Lobão é alvo de várias acusações, mas sua defesa reage cobrando que sejam apresentadas provas

 

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Lobão: acusações até agora sem provas

Mais uma vez vazamento revelador de depoimentos e dados de investigação da Operação Lava Jato citam o senador Edison Lobão (PMDB) como envolvido no esquema de propina que financiou campanhas eleitorais recentes, inclusive a de 2014, agora alcançando a presidente Dilma Rousseff (PT). Lobão é sempre citado como o ministro de Minas e Energia que articulou com empreiteiras – agora é a Andrade Gutierrez – para obter dinheiro sujo, maquiado de dinheiro limpo, para financiar a campanhas eleitorais do PT e do PMDB. As citações do senador maranhense por delatores são até aqui periféricas, sem dados que as legitimem como informação correta e, mais do que isso, sem trazer dados concretos como base de comprovação. E até aqui, a defesa do senador, feita pelo renomado criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakai, tem sido taxativa ao afirmar que as acusações não têm lastro que, portanto, não procedem.

O senador Edison Lobão foi citado nas primeiras fases da Operação Lava Jato, quando as investigações alcançaram o grande esquema de corrupção que drenou bilhões de reais da Petrobras em propina. De acordo com o que veio à tona, o chefe operação do esquema de corrupção, Paulo Roberto Costa, então diretor de Abastecimento da petroleira, disse, em depoimento, que, a pedido de Lobão, então ministro de Minas e Energia, autorizara o doleiro Alberto Yousseff a entregar R$ 1 milhão para o caixa de campanha à reeleição da então governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB). Surpresa das surpresas: o doleiro Alberto Yousseff declarou, e continua mantendo a declaração, que não se recorda de ter feito tal operação. A Polícia Federal (PF) chegou a fazer uma acareação de Costa com Yousseff, mas o doleiro manteve a versão de que tal operação não aconteceu. De lá para cá, todas as ações da PF no sentido de o0bter uma prova contra Lobão deram em nada. O inquérito, no entanto, prossegue.

Meses depois, veio à tona o escândalo da usina atômica de Angra 3, cuja construção, segundo o Ministério Púbico federal (PMF), teria sido contaminada por atos de corrupção. Novamente o nome do senador apareceu na relação dos beneficiários do esquema. E mais uma vez o envolvimento do senador ficou na periferia, à base de “fulano disse que fulano falou”. Também nesse caso, nenhuma prova concreta foi levantada contra o senador pemedebista, cuja defesa insiste em excluí-lo da relação de acusados e suspeitos, usando o mais forte dos argumentos no caso que dispõe: a falta de provas.

Na semana passada, o mundo foi surpreendido pelo escândalo batizado de Panamá Papers – o vazamento de milhões de documentos de um escritório de advocacia do Panamá revelando que figuras importante do poder em todo o planeta usaram a firma para abrir empresas off-shore para esconder bilhões em paraísos fiscais, incluindo o próprio Panamá. Entre os mandatários que movimentaram milhões nessas cintas estão ditador sírio Assad, o ex-ditador líbio Muamar Kadaf e o agora primeiro ministro da Islândia, que não suportou a pressão e renunciou no início da semana. Uma das contas seria do empresário Luciano Lobão, mas o nome que aparece como suspeito é o do senador, que mais uma vez veio a público, por meio dos seus advogados, afirmar, em alto e bom tom, que nada tem a ver com a tal empresa a ele atribuída.

No meio desta semana, um novo vazamento de delações premiadas da Operação Lava Jato trouxe ao conhecimento público a informação – até agora não confirmada – segundo a qual o então ministro Edison Lobão teria acertado propina com as empreiteiras que constroem a Hidrelétrica de Belo Monte, no Norte do Pará, para ser repassada ao PT e ao PMDB na campanha de 2014. De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, quem denuncia o suposto esquema é o ex-chefão da construtora Andrade Gutierrez, Otávio de Azevedo. Em relação ao senador Lobão, ele teria revelado que o então ministro teria sugerido a formação de dois grupos de empresas para disputar a obra de Belo Monte e, assim, disfarçar a propina relativa a 1% do valor da obra. Esse malabarismo estaria registrado numa suposta planilha. E como das outras vezes, a defesa de Lobão reagiu cobrando provas aos acusadores.

Até aqui, as denúncias envolvendo o senador maranhense prosperou, já que todas elas se esgotam numa teimosa falta de elementos que afirmem, de maneira inatacável, que o ex-ministro de Minas e Energia embolsou tais e tais valores por essa ou aquela via transversa da corrupção. Tanto que o Ministério Público Federal pediu duas vezes mais tempo para investigá-lo mais amiúde. Até aqui, Lobão tem sido alvo de uma pancadaria inclemente, que atura em silêncio, aguardando o desfecho que, segundo o seu advogado, confirmará a tese segundo a qual ele não tem contas a ajustar com a Justiça.

 

PONTO & CONTRAPONTO

MST de volta aos Leões I

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Dino e  Stédile (centro): governo faz parceria com MST para  alfabetização no campo

Enquanto no Paraná o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), onde o PSDB governa, está sendo tratado como transgressor da ordem social, enfrentando por isso a força policial, no Maranhão esse movimento é recebido no Palácio dos Leões pelo governador Flávio Dino (PCdoB) para a definição de um acordo pelo qual Governo e MST firmam parceria para viabilização do programa de alfabetização “Sim, Eu Posso!”, oferecido pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular”, nos oito municípios mais carentes do Maranhão. A reunião aconteceu ontem de manhã, quando o governador Flávio Dino recebeu o controvertido coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, e um grupo de chefes do movimento no estado. O programa “Sim, Eu Posso!” tem por e o método educacional do célebre pedagogo Paulo Freire, que sacudiu o Brasil no início dos anos 60 ao pregar que a alfabetização é um fator de inclusão social e de libertação, principalmente quando ela é feita com base na realidade cultural, social e econômica. Na discussão, Dino e Stédile discutiram questões relacionadas com o desenvolvimento social e agrário do Maranhão. “Estamos avançando na nossa mobilização em torno da temática da alfabetização. Há um foco inicial nos 30 municípios do Plano Mais IDH. Neles será aplicado método conhecido internacionalmente, inspirado no grande educador Paulo Freire”, explicou o governador. O método de alfabetização, criado pelo Instituto Pedagógico Latino-Americano e Caribenho de Cuba (Iplac), com base na pedagogia de Paulo Freire, visa alfabetizar em oito meses mais de 14 mil jovens, adultos e idosos em oito municípios maranhenses dos 30 que apresentam menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). “Repassamos uma agenda de interesse do povo maranhense. Em primeiro lugar, o programa de alfabetização de adultos, no qual nós estamos empenhados para que oito municípios do Maranhão finalmente erradiquem o analfabetismo”, observou João Pedro Stédile.

MST de volta aos Leões II
jackson e chavez
Jackson apostou numa parceria bolivariana com Chavez

O MST volta a firmar parceria com o Governo do Estado sete anos depois de ter sido banido do Palácio dos Leões. Explica-se: no Governo Jackson Lago (PDT), que tinha um viés à esquerda, o MST participou ativamente do programa de mobilização no campo, costurando uma polêmica parceria com o regime bolivariano de Hugo Chaves, que comandava a Venezuela naquele momento, e chegou a fazer uma escala em São Luís para demonstrar aliança com o líder maranhense. João Pedro Stédile se tornou uma espécie de conselheiro especial do governador Jackson Lago, tendo forte influência nas suas decisões relacionadas com os problemas do campo. Nessa condição, ganhou trânsito livre no Governo e no Palácio dos Leões, aonde chegava sem avisar e era recebido pelo governador sem marcar audiência. Lago e Stédile se tornaram grandes amigos. Com a queda do Governo do PDT, e a posse da governadora Roseana Sarney (PMDB), em maio de 2009, Stédile e o MST sumiram do Palácio dos Leões e passaram a fazer forte oposição ao novo Governo. Agora, com a linha de esquerda do governador Flávio Dino, João Pedro Stédile e o movimento que comanda estão de volta. Com uma diferença bem acentuada: ao contrário de Jackson Lago, que se movia por um idealismo quase juvenil, Flávio Dino é um militante de esquerda com os pés firmes no chão, com plena ciência do seu papel, e assim blindado a influências.

 

São Luís, 08 de Abril de 2016.

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