A julgar pelo que vêm denunciando seus aliados, em especial os deputados estaduais Andrea Murad (PMDB), sua filha, e Souza Neto (PTN), seu genro, em discursos estridentes, o ex-deputado estadual Ricardo Murad (PMDB), o todo-poderoso secretário de Estado da Saúde nos dois últimos períodos de governo de Roseana Sarney (PMDB), está correndo sérios riscos de ser preso. A prisão anunciada seria, segundo eles, uma armação do secretário de Estado da Segurança Pública, Jefferson Portela, para levar à frente o que, segundo os parlamentares, seria uma política de perseguição a adversários por ordem do governador Flávio Dino (PCdoB), e no caso de Ricardo Murad uma fórmula para tirá-lo do cenário político e abrir caminho para prender também a ex-governadora Roseana Sarney. Essa mega trama seria motivada por ódio puro e simples, situação que não encontra similar em qualquer momento da história política recente.
Nos bastidores político, onde trafegam com intensidade as mais diversas versões, vozes governistas batem forte na denúncia, afirmando categoricamente que ela é fantasiosa, e garantindo que o que existe mesmo em andamento são investigações para apurar supostos malfeitos do ex-deputado Ricardo Murad, como secretário estadual de Saúde, no comando do mega programa Saúde é Vida. Mas as mesmas vozes governistas dizem que as investigações mais avançadas estão a cargo da Polícia Federal (PF), porque os recursos supostamente mal aplicados ou desviados foram liberados pela União. Existem também investigações da Polícia Civil em curso, que também estariam avançadas. “Mas se o Ricardo Murad tiver de ser preso agora, ele será preso pela Polícia Federal”, disse uma fonte política bem situada na base governista.
O nome da ex-governadora Roseana Sarney entra no rolo dos rumores como decorrência natural do fato de ter sido ela a comandante maior do governo sobre o qual estão desabando denúncias. Nada além disso até aqui.
Nesse contexto de denúncias, contestações, ditos e desmentidos, alguns mais cuidadosos avaliam que as denúncias feitas por Ricardo Murad e seus aliados seriam o emprego da clássica estratégia na qual a melhor defesa é o ataque. Sem outros recursos para enfrentar a máquina política governista – que conhece muito bem em todos os seus aspectos – o ex-deputado bombardeia o governador do Estado e seus secretários com denúncias de perseguição política e por ódio puro e simples, disparando também denúncias de supostos escorregões éticos do novo governo, que até agora não foram confirmados. Enfim, uma guerra de discursos, com a diferença de que, além da fala, o rebate governista garante estar colhendo provas que, cedo ou tarde, colocarão o ex-secretário de Saúde contra a parede, numa espécie de sinuca de bico da qual dificilmente sairá ileso.
O alerta vermelho na seara de Ricardo Murad foi disparado com a prisão, na semana passada, do empresário João Abreu, ex-chefe da Casa Civil no último governo de Roseana Sarney, acusado de receber do doleiro Alberto Youssef propina de R$ 3 milhões para facilitar o pagamento de precatório de R$ 113 milhões à empreiteira Constran. O fato estremeceu de vez a cidadela de Ricardo Murad e tirou do eixo o comando do Grupo Sarney, a começar pela ex-governadora Roseana Sarney, que reagiu cm uma nota na qual usou o discurso do ex-secretário de Saúde, acusando o governador Flavio Dino de instalar no Maranhão um clima de “ódio, perseguição e intolerância” – Dino agiu como se não tivesse tomado conhecimento.
A Coluna ouviu fontes dos dois lados e chegou à conclusão de que a prisão do ex-deputado Ricardo Murad é uma possibilidade real, pois a PF já teria elementos para tirá-lo de circulação em caráter preventivo. E ele já teria plena consciência de tal risco, o que explicaria a sua reação de agora, intensa, agressiva e feita em tom de denúncia. Essa reação indica que, traquejado no embate político e no jogo do poder, no qual foi forjado, Murad está se preparando para ser um adversário duro de dobrar. Era o que muitos pensavam a respeito de João Abreu, e deu no que deu.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Ana do Gás é mais que sorrisos I
Engana-se quem pensa que deputada Ana do Gás (PRB) é apenas uma mulher bonita, uma primeira-dama mimada e uma parlamentar simpática que a todos cativa com um largo sorriso e gestos gentis. Ontem ela revelou-se uma política que não engole desaforo e que, se provocada, joga pesado com adversários. Aconteceu o seguinte: o deputado Vinícius Louro (PR), um parlamentar jovem e atuante que tem base no Médio Mearim, reclamou, da tribuna, que ele e seu pai, o ex-deputado Raimundo Louro, foram desrespeitados por Ana do Gás num ato político do PCdoB em Esperantinópolis. Só que o ato era promovido por um aliado da deputada e cujos partidários não gostaram da presença dos Louro. Estimulada pelos descontentes, Ana do Gás disse que o deputado Vinícius Louro e seu pai Raimundo Louro agiram como “caras de pau” ao se fazerem presentes na festa política, causando um forte mal-estar. Vinícius Louro criticou duramente a deputada e contou que ele e o pai só foram ao ato porque foram convidados. E, depois de criticar Ana do Gás, disse que a colega não é dona da região do Médio Mearim nem Esperantinópolis é seu “curral” eleitoral. E fechou dizendo que, ao invés de querer mandar no município, a deputada deveria investir ali parte dos recursos de suas emendas parlamentares.
Ana do Gás é mais que sorrisos II
Diante das estocadas do deputado Vinícius Louro, a deputada Ana do Gás foi à tribuna e, sem alterar a voz, mas em tom firme, assinalou, primeiro, que nem sempre um convite deve ser aceito, e que os Louro não deveriam estar no ato em Esperantinópolis. Relatou que só os chamou de “caras de pau” porque foi cobrada por “mais de cem” partidários que não queriam os Louro lá. Num discurso cada vez mais enfático, ela disse não ter curral eleitoral, “por que não trato eleitor como bicho, mas como gente igual a mim”. Aconselhou, em tom irônico, mas enfático, o deputado a “ir se acostumando com minha presença, porque o Médio Mearim não lhe pertence”. E fechou sua reação revelando mais ainda da sua forte personalidade ao comentar a sugestão do deputado de investir parte das suas emendas em Esperantinópolis. – Cuide das suas emendas que eu cuido das minhas. Sou deputada, sou casada, sou primeira-dama de Santo Antonio dos Lopes, mas nem meu marido diz onde devo aplicar as minhas emendas. Isso é assunto meu, dos meus eleitores e de mais ninguém”.
Racha?! Onde?!
Os bastidores da corrida pelo comando da OAB – que começa a ganhar aceleração – foram ontem incendiados pela informação segundo a qual o grupo que embala a candidatura de Valéria Lauande a presidente teria sofrido um racha por causa de uma suposta briga entre os advogados Caldas Góis Jr. e Daniel Blume pela vaga de conselheiro federal. Ontem à noite, durante reunião do grupo liderado por Lauande, Os dois advogados discursaram e desmentiram, com veemência, a informação sobre o suposto racha. Com o desmentido, o grupo saiu da reunião inteiro, e pelo que se comentou, bem mais forte.
0São Luís, 02 de Outubro de 2015.