Foi puramente política e naturalmente acordada a decisão do governador Carlos Brandão (PSB) de exonerar o vereador e presidente licenciado da Câmara Municipal Paulo Victor (PCdoB) do cargo de secretário de Estado de Cultura. Ele permaneceu pouco mais de um mês no posto, coordenou o planejamento inicial do São João do Maranhão – que neste ano durará 60 dias -, mas as tensões políticas que vêm ocorrendo em São Luís e esquentando as relações do prefeito Eduardo Braide (PSD) com a Câmara Municipal e os primeiros movimentos visando a corrida sucessória na Capital fizeram o governador e o vereador-presidente refazerem planos. Com o aval do Palácio dos Leões, o vereador Paulo Victor retorna hoje determinado a assumir o protagonismo que a presidência da Câmara Municipal lhe proporciona. Com isso, ele deve se posicionar como a principal voz de oposição ao prefeito Eduardo Braide.
Independentemente do que vier a explicar e informar na entrevista coletiva que concederá hoje, às 10:30 horas, o vereador retornou à presidência da Câmara Municipal de São Luís a partir de uma avaliação política. Comandar a Secretaria de Estado de Cultura, tendo na programação a responsabilidade pelo São João deste ano e o Carnaval e o São João do ano que vem lhe daria grande visibilidade e, dependendo dos resultados, poderiam turbinar fortemente o seu projeto de disputar a Prefeitura em 2024. Ao mesmo tempo, comandar a Câmara Municipal, dando a ela uma envergadura política e uma posição institucional superior, pode lhe dar a estatura política que precisa para consolidar o seu projeto de candidatura.
Essa surpreendente e imprevista mudança de rumo foi, certamente, fruto de uma avaliação cuidadosa do cenário político que está sendo desenhado na Capital para as eleições de 2024. O próprio Paulo Victor sinalizou nessa direção ontem numa postagem nas suas redes sociais. “No momento atual de turbulência pelo qual a nossa Capital passa é preciso empenho de todos. Retorno com o mesmo entusiasmo e empatia no coração para trabalhar pelo nosso povo”, disse ele, deixando claro o caráter político do seu retorno ao comando da Câmara Municipal. E a julgar pela sua desenvoltura nas poucas semanas em que esteve no exercício da presidência, não há dúvida de que a partir de hoje a Casa fundada por Simão Estácio da Silveira será bem mais presente na vida da Capital.
Essa guinada imprevista sugere duas situações. A primeira é a de que o presidente Paulo Victor bateu martelo e virou a ponta do prego no sentido de que vai brigar para ser o principal adversário do prefeito Eduardo Braide na corrida às urnas. E tudo indica que tomou a decisão com o aval do governador Carlos Brandão, que não tem escondido sua simpatia pelo projeto de candidatura. Na outra situação, também com o aval do Palácio dos Leões, o vereador Paulo Victor volta à Câmara para articular mais livremente o seu projeto de candidatura, evitando embates diretos na base governista, com o deputado federal Duarte Jr. e com o deputado estadual Carlos Lula, ambos do PSB, partido do governador Carlos Brandão.
Qualquer pesquisa feita agora sobre a sucessão em São Luís dificilmente apontará o vereador Paulo Victor entre os líderes, e certamente indicará um embate entre o prefeito Eduardo Braide e o deputado federal Duarte Jr.. Mas em qualquer roda de conversa política é quase unânime a avaliação de que o vareador concentra forte potencial de crescimento. E isso se deve em parte à sua indiscutível capacidade de articulação, como ficou demonstrado na sua eleição presidencial, por aclamação. Ou seja, terá agora os instrumentos políticos necessários para consolidar o seu projeto de candidatura.
O prefeito Eduardo Braide virou o jogo na greve dos rodoviários e comemorou o Dia do Trabalho anunciando 8,5% de aumento para os servidores municipais, mas com o contrapeso de ter ganhado um concorrente peso-pesado.
PONTO & CONTRAPONTO
Vereador mexe na fratura: são as empresas que dão as cartas no sistema de transporte de São Luís
Um dos mais profundos conhecedores do complicado e ineficiente Sistema de Transporte de Coletivo de São Luís, o vereador Álvaro Pires (PMN) tem reunido e divulgado informações que mostram a relação nada saudável da Prefeitura de São Luís, via Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte (SMTT) e as empresas concessionárias – na verdade uma empresa e três consórcios – responsáveis pelo transporte diário de meio milhão de usuários. As informações estão em matéria elaboradas pelo jornalista Henrique Bois e divulgada na edição de ontem do Jornal Pequeno.
Antes de qualquer dado técnico, a informação mais grave: são as empresas que controlam e dão as cartas no sistema, numa relação em que a Prefeitura (SMTT) é claramente manipulada. Um dado dessa convivência nociva: nos dois anos e quatro meses da atual gestão, a Prefeitura deixou de irrigar seu cofre com recursos que viriam de 5.381 autuações aplicadas pela SMTT às empresas. As multas foram aplicadas por reduções indevidas da frota ao bel prazer das empresas, não cumprimento de horários, desrespeito às normas de lotação de ônibus, salubridade, conservação e limpeza, entre outras agressões às regras do contrato.
De acordo com o vereador Álvaro Pires, as informações dessa manipulação estão guardadas numa “caixa preta” controlada pelas empresas e que é parte do jogo de chantagem que é jogada a cada situação de greve, quando a situação fica tensa. No meio disso, o Sindicato dos Rodoviários, que via de regra faz o jogo das empresas para pressionar o prefeito Eduardo Braide na briga por aumento. Na greve da semana passada, veio à tona a pergunta a respeito do que foi feito com os recursos subsidiários – cerca de R$ 2 milhões por mês – que a Prefeitura repassou às empresas com o compromisso de que parte desse dinheiro seria usado para melhorar a frota, que hoje é de apenas 912 ônibus que atentem às 179 linhas, a maioria com validade vencida há tempos.
A conclusão óbvia a respeito do que é fato é que tudo vai continuar como está até que a Prefeitura de São Luís rompa os contratos atuais, faça um reajuste no sistema, assuma de vez o papel de dona das linhas e passe a dar as cartas.
Escândalo eleitoral minou a credibilidade do atual comando da OAB/MA
Cada dia que passa, novas informações dão mais robustez ao escândalo que abalou séria e gravemente a credibilidade e o prestígio da Seccional da OAB no Maranhão no processo de escolha do nome da classe para preencher a vaga de desembargador no Quinto Constitucional do Tribunal de Justiça do Estado. Além da violação da regra básica e pétrea de que advogado inadimplente não pode votar – e centenas e centenas votaram -, outras estão emergindo em informações que surgem aqui e ali. O fato é que, no primeiro teste por meio do qual reforçaria a base ética do seu discurso de campanha e fortaleceria a identidade da OAB como instituição inatacável, exemplar, o atual comando do braço maranhense da instituição vê sua a credibilidade da sua gestão ser minada por um processo de erosão que dificilmente será estancado. E com a agravante de que o desvio eleitoral acaba arrastando a OAB/MA para uma delegacia de polícia. O lado bom da trombada com a ética é que, como em qualquer instituição democrática, os advogados do Maranhão, aqueles que cumprem a regra da contribuição anual, já têm data marcada para escolher, agora num processo sem mancha, aquele que os representarás no Colégio de Desembargadores da Justiça do Maranhão.
São Luís, 02 de Maio de 2023.