Diálogo proposto por Dino repercute bem, mas histórico de iniciativas como essa mostra que elas sempre fracassaram

 

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Dino propõe diálogo entre PT e PSDB em favor do país

Causou polêmica o artigo do governador Flávio Dino (PCdoB), publicado domingo no jornal Folha de S. Paulo, e no qual ele alerta para a gravidade do momento por que passa o país, critica o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff e, para surpresa e arrepio de muitos, propõe a abertura de um grande diálogo entre as forças vivas do país para vencer as crises política e econômica e, assim, abrir caminho para que o país volte a crescer. No artigo, o governador diz que a hora é de desarmamento e avalia que o diálogo entre governo, representado pelo PT, e oposição, materializada no PSDB, é o caminho mais seguro para superar a crise e fortalecer a democracia no país.  Houve, como era de se esperar, reações que foram do apoio entusiasmado à rejeição mais contundente. Mas no geral o governador foi elogiado, mesmo por quem não vê qualquer futuro na sua iniciativa.

Não é nova a ideia de juntar todas as forças políticas em torno de um projeto comum que deslanche de vez o processo de desenvolvimento do estado ou do país comum um todo. Propostas com essa natureza foram feitas inúmeras vezes e por políticos dos mais diferentes credos e estaturas desde que o Brasil se tornou uma República Federativa e o Maranhão ganhou de vez a condição de ente da Federação. As propostas de pacto ou de acordo sempre foram vistas como muita reserva pelos líderes de grupos eventualmente envolvidos. Foram muitas as manifestações pregando acordos que unissem os partidos em torno de projetos comuns para acelerar o processo de desenvolvimento social econômico.

O problema é que tais propostas são feitas quase sempre em momentos de crise, quando os ânimos estão acirrados e as tensões elevadas. Climas com esses ingredientes acirram as diferenças, embotam o senso de oportunidade – não confundir com oportunismo – e impedem que a serenidade prevaleça na avaliação do diálogo proposto.

Quando José Sarney foi governador (1966/1970), um dos motes mais constantes no seu discurso foi a proposta de diálogo, que se entabulada levaria à ideia de pacto pelo desenvolvimento do Maranhão. Não funcionou, porque, devido ao incremento da ditadura, as tensões políticas se acirraram no Maranhão, inviabilizando qualquer movimento na direção de um diálogo. Quando foi presidente da República tentou, inúmeras vezes, abrir canais em todas as frentes, mas novamente as tensões impediram a formação de um governo de união nacional. No período presidencial, Sarney conseguiu unir todas as correntes políticas em favor do Maranhão, colocando em convivência líderes do PMDB como Epitácio Cafeteira, Renato Archer, Cid Carvalho e Jackson Lago, ficando de fora somente Haroldo Sabóia (PMDB), que sempre manteve posição coerente na oposição a Sarney. A unidade se esfarelou quando Sarney deixou o Palácio do Planalto: perdeu toda a imensa base de apoio e até o seu partido, o PMDB, lhe foi negado para disputar o Senado, obrigando-o a correr para o Amapá, onde havia preparado um plano B para ser candidato ao Senado em 1990.

Antes, os governadores João Castelo (PDS) e Luis Rocha (PDS) alimentaram a ideia de diálogo e de pacto para fortalecer politicamente os esforços de desenvolvimento do estado, mas as forças que lhes faziam oposição não lhes deram crédito e a grande proposta ficou no vazio durante oito anos. Depois da presidência de Sarney, o governador Edison Lobão fez o mesmo, mas os seus apelos pela unidade estadual não ecoaram o suficiente para atrair interessados. O mesmo aconteceu com Roseana Sarney, que sob os ventos de mudança iniciada pelo governo FHC, conseguiu construir uma convivência precária, mas produtiva, com o então prefeito de São Luís, Jackson Lago (PDT), que n entanto degringolou no inicio deste século e resultou na guerra em que ele a derrotou para o Governo do Extado, mas caiu dois anos depois  no tapetão da Justiça.

A proposta mais recente, que deu o que falar nos bastidores da política estadual, foi feita pelo ex-governador e hoje deputado federal José Reinaldo Tavares (PSB), que diante da situação econômica e política do país e, por isso, a avaliação de que, por falta de recursos, o Maranhão mergulhe numa letargia econômica, concitou as forças vivas maranhense para se juntar num grande pacto pelo desenvolvimento do estado. O rascunho desse grande pacto colocaria o governador Flávio Dino e o ex-presidente José Sarney na mesma mesa, unindo as forças políticas em torno de 10 pontos cruciais a serem alvo dos esforços de todos, sem que ninguém abrisse mão da sua posição política. Apesar do barulho e da repercussão, a proposta do ex-governador não teve desdobramentos, a começar pelo fato de que foi solenemente ignorada pelo governador Flávio Dino, que hoje prega o diálogo entre PT e PSDB, e pelo ex-presidente José Sarney, que tantas vezes pregou a aproximação de contrários em favor do interesse comum.

A proposta feita pelo governador Flávio Dino como remédio para os males que minam as forças do país é o que há de melhor em matéria de excelência política. Infelizmente, o histórico de iniciativas parecidas e mal sucedidas estimula a suspeita de que, apesar da repercussão, não terá desdobramentos. Por outro lado, pode estar sendo a hora de se pode, sim, construir um diálogo dessa dimensão.

 

PONTO & CONTRAPONTOS

 

João Alberto não aceita provocação de Randolfe Rodrigues

joão alberto 8-horzProvocado pelo senador amapaense Randolfe Rodrigues (Rede), para quem o Conselho de Ética do Senado só atuará com isenção com a mudança do presidente, o senador João Alberto (PMDB) resolveu não atenção à provocação. E o motivo é simples: muito incomodado com a denúncia de que teria participado de um “mensalinho” no governo do hoje senador João Capiberibe (PSB), Randolfe Rodrigues, montou uma estratégia de acusar João Alberto de estar perseguindo-o, com o objetivo de desviar o foco do assunto, que é o processo em que é acusado por seus adversários do Amapá. Experiente e profundo conhecedor dessa estratégia, com a qual já se defrontou várias vezes nos cinco mandatos de presidente do Conselho, o senador João Alberto sabe que o colega  amapaense quer atraí-lo para o ringue do bate-boca, o que, mesmo que demonstre a normalidade do processo, haverá sempre um desgaste forte. Randolfe Rodrigues, que saiu da Assembleia Legislativa para o Senado, vem construindo sua carreira como esquerdista zangado, que usa a conhecida técnica segundo a qual o ataque é a melhor defesa. E João Alberto sabe disso e tem um trunfo poderoso: toda a tramitação do processo que envolve o senador amapaense está lastreado com documentação original e será relatado por um senador do PSDB do Mato Grosso. Randolfe Rodrigues acusa João Alberto de colocar a denúncia em tramitação em retaliação ao fato de ter sido ele, Randolfe, um dos que denunciaram o senador Delcídio do Amaral (PT-MT) ao Conselho de Ética. O argumento não cola porque Randolfe Rodrigues fora denunciado em setembro e a denúncia contra Delcídio do Amaral só foi apresentada em dezembro, não tendo qualquer relação uma com a outra. João Alberto não encontra outra explicação para as provocações do senador amapaense, mas lembra que os integrantes do Conselho sabem da sua correção na presidência e que é a eles que Randolfe vai ter de se explicar, cedo ou tarde.

 

Rusgas da transição fragilizam a OAB

thiago diaz 4-horzEstranha, muito estranha, as rusgas que vêm estremecendo a relação de situação e oposição nos primeiros dias de gestão do novo comendo do braço maranhense da OAB, com a denúncia de que o presidente Thiago Diaz teria mandato retirar do ar informações sobre recursos financeiros deixados em caixa pela administração que findou, comandada pelo presidente Mario Macieira. Para começar, a regra é a de que a OAB é uma instituição que congrega advogados, que podem – e têm! – diferentes opiniões sobre como ela deve ser conduzida, sobre a realidade institucional do país e como deve ser o estado democrático de direito, incluindo aí o direito de atuação dos seus associados. Não é espaço dividido entre Mário Macieira e Thiago Diaz. As rusgas, que rasuram a imagem da Ordem, devem são tropeços da transição, mas não podem mostrar á sociedade uma instituição fragilizada por diferenças e divisões in ternas. É natural que correntes de pensamento ou até mesmo de motivação política travem embates nas suas entranhas, mas daí a expor rusgas em nível rasteiro há uma diferença enorme. O bom senso e a necessidade de fortalecer a imagem da entidade que representa advogados mandam que o presidente Thiago Diaz e o ex-presidente Mário Macieira respeitem o resultado das urnas. O primeiro mostrando que de fato está maduro para o cargo e que a maioria o elegeu para ser a referência de toda a categoria em nome da qual fala; o segundo dando demonstrações de que, mais do que o dinheiro deixado em caixa, deixou na instituição consciente do seu papel na luta cotidiana pelo fortalecimento das instituições que, como ela, asseguram as liberdades, os direitos e os deveres no país. Rusgas devem ser jogadas no lixo. Nada mais que isso.

 

São Luís, 06 de Janeiro de 2016

 

Um comentário sobre “Diálogo proposto por Dino repercute bem, mas histórico de iniciativas como essa mostra que elas sempre fracassaram

  1. A proposta de união de Flavio Dino é própria de marinheiro de primeira viagem, que pretende inventar a roda, em busca de fama prematura. Já José Reinaldo quer se perpetuar como traidor nato com o “Pacto pelo Maranhão” , enterrado pelo dito cujo Dino.

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