Se os números da pesquisa Escutec para a disputa presidencial no Maranhão, divulgados neste sábado (18), se mantiverem nos próximos 100 dias, o presidente Jair Bolsonaro (PL) levará nova surra de votos no estado, dessa vez do ex-presidente Lula da Silva (PT). Os números são os seguintes: Lula da Silva tem 57% das intenções de voto, enquanto que Jair Bolsonaro aparece com 31%, seguido de Ciro Gomes (PDT) com 9% e, surpresa das surpresas, de André Janones (Avante), que surgiu do nada, com 1%. Além dos percentuais, uma informação importante e decisiva trazida pela pesquisa: neste momento, ainda de pré-campanha, o eleitorado maranhense já está posicionado na corrida presidencial, não havendo praticamente eleitores indecisos ou que não querem votar em nenhum deles, pretendendo votar em branco ou anular o voto. E a pergunta que surge é a seguinte: esse cenário vai se manter pelos próximos 105 dias?
Para começar, a vantagem de Lula da Silva – que é um ex-presidente da República e passou mais de 500 dias preso sob acusação de corrupção não provada – é excepcional. No Maranhão, ele tem 26 pontos percentuais de vantagem sobre Jair Bolsonaro, atual presidente da República, atropelando a força do cargo mais poderoso do País. Por conta de uma série de fatores – confronto ideológico, influência dos programas sociais e histórico dos dois candidatos -, a polarização Lula/Bolsonaro no estado, como no resto do Brasil, tornou-se o epicentro da corrida ao Palácio do Planalto, produzindo um cenário no qual dificilmente haverá espaço para a chamada “terceira via”. Qualquer roda de conversa sobre o tema em território maranhense – seja entre políticos, entre amigos, em família, etc. -, o debate se dá entre lulistas e bolsonaristas, cabendo no máximo referências esporádicas sobre o potencial de Ciro Gomes, que segundo o Escutec tem seu quinhão maranhense, e agora sobre a novidade Simone Tebet (MDB), que foi ignorada na pesquisa.
Não há dúvida de que, mesmo levando em conta o fato de que foi injustiçado, vítima de uma gigantesca armação para tirá-lo da disputa de 2018, como veio a ser demonstrado nas decisões do Supremo Tribunal Federal que o tiraram da cadeia e lhe devolveram a cidadania plena e a elegibilidade, o ex-presidente Lula perdeu alguns percentuais de intenções de voto no Maranhão. Essa tímida redução do poder de fogo eleitoral decorre do fato de que o seu adversário, Jair Bolsonaro, não é mais apenas o capitão reformado e o deputado federal falastrão e pouco operoso que soube dar voz à direita mais conservadora – para quem Lula da Silva é comunista e come criancinhas – e se tornou presidente da República, chefe de uma máquina funcional excepcional, gestor de orçamento bilionário, detentor de um poder político fora do comum devido à força do cargo, exatamente por conta da massa de recursos que controla. Embora desgastado pelo desastre que é o seu governo e quase transformado em pária internacional por seu trumpismo tupiniquim, o Jair Bolsonaro de hoje é muito mais poderoso do que o de 2018, condição que usa para alimentar sua retórica e seus gestos antidemocráticos, e assim alimentar partidários das mesmas ideias.
Essa disputa cristaliza a forte posição política do ex-presidente Lula da Silva no Maranhão, onde foi presente nos seus oito anos de mandato (2002/2010), quando, por exemplo, trouxe o Bolsa Família para mais de um milhão de cadastrados, o que ampliou e consolidou sua forte base política no estado, que conta diretamente com o ex-governador Flávio Dino (PSB), com o governador Carlos Brandão (PSB) e com a senadora Eliziane Gama (Cidadania). Agora, Jair Bolsonaro tenta fazer o contrapeso com o Auxílio Brasil, criando facilidades para políticos alinhados, o que lhe permitiu formar uma base de apoio político, juntando quadros como o senador Roberto Rocha (PTB) e o deputado federal Josimar de Maranhãozinho (PL).
Os próximos dois meses dirão se o ex-presidente Lula da Silva manterá sua vantagem excepcional mostrada agora pelo Escutec ou se Jair Bolsonaro, dilapidando os cofres da República com pacotes de bondades de última hora, diminuirá a vantagem de forma a tornar o embate eleitoral mais duro.
Em Tempo: A pesquisa foi realizada em 70 municípios do Maranhão, ouviu duas mil pessoas no período de 11 e 16 de junho, tem margem de erro de 2,19%, para mais ou para menos, intervalo de confiança de 95% e está registrada na Justiça Eleitoral sob o número MA-05721/2022.
PONTO & CONTRAPONTO
Dino mantém vantagem larga sobre Rocha na corrida ao Senado
O ex-governador Flávio Dino (PSB) continua com o caminho aberto em direção ao Senado da República. De acordo com a pesquisa Escutec, se a eleição fosse hoje, ele venceria a disputa com 52% dos votos contra 27% do senador Roberto Rocha (PTB) e 3% da candidata do PSOL, professora Antônia Coriongo. O levantamento informa que 7% não votariam em nenhum deles, anulariam o voto ou votariam em branco, e que 11% permanecem indecisos.
A liderança do ex-governador Flávio Dino reúne todas as evidências de ser sólida, tornando muito difícil a possibilidade de o senador Roberto Rocha reverter a tendência e virar o jogo. Numa disputa polarizada como a do Maranhão para a vaga de senador, é natural que, dependendo dos fatos e das circunstâncias que possam ocorrer durante a campanha haja alguma oscilação numérica, mas não suficientemente forte para mudar as posições. Um exemplo: na situação de agora, mesmo que os 14% migrassem integralmente para o senador Roberto Rocha, ele chegaria a 41%, 11 pontos percentuais menos que a vantagem do líder.
A posição de Flávio Dino em relação a Roberto Rocha está quase no mesmo patamar da vantagem que o ex-presidente Lula da Silva tem sobre o presidente Jair Bolsonaro no Maranhão. Nesse contexto, como Flávio Dino e Lula da Silva são formalmente aliados e farão campanha juntos, a previsão lógica, mesmo com todo o elevado grau de imprevisibilidade, é que dificilmente o ex-governador Flávio Dino arquive seu plano de se instalar em Brasília pelos próximos oito anos.
Gutemberg pode ser mesmo o vice de Lahesio
O que foi interpretado inicialmente como uma especulação parece estar ganhando status de possibilidade real e concreta: o vereador Gutemberg Araújo (PSC) pode vir a ser o companheiro de chapa do ex-prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahesio Bonfim (PSC), ao Governo do Estado. Terceiro colocado na disputa, distanciando-se do ex-prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Jr. (PSC), e ganhando forma de ameaça ao senador Weverton Rocha (PDT), Lahesio Bonfim encontrou no experiente e conceituado vereador de São Luís o parceiro que precisava na tarefa de se aproximar de segmentos líderes e segmentos importantes da Capital, a começar pelo prefeito Eduardo Braide (sem partido), que o recebeu afável e amistosamente na semana passada, depois de ter ele se reunido com empresários. Mesmo tendo fracassado na tentativa de presidir a Câmara Municipal, renunciando à sua candidatura diante do rolo compressor em que se tornou a candidatura do vereador Paulo Victor (PCdoB), que acabou eleito por aclamação, Gutemberg Araújo manteve sua postura respeitável, politicamente correta, de quem nasceu no berço tucano, ganhou estatura e prestígio para seguir seu próprio rumo, que pode agora ser o de companheiro de chapa do candidato a governador que veio do interior.
São Luís, 19 de Junho de 2022.