PSOL, PSTU e PCB podem formar frente de esquerda e movimentar a corrida pelo voto em São Luís.

 

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Saboia, Pedrosa, Arcangeli e Silva são nomes para liderar a frente de esquerda

Os partidos de esquerda mais ideológica se preparam para se unir e formar uma frente com o objetivo de participar da corrida pelo voto nas eleições de outubro em São Luís. De acordo com o que foi publicado ontem pelo Informe JP, coluna política do Jornal Pequeno, escrita pelo experiente e bem informado jornalista Jorge Vieira, PSOL, PSTU e PCB estão negociando a formação de uma frente para lançar uma chapa com candidatos a prefeito e a vereador. O projeto eleitoral da chamada ultraesquerda se dá no momento em que esse segmento político passa por um processo com complicado de redução de espaço, devido à perda de prestígio da esquerda moderada liderada pelo PT, cujo projeto de poder encontra-se fortemente atingido por um mar de lama no Brasil e está desabando na América Latina.  A formação de uma frente para participar das eleições à Prefeitura e Câmara Municipal da Capital poder ser uma reação ao momento difícil e uma guinada pragmática visando ocupar mais espaço.

De acordo com esse projeto – cujo andamento foi confirmado por Luis Noleto, um dos chefes do PSTU -, nada está ainda definido, principalmente com relação a candidato a prefeito, havendo negociações em andamento. O grupo partidário dispõe de nomes de peso político para apresentar ao eleitorado. O mais destacado é o ex-deputado federal Haroldo Saboia (PSOL), cuja trajetória, que muitos consideram polêmica, manteve até aqui a coerência de se movimentar na direção da esquerda e com um lastro que o torna um dos políticos mais importantes surgido no Maranhão nos últimos 40 anos, tendo sido deputado estadual, deputado federal e constituinte e vereador de São Luís. Fiel aos seus princípios e objetivos como político, Saboia tem dito sempre que não faz política pura e simples, faz história.

A frente da ultraesquerda poderá lançar o advogado Luis Pedrosa, que representou o PSOL e ficou em terceiro lugar na disputa para governador nas eleições estaduais de 2014. Pedrosa teve um desempenho muito elogiado nos embates da campanha, principalmente nos debates, nos quais mostrou, sem tinturas, a dura realidade da maioria do povo maranhense e enfrentou com segurança os demais candidatos, principalmente Flávio Dino e Lobão Filho (PMDB).

Outras opções da frente de esquerda são Saulo Arcangeli e Marcos Silva, ambos do PSTU. Arcangeli já disputou três eleições majoritárias, sendo duas para governador, uma pelo PSOL e outra pelo PSTU, e uma para prefeito de São Luís pelo PSTU, o que o credencia como o nome que o seu partido poderá indicar para liderar a eventual frente de esquerda. Conta também com um dos mais experientes nomes da política estadual, o eletricitário Marcos Silva, que já contabiliza seis campanhas, a mais recente para senador pelo PSTU. Mas dificilmente Marcos Silva será candidato a prefeito, pois agora, num rasgo de pragmatismo surpreendente, o PSTU o quer candidato à Câmara Municipal de São Luís, pois tem possibilidade real de chegar lá.

Os três partidos têm em comum uma visão ideológica mais consistente, com base na qual pregam a adoção de um sistema socialista tecnicamente mais rigoroso, que inclua postulados clássicos do marxismo, do tipo “revolução do proletariado”, para a formação de um “governo de trabalhadores”, este com a tarefa de transformar as estruturas da sociedade de modo a possibilitar a implantação de um socialismo em estado puro. Claro que PSOL, PSTU e PCB divergem em alguns pontos, com entendimento diferente em relação a alguns aspectos desse projeto de poder, mas pelo menos em um ponto as três agremiações convergem integralmente: o combate sem trégua ao capitalismo.

Politicamente, PSOL, PSTU e PCB não enxergam qualquer possibilidade de se juntar a partidos da esquerda moderada como PT, PCdoB, PSB e PDT. Consideram que essas agremiações contrariam os postulados do que chamam de esquerda autêntica, principalmente por fazerem alianças com correntes de centro e da direita. Nas disputas eleitorais no Maranhão, sempre recomendaram voto nos candidatos de oposição – como Jackson Lago (PDT) e Flávio Dino (PCdoB) -, mas não participaram de alianças formais e adotaram discurso crítico em relação a esses candidatos. A provável união dos três partidos para disputar as eleições de outubro é uma expressiva mudança de posicionamento, pois indica que, mais do que simplesmente participar do processo e deixar o seu recado contra a realidade social e política em evolução no Brasil, a ultraesquerda quer agora sair das urnas com um resultado eleitoral positivo, que represente bem mais do que um simples registro histórico de participação.

Se for, de fato, formada, essa frente partidária será um dado novo e interessante na corrida ao voto em São Luís.

 

PONTO & CONTRAPONTO

Não há transparência em 82% das prefeituras maranhenses

Nada menos que 180 dos municípios maranhenses não cumprem a regra da transparência instituída pela Lei de Acesso à Informação (Lei 12.572/2011) e pela Lei de Responsabilidade Fiscal, o que significa dizer que 83% estão inadimplentes, pois não tornam públicos os seus números. Esse quadro grave de desrespeito às leis foi encontrado pela Controladoria Geral da União (CGU) ao examinar a situação dos municípios maranhenses em relação a aspectos da Lei de responsabilidade Fiscal. Assim, no Maranhão apenas 37 municípios foram reconhecidos como estando em situação regular nesse aspecto da lei de Responsabilidade Fiscal. A situação é de tal modo grave que ontem, a procuradora-geral de justiça, Regina Rocha, o chefe da CGU no Maranhão, Francisco Alves de Oliveira, e o chefe do Ministério Público de Contas, Paulo Henrique Reis, apresentaram o resultado da Escala Brasil Transparente (EBT) nos 217 municípios maranhenses. Para chegar à constrangedora – e, para ser mais honesto, vergonhosa – conclusão, a CGU fez inúmeras tentativas de busca nos sites das prefeituras, mas não conseguiu acessar os seus portais na internet. São várias a alegações dos prefeitos, vão da falta de recursos às dificuldades com sinal de internet. O fato, porém, é que o cumprimento da lei não pode ser obstruído por falta de estrutura, que pode ser também apenas uma maneira de justificar a falta de vontade para tornar transparentes as contas das suas administrações. E essa omissão tem um preço a ser pago pelos gestores omissos: eles serão acionados por crime de responsabilidade por não cumprirem o que está previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal.

 

Fernando Furtado escorregou na língua, mas não é racista

fernando furtado 1Não há o que discutir que o deputado Fernando Furtado (PCdoB) foi preconceituoso e surpreendentemente agressivo quando disse, em discurso tenso feito para famílias retiradas da reserva Awá-Guajá, que aqueles índios “são um bando de veadinhos”. Também não se pode desconhecer que, diante da repercussão e da avaliação de que cometeu um erro de difícil reparação, Fernando Furtado foi à tribuna da Assembleia Legislativa, assumiu o deslize inacreditável e pediu desculpas. Seria natural que ele fosse duramente criticado e repreendido por suas palavras, não só pela ONG Survival International. Mas execrá-lo mundialmente dando-lhe o ofensivo título de “Racista do Ano” foi também uma agressão ao parlamentar. Fernando Furtado não reagiu grosseiramente às críticas nem reafirmou a agressão verbal aos Awá-Guajá quando o áudio veio à tona. Ao contrário, pediu desculpas. Outra face do caso reforça ter sido injusto a titulação do parlamentar. No seu discurso sobre a retirada das famílias da reserva indígena, o deputado condenou com veemência o tratamento irresponsável e ineficiente que a União, por meio da Funai, dá às nações indígenas, que desprotegidas estão minguando nas mais diferentes regiões do país. Furtado defendeu a adoção, pela União, de uma politica indigenista mais ampla, eficiente e humana. Defendeu também tratamento correto às famílias que perderam tudo o que construíram enquanto ocuparam áreas da reserva indígena. E essa ocupação só foi possível por negligência e falta de responsabilidade da União, que durante anos foi alertada sobre a ocupação indevida, mas atrasou a demarcação da reserva e não moveu uma palha para evitar a ocupação. Se a Survival International tivesse analisado o fato no seu conjunto, certamente criticaria o deputado comunista, mas com certeza em tom menos agressivo  e muito provavelmente não lhe daria um tão desrespeitoso, a começar pelo fato de que na fala de Furtado não há uma palavra ou frase que revele algum traço de racismo. Ele tem, portanto, razão ao reagir à agressão que sofreu da ONG, que nada levou em conta, prendendo-se apenas a uma frase de conotação homo fóbica, e não racista. Isso porque na maior parte do seu polêmico discurso ele falou mais em defesa dos Awá-Guajá do que muitos que assistem, em silêncio conivente, a lenta extinção dos índios maranhenses, causada pela criminosa omissão da União com a conivência do Estado.

 

São Luís, 07 de Janeiro de 2016.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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