MPF manda e Flávio Dino vai mudar nomes dados ilegalmente a espaços públicos em 50 cidades

 

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Flávio Dino v ai conduzir o processo de troca de nomes em áreas públicas

O que há duas semanas parecia uma discussão causada por provocações na Assembleia Legislativa, agora é fato consumado. Acatando, sem discutir, recomendação da Procuradoria da República no Maranhão, o governador Flávio Dino (PCdoB) assinou decreto que determina a ocultação ou remoção de nomes de pessoas vivas em prédios pertencentes ou sob a administração do Poder Executivo do Estado do Maranhão. O decreto reza também que os nomes de pessoas vivas serão trocados pelos de pessoas mortas de acordo com sugestões dos gestores desses órgãos encaminhadas ao governador do Estado. E a escolha terá como base alguns critérios: que, além de já ter falecido, o homenageado tenha sido probo e tenha contribuído para o desenvolvimento do estado.

O decreto alcança unidades educacionais e de saúde, museus, bibliotecas, sedes de repartições e serviços públicos, prédios, monumentos, ginásios, estádios, autarquias, fundações, institutos e quaisquer logradouros públicos (praças, ruas, avenidas, travessas, pontes, bairros, vilas, distritos, parques), bem como obras públicas em cidades não poderão conter nome de pessoas vivas. O prazo para a mudança é de 60 dias.

Serão inicialmente alcançados 50 municípios das regiões polarizadas por Caxias (Afonso Cunha, Aldeias Altas, Barão do Grajaú, Buriti Bravo, Codó, Coelho Neto, Duque Bacelar, Gonçalves Dias, Governador Archer, Governador Eugênio Barros, Lagoa do Mato, Matões, Nova Iorque, Parnarama, Passagem Franca, Pastos Bons, São Domingos do Azeitão, São Francisco do Maranhão, São João do Sóter, São João dos Patos, Senador Alexandre Costa, Sucupira do Norte, Sucupira do Riachão, Timbiras e Timon) e por Bacabal (Altamira do MA, Alto Alegre do MA, Bom Lugar, Brejo de Areia, Conceição do Lago-Açu, Esperantinópolis, Igarapé Grande, Lago da Pedra, Lago do Junco, Lago dos Rodrigues, Lago Verde, Lagoa Grande do MA, Olho d’Água das Cunhãs, Paulo Ramos, Peritoró, Pio XII, Poção de Pedras, São Luís Gonzaga do MA, São Mateus do MA, São Raimundo do Doca Bezerra, São Roberto, Satubinha e Vitorino Freire).

O Palácio dos Leões já teria sido informado de que recomendação com o mesmo teor alcançará em breve a Ilha de São Luís, com ênfase, é claro, na Capital do Estado. Nesse caso, a medida alcançará grandes e importantes prédios, monumentos, espaços e logradouros já plenamente identificados com os nomes que receberam ilegalmente, segundo o MPF. Seguem-se cinco exemplos:

1 – Maternidade Marly Sarney – Construída no final dos anos 60, ainda no Governo de José Sarney, é uma das mais importantes casas de saúde de São Luís. Não há quem não a conheça ou não tenha ouvido dela falar como tal. Trata-se, portanto, de um nome há muito incorporado ao dia a dia e até mesmo à história recente do Maranhão. Rebatizá-la será um desafio e tanto para o atual secretário estadual de Saúde e para o governador Flávio Dino. Nesse caso, além da batata quente nas mãos dos atuais gestores, a providência certamente acirrará o mal-estar político. Vale perguntar: quem substituirá a ex-primeira dama do Maranhão e do Brasil.

2 – Ponte José Sarney – Construída no Governo José Sarney, a ponte que abriu caminho para a região das praias e permitiu a criação de uma nova cidade a partir do São Francisco, é mais conhecida pelo nome do bairro, foi batizada oficialmente de Ponte José Sarney, situação que praticamente ninguém no Maranhão desconhece. Rebatizá-la com outro nome certamente aumentará o mal-estar político do Grupo Sarney com o atual governo, que certamente se livrará da responsabilidade usando o argumento segundo o qual apenas atenderá a uma recomendação do MPF. Resta saber quem vai substituir José Sarney.

3 – Avenida Ferreira Gullar – Extensão da Avenida Litorânea que contorna o bairro do São Francisco e o liga à Avenida Carlos Cunha, foi inaugurada no final dos anos 90 do século passado pela governadora Roseana Sarney (PMDB), com a presença do autor de Poema Sujo, considerado um dos mais importantes poemas da moderna poesia brasileira. Respeitado em todo o mundo como um dos mais importantes poetas de língua portuguesa e também pela sua luta contra a ditadura, Gullar relutou em aceitar a homenagem, mas diante da insistência, impôs-se na época o enorme sacrifício de voar – tem pavor de viajar de avião – do Rio de Janeiro até São Luís, para receber a honraria, juntamente com outro gigante da poesia, José Chagas, que foi à mesma festa e emprestou seu nome a uma praça que liga as duas avenidas. Será uma mudança complicada.

4 – Elevado Alcione Nazareth – A cantora maranhense foi homenageada por tudo o que já fez – e continua fazendo – pela cultura do Maranhão. Ícone da Música Popular Brasileira, principalmente como intérprete de samba, Alcione aceitou a homenagem feita pela governadora Roseana Sarney, certa de que não passaria por constrangimentos como o que certamente passará se o MPF seguir em frente e chagar a São Luís, o que para muitos é apenas uma questão de tempo – pouco tempo, vale enfatizar. Será uma escolha difícil.

5 – Estádio Governador João Castelo, o Castelão – Poucas ações públicas são tão ligadas ao gestor que as realizou como o Castelão é ligado ao ex-governador João Castelo. Tanto quanto a Ponte José Sarney identifica o ex-presidente da República, o Castelão remete ao hoje deputado federal João Castelo. Trata-se, portanto, de um caso muito especial, que envolve, além dos interessados, os aficionados por futebol, que veem no Castelão uma espécie de símbolo maior desse esporte no Maranhão e, sempre que podem, rendem homenagem ao ex-governador. Nos bastidores correm rumores de que o estádio receberia o nome de Herbert Fontenele, em homenagem ao comentarista recém falecido. Uma mudança que dará muito o que falar.

 

PONTOS & CONTRAPONTOS

Guerra paroquial I

louro-horzAterrissa mais cedo do que se imaginava na mesa do governador Flávio Dino os problemas que começam a tensionar disputas regionais por causa das eleições municipais do ano que vem. Ontem, o deputado Vinícius Louro (PR) acusou o secretário de Indústria e Comércio, Simplício Araújo, suplente de deputado federal, de tê-lo agredido ao rotulá-lo, em declarações na imprensa, de “batedor de carteira”. O parlamentar reagiu com indignação, rebatendo o secretário e acusando-o de estar praticando atos ilícitos na sua pasta, como a nomeação de parentes, não estando, por isso, moralmente habilitado a permanecer no cargo. Em tom cada vez mais elevado, o deputado perguntou: “Governador, o secretário de Estado da Indústria e Comércio, é digno deste governo?”

 

Guerra paroquial II

Com o argumento de que ele e seus familiares – entre ele o seu pai, o ex-deputado e ex-prefeito de pedreiras Raimundo Louro -, Vinícius Louro chamou o secretário de “pseudo bacabalense” e “eterno suplente de deputado federal”. O deputado acusou o secretário de usar “vocabulário lastimável e retórica agressiva”, e de não ter “trabalho prestado ao povo, especialmente na minha querida terra, Pedreiras”. Ao contrário do ex-deputado Raimundo Louro, que “apesar de toda a perseguição que sofremos, mesmo assim vem se consagrando como a maior liderança política de toda aquela região”. Vinícius Louro ganhou o apoio e a solidariedade dos deputados Júnior Verde (PR), Adriano Sarney (PV) e Sousa Neto (PTN), que criticaram duramente o secretário Simplício Araújo.

 

Guerra paroquial III

Claro que o embate entre Vinícius Louro e Simplício Araújo decorre da luta política paroquial de Pedreiras, onde os grupos que representam se digladiam no dia a dia. No cenário estadual, o deputado aparentemente está em vantagem, porque é detentor de mandato. Mas nos bastidores é sabido que o governador Flávio Dino não chamará o secretário às falas por causa do ataque ao deputado. Louro é da base do governo, mas o secretário Simplício Araújo integra o núcleo de confiança do governador, o que lhe dá uma vantagem enorme em relação ao deputado. E mais: na disputa pela Prefeitura de Pedreiras, dificilmente o grupo governista e o grupo dos Louro estarão do mesmo lado.

 

São Luís, 01 de Julho de 2015.

4 comentários sobre “MPF manda e Flávio Dino vai mudar nomes dados ilegalmente a espaços públicos em 50 cidades

  1. A retirada de nomes de pessoas vivas de obras publicas, sera a única ação significativa destes governo. De resto, não veremos mais nada de significante.

  2. Amigo Correa, venho acompanhando seu blog sempre que posso, gostaria de parabeniza-lo, é bom ler textos coerentes e com opiniões próprias, sem achincalhar quem quer que seja, mostrando as situações e colocando, quando pertinente, sua opinião. Em geral os blogs são vendidos a alguém, geralmente algum politico, o que tira a legitimidade da informação.

    Grande Abraço.

    Alan Neto

  3. As ruas e avenidas de São Luís têm 2 nomes para desespero de carteiros e GOIás. Essa medida do MPF só vai completar essa anomalia. Não seria melhor esperar os vivos morrerem. Castelo já foi. Ferreira Gullar já foi. Sarney não demora muito. Não é agouro, é a natureza.

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