Um dos problemas que mais afetam o conturbado e irracional elenco partidário do Brasil é a inconsistência ideológica, doutrinária e programática dos partidos brasileiros, principalmente os de esquerda, e a identidade dos seus componentes. Na semana passada, o jornalista Marco D`Eça fez um rápido mas interessante registro da situação em que se encontra a secção maranhense do Partido Socialista Brasileiro (PSB), onde divergências entre seus três lideres mais importantes mantêm a agremiação sem um prumo. É o caso de outras legendas, que preservam em seus quadros políticos em nada identificados com a natureza do partido, neles ingressando apenas como abrigo, nada tendo a ver com as suas cartilhas ideológicas. O exemplo do PSB é emblemático, mas outras agremiações administram com essa falta de identidade em vários dos seus membros importantes.
No caso do PSB, bastam algumas indagações para emergir, nítida, a distância desses líderes. Oriundo do velho PDS, nascido da Arena, um dos braços do bipartidarismo criado pelos militares, para se contrapor ao MDB, de oposição, o ex-governador e atual deputado federal José Reinaldo Tavares pode até ter alguma simpatia pelo socialismo moderado do partido herdado de Miguel por Eduardo Campos, mas certamente não professa o credo socialista com o ele é. Tavares não é nem nunca foi de esquerda, pois suas posições e sua prática sempre indicaram nele um político de centro, afeiçoado às ideias liberais.
O mesmo acontece com o senador Roberto Rocha, que não é de direita, mas também não tem no seu histórico registro de simpatia ou traços de identificação com as práticas socialistas, pois ele também tem como raiz partidária o velho PDS, viveu uma larga experiência no PSDB e um ano antes das eleições de 2014, se converteu ao socialismo, não por afinidade ideológica, mas por ser o pouso mais adequado depois que o PSDB ficou pequeno para ele e o deputado federal João Castelo. Ao contrário do deputado Bira do Pindaré, que foi forjado no PT, sendo assim o migrante mais ideologicamente afinado com o PSB – mas, curiosamente, não ocupa na agremiação o espaço que sua identidade com o partido lhe permite Aí a explicação tantas divergências numa agremiação partidária.
Sempre despertou curiosidade a presença da deputada federal Eliziane Gama no Partido Popular Socialista (PPS). Evangélica militante, daquelas que não fazem muitas concessões, a parlamentar milita agora num partido cuja base é o materialismo ateísta, muito longe, portanto, da sua orientação religiosa. É sabido que para Eliziane Gama o PPS é apenas um abrigo, porque ela não tem qualquer afinidade com a ideologia e os conceitos doutrinários do partido liderado pelo militante comunista pernambucano Roberto Freire. Uma situação tão esdrúxula como a passagem do hoje pemedebista Ricardo Murad pelo PSB, do qual, auxiliado por um socialista autêntico, o então deputado federal José Carlos Sabóia, assumiu o controle no início do novo século controle e nele se manteve até que completar seu caminho de volta ao seio do Grupo Sarney pelas asas do PMDB.
Ainda sobre composição partidária, um caso continua chamando atenção: a conversão do deputado Raimundo Cutrim ao PCdoB. Com uma postura típica de um político da direita esclarecida e forjado nos quadros da Policia Federal, da qual é delegado de carreira, uma instituição cuja orientação foi escancaradamente de direita nos anos de chumbo da ditadura. Não se conhece qualquer manifestação do deputado que o identifique com os postulados materialistas e dialéticos do seu partido. Não dá para afirmar que Raimundo Cutrim tenha se convertido efetivamente, no todo ou em parte, ao comunismo professado pelo governador Flávio Dino.
Outros casos confirmam essa distorção, como é o caso da vereadora Rose Sales, que deixou o PCdoB, se filiou ao PP e menos de três meses depois ficou sem partido, estando agora atrás de uma legenda para ser candidata à Prefeitura de São Luis. Aparentemente incompatível a filiação do deputado estadual Hemetério Weba ao PV, a deputada estadual Francisca Primo e o deputado federal José Carlos no PT. Para citar apenas alguns exemplos.
A reforma política poderia ter alcançado esse problema e definido regras nessa direção. Como não fez, muitos outros exemplos dessa contradição política estão em evidência no Maranhão, e deverão se multiplicar à medida que se aproximar o fim do prazo de mudança de partido para quem deseja disputas as eleições municipais do ano que vem.
PONTOS & CONTRAPONTOS
Mais tempo, mais força
A denúncia feita pelo procurador geral da República, Rodrigo Janot acusando o senador Edison Lobão (PMDB) de mandar o então diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, entregar R$ 2 milhões à então governadora Roseana Sarney (PMDB) para financiar a campanha dela à reeleição em 2010, pode vir a ser uma grande barriga. É que até agora os investigadores não encontraram se quer vestígio do malfeito denunciado no bojo da Operação Lava Jato. Sem argumento para manter a denúncia contra Lobão e Roseana, o chefe do Ministério Público Federal pediu mais 60 dias para encontrar algo que justifique a denúncia. A decisão do ministro Teori Zavascki coloca o procurador geral da República em situação delicada, porque se nesse período ele não encontrar provas que incriminem, de fato, Lobão e Roseana, e poderá até mesmo extinguir a ação.
Tarefa difícil
Não será fácil a vida do secretário-adjunto de Assuntos Políticos e Federativos, Ronaldo Chaves, que foi escolhido pelo secretário Márcio Jerry para ser o homem do Governo na Assembleia Legislativa. E terá uma sala no Palácio Manoel Bequimão de onde cuidará dos interesses dos deputados no, como emendas, requerimentos com pedido de obras e outros pedidos e solicitações. Não será uma tarefa fácil nem tranquila, pois o sucesso dela será também o seu sucesso e o insucesso do governo também.
São Luís , 05 de Setembro de 2015.
Apenas um registro, no Governo passado, está função/cargo, agora exercido/ocupado pelo ilustre desconhecido “Ronaldo Chaves” era exercido pelo ex-Deputado Federal, ex-Deputado Estadual, Ex-Presidente da Assembléia Legislativa, Pastor Enoc Vieira, realmente, uma grande “mudança”, pra pior…