Ainda faltam mais de 650 dias, mas as eleições de 2022 já estão mexendo intensamente com a classe política do Maranhão. A mudança que o governador Flávio Dino (PCdoB) está fazendo na banda política da sua equipe e os sinais sobre o seu rumo eleitoral, as articulações para a eleição na Famem, as conversas do vice-governador Carlos Brandão (Republicanos), os movimentos do senador Weverton Rocha (PDT), entre outros eventos, evidenciam que por trás de cada iniciativa está um objetivo ligado à próxima corrida às urnas. Chama a atenção que no que diz respeito à sucessão do governador Flávio Dino, até agora os movimentos estejam restritos às lutas travadas dentro do seu campo político – o embate entre o vice-governador Carlos Brandão e o senador Weverton Rocha (PDT) -, não tendo sido registrada até aqui qualquer manifestação de peso no campo oposicionista.
Ao mudar as posições de três dos integrantes do chamado “núcleo duro” do Governo – os deputados federais Márcio Jerry (PCdoB) e Rubens Jr. (PCdoB) e o advogado Rodrigo Lago, atual secretário de Comunicação e Articulação Política -, o governador Flávio Dino sinalizou que dará uma orientação política mais forte ao seu Governo nos próximos tempos. Essa tendência é reforçada com as suas declarações mais recentes sobre o seu próprio futuro, admitindo que poderá disputar a Presidência da República, se for convocado por uma grande frente partidária; o Senado, que é o seu projeto preferido, ou a Câmara Federal, se houver uma decisão do PCdoB nesse sentido. Os gestos do governador estimulam segmentos dentro e fora da aliança partidária que comanda.
Na condição de governador em exercício, Carlos Brandão tem dividido seu tempo entre despachos com secretários e conversas políticas importantes. Uma delas, que teve como interlocutor o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Othelino Neto (PCdoB), os dois reafirmaram a boa relação Executivo/Legislativo, e ajustaram a sintonia das suas relações no campo político, desfazendo a impressão de que estariam estremecidos por conta das eleições municipais. Ontem, ele recebeu a visita do prefeito reeleito de Santa Rita, Hilton Gonçalo (PMN), um líder regional importante, com quem mantém fortes laços de amizade e afinidades políticas, o que permitiu que na conversa os dois trocassem impressões sobre o quadro para a grande disputa de 2022. Nos bastidores, Carlos Brandão está atuando no apoio à candidatura do prefeito reeleito de Caxias, Fábio Gentil (Republicanos) à presidência da Famem. Político vitorioso, o prefeito caxiense se movimenta com o objetivo também de ocupar espaço no cenário político estadual.
No contraponto, dentro da aliança dinista, o senador Weverton Rocha (PDT), está participando intensamente da corrida para a eleição na Famem, jogando todas as suas fichas na candidatura do atual presidente, Erlânio Xavier (PDT), prefeito reeleito de Igarapé Grande. A reeleição de Erlânio Xavier para a presidência da entidade municipalista é fundamental para a articulação da candidatura do senador ao Governo do Estado em 2022. Congressista ativo, o senador Weverton Rocha tem dedicado parte do seu tempo às articulações para a eleição da Mesa do Senado, no cenário causado pela reviravolta que proibiu a reeleição do atual presidente, senador Davi Alcolumbre (DEM), com quem estava “fechado”. Um bom posicionamento no Senado é importante para o seu projeto governamental.
Por outro lado, numa curiosa contradição, não há movimentos visíveis no campo da Oposição relacionados com as eleições de 2022. Um dos nomes mais expressivos dessa seara, visto por aliados como o mais provável candidato ao Governo do Estado, o senador Roberto Rocha (PSDB), que terminou 2020 afirmando que politicamente dedicará os próximos dois anos ao Maranhão, mas sem dizer exatamente o que isso significa, se mantém distante. O prefeito reeleito de Imperatriz, Assis Ramos (DEM), declarou que poderá ser candidato a governador, mas sua pouca expressão política – foi reeleito com apenas 26% dos votos – faz com que ele não seja levado a sério. No arraial oposicionista ainda se fala na possibilidade remota de a ex-governadora Roseana Sarney (MDB) tentar voltar ao Governo, mas ela própria nada disse até aqui. Alguns políticos tarimbados apostam que em algum momento dos próximos 22 meses o novo prefeito de São Luís, Eduardo Braide (Podemos), dirá o que pensa sobre a próxima e decisiva corrida eleitoral.
A julgar pelos movimentos registrados na primeira década de Janeiro, o tabuleiro político do Maranhão viverá tempos agitados.
PONTO & CONTRAPONTO
Eduardo Braide se integrará à Famem, tradicionalmente esnobada pelos prefeitos de São Luís?
Pelo menos oficialmente, não se sabe ainda como o prefeito de São Luís, Eduardo Braide (Podemos), se posicionará na eleição da Famem. Dois observadores atentos ouvidos pela Coluna apostaram que ele votará no presidente Erlânio Xavier, num gesto de reconhecimento ao apoio que recebeu do PDT no segundo turno da eleição. Observam também que o provável voto no pedetista seja um posicionamento contra o candidato do Republicanos, que é entusiasticamente apoiado pelo seu maior adversário, o deputado estadual Duarte Jr. (Republicanos).
A posição de Eduardo Braide pode mudar a “tradição” mantida pelos prefeitos de São Luís em relação à Famem. Todos os ocupantes do palácio de la Ravardière esnobaram a entidade municipalista em maior ou menor grau. O mais ostensivo foi o líder pedetista Jackson Lago, que no primeiro mandato, ao ser procurado por prefeitos para participar da Famem, que lhe ofereceram a “presidência de honra”, foi taxativo, respondendo negativamente por entender que a organização era usada para manter o poder do Grupo Sarney. O gesto mais simpático de um prefeito ludovicense para com a Famem partiu de Edivaldo Holanda Júnior (PDT), que no primeiro mandato não quis saber da entidade, mas no segundo apoiou a candidatura de Cleomar Tema, prefeito de Tuntum, tendo ido à sede cumprimentá-lo pela eleição.
Resta saber se Eduardo Braide vai se integrar à entidade municipalista ou manterá a “tradição”.
Avaliações apontam favoritismo de Erlânio Xavier na Famem, mas Fábio Gentil pode surpreender
Os bastidores da política estão agitados por conta da eleição para o comando da Famem. Ali, candidatos e articuladores fazem conta atrás de conta para tentar encontrar o poder de fogo de cada candidato. Favorito na disputa – até alguns contrários admitem -, o presidente Erlânio Xavier trabalha intensamente para ter uma vitória “larga”, que lhe dê maior estatura política. Sua preocupação é seu adversário, o prefeito de Caxias Fábio Gentil (Republicanos), que tem também o apoio do PL, que lhe deu como vice o bem articulado prefeito de Barra do Corda, Rigo Teles, ganhe musculatura e ganhe mais adeptos por meio de articulações feitas pelos deputados federais Josimar de Maranhãozinho (PL) e Cléber Verde (Republicanos) e André Fufuca (PP). Além disso, o líder caxiense faz campanha sem o peso de quem tem de defender o mandato. Quem conhece a seara política municipal calcula que, se a eleição fosse hoje, o presidente se reelegeria, mas com uma margem bem menor do que a esperada. Resta saber se ele mantém ou reforça o cacife até no dia 14.
São Luís, 08 de Janeiro de 2021.