Primeiro foi a viagem para Imperatriz, um dia após ter confirmado sua reeleição em turno único, com mais de 75% dos votos, para declarar apoio à candidata do Republicanos à prefeitura daquela cidade, Mariana Carvalho, num movimento surpreendente, que desconcertou seus adversários. Agora, depois de outros gestos politicamente expressivos, o prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD), desembarca em Balsas, para visitar o AgroBalsas, a maior feira do agronegócio na região. Declarou ali que foi visitar a feira, “rever amigos” e “aproveitar para trazer boas notícias”. E perguntado, à queima-roupa, se vai “enfrentar” a disputa pelo Governo do Estado, na esteira da liderança apontada pelas pesquisas, respondeu que “o foco agora é cuidar de São Luís”, para em seguida completar com mais uma incógnita: “Tudo tem o momento certo”.
A incursão do prefeito de São Luís no grande evento do agronegócio no Maranhão aparentemente não faz muito sentido, já que não há no seu histórico político qualquer relação com esse ramo da economia. A explicação, claro, está no fato de que Balsas e a sua feira de abrangência regional reúnem a nata das lideranças empresariais e políticas da Região Sul, alinhadas a uma direita não radical, com a qual o prefeito de São Luís se identifica, inclusive pelos postulados do seu partido, o PSD. Como fez em Imperatriz, onde o gesto de apoiar Mariana Carvalho agradou às fileiras da direita tocantina, sua visita à Balsas pode produzir o mesmo efeito político.
Político que calcula cada um dos seus movimentos e avalia cada palavra que pronuncia na esgrima verbal da política, Eduardo Braide visita Balsas no exato momento em que a relação entre dinistas e brandonistas vive um momento de grande tensão, produzindo a forte impressão de que a aliança entre o governador Carlos Brandão (PSB) e o ministro Flávio Dino (STF), já suspensas no campo pessoal, pode ser rompida de vez no plano político. Isso significa dizer que, caso o rompimento se confirme, dinistas e brandonistas irão para o confronto nas urnas, os primeiros com a candidatura do vice-governador Felipe Camarão (PT), e o segundo apoiando Orleans Brandão (MDB), cada um com seus candidatos ao Senado.
Mesmo liderando, com boa folga, a corrida até aqui, segundo todas as pesquisas já divulgadas, o prefeito de São Luís sabe, com toda clareza, que uma coisa será ele entrar numa disputa com dinistas e brandonistas rompidos, cada um com seu candidato, situação que lhe será plenamente favorável, que certamente o levará a um segundo turno. Outra situação será a aliança governista unida, com Felipe Camarão tentando a reeleição e Carlos Brandão como candidato a senador, numa aliança reforçada por um vice de consenso. A segunda hipótese representará um obstáculo gigantesco ao projeto do prefeito de São Luís.
Traquejado nesse jogo, Eduardo Braide, que é candidatíssimo, dificilmente admitirá sua candidatura antes que o cenário esteja rigorosamente definido na seara governista, com o governador Carlos Brandão batendo martelo para continuar no cargo até o final e lançando um candidato à sua sucessão, ou avise ao mundo que disputará uma cadeira no Senado, com uma eleição, para muitos, sem qualquer risco. Além disso, na avaliação de um aliado seu, Eduardo Braide nada ganharia anunciando candidatura agora; ao contrário, perderia de cara a tranquilidade com que vem governando a maior e mais importante cidade do Maranhão.
Não há dúvida de que, qualquer que tenha sido o motivo formal da visita ao AgroBalsas, ela teve um sentido fortemente político, mas não suficiente para que ele se declare pré-candidato a governador. E nesse contexto, o mais provável é que Eduardo Braide permaneça alimentando o argumento de que “tudo tem o momento certo” até abril de 2026.
PONTO & CONTRAPONTO
Carlos Lula faz gesto em direção a Brandão usando José Reinaldo como argumento
Apontado como o principal porta-voz do dinismo na Assembleia Legislativa, o deputado Carlos Lula (PSB), conhecido pela sua moderação, mas também pela firmeza de suas posições, fez ontem um eloquente gesto de aproximação com o governador Carlos Brandão (PSB), numa clara tentativa de evitar o rompimento definitivo dos dois grupos, por ele admitido como já existente.
Invocando o discurso político humanístico do recém falecido Papa Francisco, para quem os problemas políticos podem ser resolvidos pela boa vontade e o senso de humanismo dos homens; e do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, falecido na segunda-feira, que deu ao mundo um exemplo de que os contrários podem viver em harmonia, se compreenderem a natureza associativa dos homens e afastem sentimentos de ódio.
Com base nos dois exemplos, o deputado Carlos Lula recorreu ao terceiro e mais importante: o ex-governador José Reinaldo Tavares, que há pouco sacudiu o meio político afirmando que não haverá retorno no rompimento do governador Carlos Brandão com o ministro Flávio Dino (STF). José Reinaldo disse também alertou também que o rompimento pode fragilizar os dois grupos e pode abrir caminho para outra corrente chegar ao poder.
Além disso, José Reinaldo, que caminha para os 90 anos, e foi mentor político de Carlos Brandão e ajudou decisivamente Flávio Dino (2006) a conseguir o primeiro mandato, declarou que não é procurado pelo governador Carlos Brandão para falar de política.
Carlos Lula, fazendo um bem articulado malabarismo verbal, sugeriu que o governador Carlos Brandão ouça o ex-governador José Reinaldo sobre a atual realidade política do Maranhão. Na argumentação, o parlamentar invocou primeiro a experiência do ex-governador, por ele apontado como um dos mais importantes políticos do Maranhão nos últimos tempos. E fechou recorrendo ao clássico trunfo: “Ouça a quem tem cabelos brancos, porque eles sabem o que dizem”.
A tentativa do deputado Carlos Lula foi bem planejada. Resta saber como foi recebida no Palácio dos Leões.
Três deputados e três vereadores de São Luís estão com a cabeça na guilhotina da Justiça Eleitoral

e Wellington do Curso; embaixo: Fábio
Macedo (camisa preta) com Fábio Macedo
Filho (camisa branca),
Raimundo Jr. e Wendell Martins
Três processos, um por corrupção com dinheiro público e quatro por corrupção eleitoral – uso criminoso de cotas de gênero nas eleições de 2022 e 2024 – encontram-se na iminência de receber a palavra final da Justiça. As decisões podem mudar a composição da Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal de São Luís.
Com a cabeça na guilhotina estão os deputados estaduais Hemetério Weba (???), Fernando Braide (PSD) e Wellington do Curso (Novo) e os vereadores por São Luís Fábio Macedo Filho, Raimundo Jr. e Wendell Martins, eleitos pelo Podemos.
A cassação do deputado Hemetério Weba, que é acusado de ter desviado dinheiro público quando foi prefeito de Nova Olinda por oito anos (2000/2008), já é fato consumado, e seu bota-fora do Palácio Manoel Beckman só depende agora do rito processual que obriga o comando da Assembleia Legislativa a comunica-lo da decisão da Justiça, dar-lhe alguns dias para responder, submeter o processo ao plenário e, finalmente, despachar para a residência dele um ofício dizendo que a partir daquele momento ele não é mais deputado estadual. Não há mais possibilidade de recurso, é assunto liquidado. Tanto que a primeira suplente, Helena Duailibe, já está preparada para assumir.
O caso dos deputados Eduardo Braide e Wellington do Curso, eleitos pelo PSC, ainda está em andamento. Eles correm o risco de perder seus mandatos porque o comando partido pelo qual se elegeram em 2022, o PSC, fraudou as cotas de gênero, distribuindo dinheiro do Fundo Eleitoral de maneira criminosa em conluio com “candidatas” sem voto. Não há evidência de que os dois tenham participado da trama, e até o Ministério Público Eleitoral os inocentou. O problema é que a mutreta aconteceu, e se o partido for mesmo condenado, como está sendo desenhado, os dois perderão seus mandatos. Há quem aposte que eles poderão queimar tempo e sobreviver até as eleições do ano que vem. O maior problema dos dois é ficarem inelegíveis por oito anos.
O caso dos vereadores Fábio Macedo Filho, Raimundo Jr. e Wendell Martins ganhou força nos últimos dias, com decisões da Justiça Eleitoral que complicam seriamente o futuro dos parlamentares. O caso é o mesmo: o braço do Podemos em São Luís, que é comandado no Maranhão pelo deputado federal Fábio Macedo, pai do primeiro da lista, teria desviado dinheiro do Fundo Partidário bancando candidaturas fajutas de mulheres sem voto – a PF investigou e calculou o desvio em cerca de R$ 300 mil. Quem entende do riscado jurídico eleitoral prevê que os três poderão mesmo perder seus mandatos.
São Luís, 15 de Maio de 2025.