao ser assassinado em Imperatriz, no dia 10 de Maio de 1986, aos 33 anos, num crime de pistolagem que alcançou repercussão mundial. Ele foi vítima de fazendeiros e grileiros que atuavam na microrregião do Bico do Papagaio, então o mais explosivo pedaço do Brasil em matéria de conflitos agrários, onde atuava como coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), com ação intensa e desafiadora em favor de lavradores pobres, órfãos do Estado e vítimas daqueles grupos. Proposta pelo deputado Bira do Pindaré (PSB), a cidadania maranhense é concedida a Padre Josimo 32 anos após sua morte e tem o sentido de um resgate, não apenas como uma homenagem em si, mais que justa, mas principalmente pelo fato de lembrar que, mais de 11 mil dias depois do seu sacrifício, e de que, mesmo levando em conta a volta da democracia, a chegada da Constituição Cidadã em 1988 e de uma maior consciência política, a situação não mudou muito. Naquela região, agricultores sem terra continuam sendo explorados e assassinatos, como aconteceu no massacre de Eldorado de Carajás e o assassinato da missionária norte-americana Dorothy Sting, entre outros casos reveladores de que o Estado brasileiro continua incapaz de criar uma nova realidade fundiária nos seus oito milhões de quilômetros quadrados.

Os dois disparos que tiraram a vida de Pedro Josimo, feitos pelo pistoleiro Geraldo Rodrigues da Costa dentro da Mitra Diocesana, localizada na Avenida Dorgival Pinheiro, no coração da Princesa do Tocantins, a mando de um grupo de fazendeiros comandado por Geraldo Paulo Vieira, tiveram o poder explosivo de bombas poderosas. Aquele assassinato, ocorrido dentro da Mitra Católica, onde funcionava a CPT Araguaia-Tocantins, aconteceu em plena fase prévia das eleições de 1986, as primeiras no pós-ditadura, quando o Brasil, tendo à frente o presidente maranhense José Sarney (MDB) e sob as atenções do mundo, dava o segundo passo – o primeiro foi a eleição de Tancredo neves e José Sarney em 1984 – para restaurar a democracia na sua plenitude e que seria consolidado com a edição da Constituição Cidadã em 1988. Naquele momento, a América Latina vivia ainda o envolvimento direto de parte da Igreja Católica nas questões sociais, principalmente na questão agrária, por meio da Teologia da Libertação. Padre Josimo, identificado no meio rural como o sacerdote “das sandálias surradas”, era um símbolo dessa linha de interpretação do Evangelho, reforçando sua luta como coordenador da CPT e com uma forte ação pastoral baseada nos princípios enfáticos do cristianismo.

Padre Josimo sabia que, ao defender os oprimidos do Bico do Papagaio, uma região manchada por conflitos e violência, estava marcado para morrer. Tanto que num relatório que fez aos seus superiores depois do primeiro atentado, sofrido no dia 15 de abril, havia menos de um mês da tragédia, numa estrada do interior do Pará, quando seu veículo – uma velha Toyota azul – foi alvejado por quatro tiros, ele, que saiu ileso, escreveu: “Agora estou empenhado na luta pela causa dos pobres lavradores indefesos, povo oprimido nas garras dos latifúndios. Se eu me calar, quem os defenderá? Quem lutará a seu favor? Eu pelo menos nada tenho a perder. Não tenho mulher, filhos e nem riqueza sequer, ninguém chorará por mim. Só tenho pena de uma pessoa: de minha mãe, que só tem a mim e mais ninguém por ela. Pobre. Viúva. Mas vocês ficam aí e cuidarão dela. Nem o medo me detém. É hora de assumir. Morro por uma justa causa”.

O assassinato de Padre Josimo foi uma chibatada em Imperatriz, que viu reforçado o seu estigma de cidade onde a pistolagem dava as carta; foi um soco no estômago do Maranhão, que teve exposta e remexida sua ferida de estado mergulhado em conflitos agrários; e funcionou também como uma pancada no Brasil, cujo Governo que foi duramente criticado  mundo afora, a começar pela Santa Sé. Todos os efeitos danosos do crime invadiram, com força avassaladora, o gabinete do então presidente José Sarney, como líder brasileiro e maranhense. Essa circunstância mudou o curso da trajetória dos assassinatos no País, marcados pela morosidade da ação policial. José Sarney determinou que o próprio chefe maior da Polícia Federal, o então festejado e temido delegado federal Romeu Tuma, se mudasse para Imperatriz e comandasse pessoalmente as investigações. O empenho do delegado e dos seus subordinados foi tamanho que o crime foi esclarecido rapidamente, com a prisão do executor e dos mandantes. Todos foram julgados e condenados.

O crime abalou o cenário político daquele ano de 1986, porque aconteceu em meio a um processo eleitoral no qual Epitácio Cafeteira (MDB) e João Castelo (PFL) adicionaram o tema às suas campanhas e tornaram o embate decisivo para o Maranhão e para o País, quando as forças reprimidas durante a ditadura voltaram a se manifestar num País mergulhado em contradições, sendo a luta de Padre Josimo uma delas, que se tornou evidente com a sua morte. Os dois disparos, feitos com calibre 7.65, conseguiram também que o Governo de então acelerasse o processo de reforma agrária por meio de um amplo programa de desapropriações, muitas delas ocorridas no Bico do Papagaio e no Maranhão.

A iniciativa do deputado Bira do Pindaré, corretamente avalizada pela Assembleia Legislativa, tem muitos méritos, sendo o mais importante deles o alerta no sentido de lembrar aos maranhenses e brasileiros que, mesmo com os instrumentos que dispõe, o Estado brasileiro ainda não fez a reforma agrária que, se efetivada, já poderia ter colocado um ponto final nessa chaga, que continua produzindo e eliminando Padres Josimos País afora.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Corrida ao Palácio dos Leões terá mesmo seis candidatos

Flávio Dino, Odívio Neto, Ramon Zapata, Roseana Sarney, Roberto Rocha e Maura Jorge estão confirmados como candidatos ao Governo do Maranhão em Outubro

O Governo do Maranhão será disputado por seis candidatos: Flávio Dino (PCdoB), que busca a reeleição liderando uma aliança com 16 partidos; Roseana Sarney (MDB), que tenta voltar ao Governo liderando uma coligação de seis partidos; Roberto Rocha (PSDB), que se movimenta no comando de seis partidos; Maura Jorge (PSL) sem ninguém; Odívio Neto (PSTU), que vai à luta com o apoio do PCB; e Ramon Zapata (PSTU), que não fez aliança em nenhuma direção. A menos que aconteça o imprevisível e imponderável, todos os candidatos estão aptos a votarem e serem votados, e a previsão é que todos eles cheguem inteiros às urnas no dia 7 de Outubro. Haverá, claro, questionamentos em relação a vários candidatos, a começar pelo governador Flávio Dino, mas nada existe de concreto que possa impedir a sua candidatura. Na avaliação de um craque em direito eleitoral, a inelegibilidade do governador, determinada pela juíza Anelise Reginato, será dinamitada por falta de consistência. Assim, se não houver desistência, a corrida terá mesmo a participação dos seis aspirantes ao Governo.

Bandeira de Lula ficará com Flávio Dino no Maranhão

Flávio Dino vai com Lula da Silva na campanha ao Palácio dos Leões, Roseana Sarney também quer

A ex-governadora Roseana Sarney (MDB) está inclinada a associar seu nome ao do ex-presidente Lula da Silva (PT), mas está pressionada pelo poder de fogo do governador Flávio Dino (PCdoB), que tem uma enorme vantagem na relação política com o ex-presidente, a começar pelo fato de que o PCdoB está representado por Manuela DÁvila na chapa lulista como candidata a vice, o que dá ao governador legitimidade partidária para apoiar o ex-presidente. Além disso, Roseana Sarney já começa a receber pressões da cúpula partidária para entrar em campo apoiando abertamente o candidato do MDB, Henrique Meirelles. A emedebista enfrentará também a hostilidade de petistas que ainda não se conformaram com o fato de que Roseana Sarney articulou pesado no Congresso Nacional pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Ou seja, tudo indica que Lula só se fará  presente no palanque de Flávio Dino, e ponto final.

São Luís, 15 de Agosto de 2018.

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