Fatos recentes e em andamento na refrega entre Oposição e Situação no Maranhão apontam para uma situação curiosa, antes improvável: o Grupo Sarney parece dividido na atuação oposicionista contra o Governo Flávio Dino. Antes, as manifestações críticas e ataques eram feitos por figuras destacadas do sarneysismo, detentoras ou não de mandato, como Roseana Sarney (MDB), Edison Lobão (MDB), João Alberto (MDB), Sarney Filho (PV) e Lobão Filho (MDB); agora, essas vozes estão em silêncio, enquanto o papel de atacar o dinismo está sendo exercido por figuras de menor expressão dentro do Grupo, como os deputados estaduais Adriano Sarney (PV) e César Pires (PV) e os deputados federais Aloísio Mendes (Podemos) e Edilázio Jr. (PSD). Antes, quando algum “graúdo” do Grupo Sarney disparava contra Flávio Dino (PCdoB), seus aliados ou ao seu Governo como um todo, suas palavras repercutiam e produziam reações de igual contundência; agora, por mais contundentes que sejam as manifestações dos atuais porta-vozes do Grupo, elas causam no máximo reações localizadas, sem causar qualquer arranhão na Situação.
O grau de animosidade dos novos porta-vozes do sarneysismo está sendo evidenciado neste momento e se traduz na agressividade com que os deputados federais Aloísio Mendes e Edilázio Jr. investem contra o secretário de Segurança Pública, Jefferson Portela, a quem ataca duramente, acusando-o de mandar delegados interceptar ilegalmente conversas telefônicas de políticos e membros da magistratura. Conseguiram realizar oitivas com dois delegados altamente suspeitos para obter deles declarações que comprometessem o secretário e, por tabela, o Governo. Um caso que, pelas características da denúncia e pelo desempenho dos acusadores, não parece ter o dedo de José Sarney nem de Roseana Sarney. Os líderes maiores do sarneysismo não correriam o risco de ver o feitiço virar-se contra o feiticeiro. Daí a impressão de que, pelo menos nesse caso, os novos porta-vozes do Grupo Sarney não estão agindo por orientação dos seus chefes maiores.
A investida do deputado Edilázio Jr. com o objetivo de encontrar malfeitos na administração do Complexo Portuário do Itaqui tem outro viés: tentar desacreditar a atua gestão da Emap vislumbrando a possibilidade de o Governo Federal volte a federalizar o Porto e o entregue a um aliado de José Sarney. O deputado Edilázio Jr. tanto bateu nessa tecla que conseguiu trazer a São Luís, ontem, uma comissão da Câmara Federal para vistoriar o complexo em busca de “irregularidades e ilegalidades”. A possibilidade de esse estratagema dê certo é absolutamente remota.
Nesse contexto, um dado chama a atenção: a atuação do MDB, que a rigor representa o que há de mais autêntico do sarneysismo no Maranhão, mas que nesse novo contexto tem uma atuação marcada, no mínimo, pela ambiguidade. Antes expoente maior das linhas de ação política traçadas e orientadas pelo ex-presidente José Sarney, o braço maranhense do MDB optou gradualmente por uma posição pragmática, preferindo fazer uma estratégia mais cuidadosa, sem entrar de cabeça em um vale-tudo aberto e sem regras. No partido, duas correntes tentam conviver, uma representada pelo ex-senador João Alberto, que defende manter o dinismo sob pressão, e outra, representada pelo deputado estadual Roberto Costa, que prefere tratar o Governo pontualmente, criticando o que considera errado e aprovando o que entende ser de interesse da sociedade. Na bancada federal, o deputado Hildo Rocha (MDB), que já foi radical e agressivo em relação a Flávio Dino e seu grupo, hoje usa um tom oposicionista mais moderado.
O fato é que essencialmente nenhuma das investidas dos novos porta-vozes do Grupo Sarney produziu qualquer resultado prático, a não ser o acumulo de desgastes para o líder maior do Grupo, José Sarney, que acaba pagando preço alto pelos tropeços dos seus liderados, que parecem estar querendo ganhar vida própria, longe da sua orientação, e, ao que tudo indica, a um custo muito elevado.
PONTO & CONTRAPONTO
Acordo Mercosul-União Europeia: Hildo Rocha exalta Bolsonaro e ignora que tudo começou com Sarney
O deputado federal Hildo Rocha (MDB) saudou festiva e entusiasticamente a diplomacia brasileira pelo auspicioso acordo entre o Mercosul e a União Europeia, destacando que em alguns anos a entrada a participação do Brasil no mercado europeu engordará o PIB brasileiro em US$ 87,5 bilhões, e definindo assim o resultado: “Essa é uma das maiores conquistas do governo do presidente Jair Bolsonaro para todos nós brasileiros. Só temos a ganhar com esse acordo. Meu estado, o Maranhão, será enormemente beneficiado”.
Não se discute a importância do acordo Mercosul-União Europeia, que num processo gradual, que levará alguns anos, beneficiará expressivamente as economias dos dois blocos. Mas creditar o entendimento aos esforços diplomáticos do Governo Bolsonaro é um exagero. Talvez por ignorância, o já presidente Jair Bolsonaro ameaçou detonar o Mercosul. E no que respeita ao acordo, a verdade é que ele vem sendo discutido desde o final dos anos 90 do século passado, tendo as negociações ganhado força nos Governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), tendo o último deixado o terreno preparado para o próximo Governo, independentemente de quem fosse o presidente, desse os toques finais e marcasse o gol. Coube, por capricho da História, a Jair Bolsonaro – que se lhe for perguntado de chofre não sabe de cor quantos países tem o Mercado Comum Europeu -, marcar o gol. Vale lembrar que o acordo é fruto de um esforço diplomático também de Argentina, Uruguai e Paraguai, que juntos com o Brasil são a base do Mercosul.
Provavelmente por desatenção, o deputado Hildo Rocha cometeu uma grande injustiça ao ignorar o fato de que nada disso estaria ocorrendo se não fossem os esforços hercúleos do então presidente José Sarney, que foi o grande baluarte da criação do Mercosul, juntamente com o então presidente da Argentina, o seu parceiro e amigo Raul Alfonsín. Embalados pela condição de restauradores da democracia nos seus países, José Sarney e Raul Alfonsín enfrentaram pressões poderosas dos Estados Unidos, que enxergaram no bloco econômico sulista uma grave ameaça ao seu domínio econômico e político na região. Por conta desse e outros entraves, José Sarney e Raul Alfonsín não tiveram o prazer de inaugurar sua grande obra política regional, uma vez que o Mercosul foi criado formalmente no dia 26 de Março de 1991, em Assunção, sendo o Brasil representado pelo então presidente Fernando Collor (PRN).
Difícil compreender que um representante do Maranhão vá à tribuna da Câmara Federal e discurse sobre o acordo Mercosul-União Europeia ignorando que tudo começou há pouco mais de três décadas pela ação política de um presidente maranhense.
DESTAQUE
Por iniciativa de Roberto Costa, Assembleia Legislativa homenageia Casa de Apoio Ninar
A sessão solene realizada quarta-feira (3), na qual a Assembleia Legislativa lembrou os dois anos de criação da Casa de Apoio Ninar e homenageou sua diretora, a neuropsiquiatra da Patrícia da Silva Souza, destoou das outras realizadas neste primeiro período da nova legislatura, e deve entrar para os anais da instituição como um ato especial, pelos vários aspectos que a envolveram. Para começar, um fato político deve ser destacado: a homenagem a uma das mais marcantes e simbólicas obras do Governo Flávio Dino foi proposta por um deputado de Oposição, Roberto Costa (MDB), que se encantou com o projeto e lhe destinou R$ 400 mil em emenda parlamentar, contrariando de frente a postura inicial do Grupo Sarney em relação ao projeto.
No que diz respeito à homenagem em si, a Assembleia Legislativa acertou em cheio ao aprovar a proposta do deputado Roberto Costa, uma vez que a Casa de Apoio Ninar é um espaço que atende famílias com crianças com microcefalia congênita –, como centro de convivência e espaço para oficinas, cursos, palestras e assistência especializada de uma equipe multidisciplinar composta por 58 profissionais, para pais e crianças com problemas de neurodesenvolvimento. Ali são cuidadas crianças com microcefalia causada pela Zika. O atendimento da Casa de Apoio Ninar tem como princípio a maternagem, técnica que busca estabelecer uma relação maternal entre profissional e paciente. Para isso, o espaço conta com um serviço que, além da técnica de ponta que é referência para todo o país, realiza um atendimento humanizado.
O simbolismo está no fato de que a Casa de Apoio Ninar foi instalada na antiga Casa de Veraneio do Governador do Estado, onde por muitos anos foram realizadas festas e recepções oficiais e não-oficiais. Durante a campanha, o candidato Flávio Dino incluiu no seu plano de ação a venda da mansão, localizado em ponto estratégico da Praia de São Marcos. Já empossado, mudou de ideia, optando por dar ao imóvel um destino mais nobre.
– É um programa que nos enche de orgulho. Estamos fazendo uma justa homenagem pelos dois anos de funcionamento desse extraordinário projeto, por meio de um trabalho de assistência pediátrica a crianças na área de neuropsiquiatria – destacou Roberto Costa.
No comando da sessão solene, o presidente Othelino Neto (PCdoB) destacou a homenagem observando que o projeto é o único dessa natureza no Brasil. “A homenagem é uma forma de destacar, principalmente, a importância do projeto Casa de Apoio Ninar, por ser importante e ímpar. Aquele espaço, que antes era destinado a ações não essenciais, agora se volta para essa causa tão nobre que é cuidar de crianças especiais e de suas famílias, prestando-as assistência”, assinalou.
Na mesma sessão, a Assembleia Legislativa, também por iniciativa do deputado Roberto Costa, homenageou a diretora da Casa de Apoio Ninar, a neuropsiquiatra Patrícia da Silva Souza, que recebeu a Medalha do Mérito Legislativo Manoel Beckman. “É uma figura que dedica seu tempo e seu amor para aperfeiçoar essa metodologia, aplicando os avanços da Medicina em benefício das crianças especiais, com epilepsia e microcefalia congênita, por conta da ação do Zika. Portanto, nada mais justa do que essa homenagem da Assembleia ao projeto e à diretora Patrícia Souza”, destacou Roberto Costa, que foi saudado por colegas deputados e autoridades presentes à sessão.
São Luís, 05 de Julho de 2019.