Após sete anos vivendo a tal “expectativa de direito”, situação institucional que o mandato lhe assegura como substituto eventual do titular, o vice-prefeito de São Luís, Júlio Pinheiro (PCdoB), finalmente vive, por sete dias, a condição de prefeito interino. Ele assumiu o comando da administração municipal na ausência do prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT), que se licenciou por sete dias para cumprir compromisso pessoal em Israel, para onde viajou acompanhado da primeira-dama Camila Holanda. Júlio Pinheiro está cumprindo a interinidade de maneira discreta, sem fazer alarde, preferindo dedicar-se efetivamente ao comando administrativo da Capital do que forjar uma agenda para valorizar o momento. Age como um vice institucionalmente correto e politicamente leal, e que se esforça a cada dia para apoiar o prefeito-titular, ao invés de conspirar. E cumpre missões diversas, a começar por representar o prefeito Edivaldo Holanda Júnior em eventos, aos quais, por razões diversas, prefere não comparecer.
Braço do PCdoB na gestão de São Luís, com origem no movimento sindical ligado ao magistério, o vice-prefeito Júlio Pinheiro tornou-se um assessor importante do prefeito Edivaldo Holanda Júnior, que se lhe confia as tarefas mais diversas no campo da representação, incluindo articulações políticas. Nas últimas semanas, por exemplo, Júlio Pinheiro comandou uma equipe no importante Fórum Nacional dos Secretários e Gestores de Limpeza Urbana e Limpeza de Resíduos, realizado em Brasília no dia 10 de outubro. De lá, seguiu para Barcelona (Espanha), onde representou o prefeito na 9º Smart City Expo Word Congress, um dos mais importantes eventos do planeta sobre inovações urbanas. No retorno, foi escalado para representar o titular no 19º Fórum de Governadores da Amazônia Legal, realizado no Palácio dos Leões. Ontem, no primeiro dia do batente da interinidade, iniciou o dia reunindo-se com o governador Flávio Dino e com o presidente estadual do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry.
Ao contrário do que aparenta sua atuação discreta, o vice-prefeito Júlio Pinheiro é uma peça importante na engenharia política que mantém azeitadas as relações do Palácio de la Ravardière com o Palácio dos Leões e da aliança até agora inabalada entre o PDT e o PCdoB. Além disso, é, provavelmente, o mais importante canal de entendimento que mantém pacificadas as relações do braço sindical dos professores com a Prefeitura de São Luís e, em certa medida, com o Governo do Estado. E atua sem alarde, de maneira eficiente, sem perder a credibilidade que conquistou como militante e porta-voz dos professores da rede pública. Não existe registro de qualquer rusga sua com o prefeito Edivaldo Holanda Júnior nesse período. Ao contrário, a relação que os mantém próximos é sólida, dando sempre a impressão de que, permanecerá assim até o fim do mandato.
Nesse ambiente sem crise, porém, há uma indagação que não quer calar: por que o vice-prefeito Júlio Pinheiro não se credenciou para ser o sucessor natural do prefeito Edivaldo Holanda Júnior? As versões são as mais diversas, vão da falta de interesse do prefeito à falta de interesse dele próprio. Nenhuma, porém, é convincente o suficiente. Da reeleição em 2016 para cá, houve momentos em que o vice-prefeito parecia largando para assumir a condição de pré-candidato do PCdoB na corrida à Prefeitura. Mas em todos eles o vice-prefeito logo diminuiu o passo e mergulhou na sua condição de Nº 2 da Prefeitura de São Luís. Está cada vez mais claro que o caminho de Júlio Pinheiro será uma cadeira na agora quatrocentona Câmara Municipal de São Luís.
PONTO & CONTRAPONTO
Colunista de O Globo pisa na bola em nota sobre o ex-presidente José Sarney
O colunista Lauro Jardim, de O Globo, escreveu em sua coluna que o ex-presidente José Sarney (MDB) andaria “amuado com a falta de prestígio que goza entre os atuais ocupantes dos postos de comando do país”. E observa que “pela primeira vez desde a redemocratização, ele é completamente ignorado pelo inquilino do Palácio da Alvorada”.
Para começar, é estranho que o respeitado colunista tenha escrito a tal nota sem se dar conta de que ninguém goza com a falta de prestígio, a não ser que se trate de um masoquista, o que, definitivamente, não é o caso de José Sarney.
Em relação à informação propriamente dita, quem conhece o ex-presidente José Sarney sabe que ele jamais faria tal desabafo a um amigo, por mais próximos fossem. O ex-presidente pode até estar sentindo a falta da intimidade com o poder, mas dificilmente estará amuado com o fato de não ser consultado pelo presidente Jair Bolsonaro, um político primário, que nada sabe sobre o Brasil e que provavelmente só leu o livro de memória do coronel e torturador Brilhante Ustra, seu farol político. Com a bagagem política e a abrangência e profundidade intelectuais que acumulou, José Sarney dificilmente engataria uma conversa com o pupilo político do indescritível Olavo Carvalho.
Se tem alguém perdendo com esse suposto isolamento de José Sarney, este é o presidente Jair Bolsonaro, que está deixando de beber a mais rica fonte de experiência política do País. Tivesse-o consultado, não teria, por exemplo, dado tiros no pé como a aproximação demasiada e subserviente do norte-americano Donald Trump, o conflito desnecessário com o presidente francês Emanuel Macron, e a inacreditável interferência na política interna da Argentina, que ajudou a afundar o projeto de reeleição do presidente Maurício Macri, isso sem falar na tacanha e destrambelhada ação golpista na Venezuela.
E não é nenhuma surpresa que do algo da sua vasta experiência diplomática, tenha classificado o atual chanceler, Ernesto Araújo, de maluco, e com um histórico que inclui a criação da revolucionária TVE nos anos 60, tenha dito enfaticamente que o ministro Abraham Weintraub é louco varrido. E ainda que com o lastro de presidente que teve os mineiros José Aparecido de Oliveira e Rinaldo Costa Couto como chefes da Casa Civil, tem toda razão em afirmar que o deputado gaúcho Onyx Lorenzony está longe do tamanho mínimo necessário para comandar a Casa Civil.
Morte de índios: além da Força Nacional, Moro deve mandar a PF para colocar tudo em pratos limpos
O ministro da Justiça e Segurança, Sérgio Moro, anunciou que mandará um contingente da Força Nacional para dar segurança às comunidades indígenas ameaçadas do Maranhão. Alguém precisa dizer ao ministro que mandar a Força é bom, mas que nesse momento o que é necessário mesmo é acionar a Polícia Federal, com agentes especializados e o aparato tecnológico que dispõe para realizar de uma ampla e minuciosa investigação para identificar os assassinos, os contratantes e os mandantes desses assassinatos. Não se trata de uma investigação relâmpago, feita para dar satisfações a contribuintes e eleitores ávidos por justiça. Trata-se de uma investigação ampla e profunda, de modo a mapear as organizações que estão por traz dos matadores, os grupos de madeireiros, garimpeiros e latifundiários que se beneficiam de grilos quilométricos. Sem isso, a Força Nacional terá um papel secundária de mero batalhão falsa proteção.
São Luís, 10 de Dezembro de 2019.