Se PSB e PSDB não promoverem costuras internas para evitar a tendência de racha que os ameaça no Maranhão, dificilmente segurarão os seus quadros mais importantes, os deputados federais José Reinaldo Tavares e João Castelo, respectivamente. As declarações dadas pelos dois nas entrevistas publicadas na edição de domingo (10) do Jornal Pequeno foram reveladoras de que ambos, cada um com seus motivos, estão a poucos metros da porta de saída dessas agremiações. Se os rompimentos se confirmarem, o quadro político Maranhão viverá uma guinada importante, com repercussões na corrida para as eleições municipais de outubro e no complicado tabuleiro em que as peças se moverão para as eleições de 2018. Isso porque, mesmo sem poder de fogo para definir rumos, os dois, que levam no currículo o fato de terem sido governadores, carregam ainda cacife para criar embaraços políticos na base hoje liderada pelo governador Flávio Dino (PCdoB).
Quando criticou a ação política do governador Flávio Dino, reclamando que ele está focado apenas no fortalecimento do PCdoB – tarefa que vem sendo cumprida de maneira arrojada e sem reservas pelo secretário de Articulação Política e Assuntos Federativos, Márcio Jerry, deixando parceiros para trás, sem o mesmo incentivo, José Reinaldo incluiu no discurso o alerta de que o chefe do Executivo poderá ficar política e partidariamente isolado. Com argúcia, o ex-governador no reclamou como voz isolada, mas usou o plural para lembrar que essa grita não é só dele, mas é também de outros aliados, como é o caso do PDT, cujo líder, deputado federal Weverton Rocha, tem feito duras críticas à ação politica do governador pelo mesmo motivo: para o PCdoB tudo, para os aliados, nada!
José Reinaldo nunca se sentiu inteiramente confortável no PSB, onde não tolera dividir espaço com o hoje senador Roberto Rocha nem com o atual deputado estadual licenciado e secretário de Ciência e Inovação Tecnológica, Bira do Pindaré. Um dos chefes da aliança que levou Flávio Dino ao poder, José Reinaldo acreditou que teria uma atuação mais efetiva e mais produtiva com chefe do Governo, operando conselheiro e articulador, fazendo a ponte entre investidores e o Palácio dos Leões. Não deu certo encontrou no governador a receptividade que esperava. E foi assim também nas primeiras conversas sobre sucessão municipal, principalmente nos 10 maiores municípios. Sua estratégia não bateu com a do governador, e no caso de São Luís ele optou pela candidatura da deputada federal Eliziane Gama (Rede), colocando-se na contramão do projeto palaciano, que é a reeleição do prefeito Edivaldo Jr. (PDT).
O fato é que a cada dia deputado federal José Reinaldo Tavares se distancia mais do projeto de poder do governador Flávio Dino, afastamento que pode ter sido ampliado com a entrevista de domingo, mesmo ele elogiando o desempenho do chefe do governo no plano administrativo. José Reinaldo busca espaço para viabilizar sua candidatura ao Senado, mas sabe que dificilmente conseguirá se impor como gostaria num cenário em que não manda no seu partido nem tem influência decisiva no projeto político liderado pelo governador e executado pelo articulado pelo presidente do PCdoB, Márcio Jerry. Mas no contraponto, o governador Flávio Dino sabe que não lhe convém ter o ex-governador e aliado de primeira hora como adversário.
O caso do deputado federal João Castelo é bem mais simples, porque ele – pelo menos até aqui – não ambiciona mais do que ser candidato a prefeito de São Luís, numa aposta em que pode se dar bem ou sofrer mais uma derrota amarga. Para o ex-governador e ex-prefeito, tudo depende apenas de o vice-governador Carlos Brandão, que preside o PSDB no Maranhão, liberar o diretório de São Luís, para que este formalize a sua candidatura. Brandão, porém, está “amarrado” com o compromisso de incluir o PSDB na aliança que dá sustentação à candidatura do prefeito Edivaldo Jr. à reeleição. O vice-governador sabe que se liberar o partido para Castelo, será obrigado a apoiá-lo, contrariando a posição do governador, que será de apoio ao prefeito. Sabe também que não liberando, contribuirá para o enfraquecimento do partido, que já não é lá essas coisas.
O maior problema de Carlos Brandão é que, pela vontade que vem demonstrando de tentar voltar à prefeitura, João Castelo poderá deixar o partido e buscar uma nova agremiação. Se perder Castelo, o PSDB do Maranhão sofrerá um estrago do qual dificilmente se recomporá, incluindo aí a perda de um voto importante dos tucanos na Câmara Federal. Esse prejuízo será debitado conta do vice-governador Carlos Brandão, que dificilmente terá condições de segurar o partido se o revés se confirmar.
João Castelo está mesmo disposto a entrar na briga pela Prefeitura e sabe que dificilmente terá o PSDB se não for por decisão importa pelo comando nacional. Vai jogar todo o peso do seu prestígio para convencer o tucanato, operando também para ter um Plano B partidário no bolso do colete, para não ficar vendo o trem passar.
PONTO & CONTRAPONTO
Levantamento deve orientar mudanças no governo
Quando retornar a São Luís, nesta semana e reassumir o comando do Poder Executivo, o governador Flávio Dino deverá receber um relatório elaborado pelos secretários Marcelo Tavares (Casa Civil) e Cynthia Mota (Planejamento) no qual relatarão reuniões que tiveram com titulares de todas as pastas num processo de avaliação do governo. A tarefa foi entregue aos dois secretários no final do ano passado, com o objetivo de fazer uma avaliação do desempenho da equipe, de modo a identificar onde estão os pontos fortes e os problemas do governo. Essas informações funcionarão como subsídios para ajudar o governador a promover os ajustes na equipe e nos rumos do governo, para enfrentar os grandes desafios que devem ganhar forma ao longo de 2016. Já se sabe que o governador Flávio Dino vai substituir os titulares de algumas pastas, dando sequências às mexidas que começaram no final do ano passado. Não se sabe quem ele vai mudar nem quem vai convidar para preencher as vagas. No final do ano passado, ao responder uma pergunta sobre mudanças na equipe, Dino respondeu que ninguém tem lugar cativo na equipe e que seguros mesmo só ele e o vice-governador, o que, segundo fonte do próprio governo, gerou uma forte onda de insegurança entre os integrantes do 1º escalão. Outra fonte governamental disse à Coluna não acreditar numa reforma muito ampla, argumentando que já ouviu do governador a avaliação de que no geral o governo tem tido bom desempenho.
Reforçada a denúncia de concessões no Complexo de Pedrinhas
Primeiro foi o ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MA, advogado Luis Pedrosa, que em entrevista ao jornalista Diego Emir, afirmou, categoricamente, que a aparente calmaria no Sistema Penitenciário de Pedrinhas seria fruto de uma troca de concessões entre o Governo do Estado e as facções criminosas que dão as cartas nos presídios do complexo. Agora, quem faz a mesma afirmação, com mais contundência, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, é Wagner Cabral, presidente do Conselho Diretor da Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos (SMDH). Luis Pedrosa e Wagner Cabral são vozes credenciadas para falar no assunto, o que reforça a sugestão de que o que eles dizem deve ser levado em conta, não apenas pelo Poder Executivo, mas também do Ministério Público. É difícil acreditar que efetiva ou implicitamente um Governo de Estado abra mão da sua autoridade e dos instrumentos que dispõe para combater o crime organizado para fazer concessões a bandidos. Não é minimamente razoável que uma estratégia dessa natureza esteja em curso nas celas de Pedrinhas. Por mais que alguém com noção de bom senso se esforce não conseguirá assimilar sem se alarmar que o comando do Poder Executivo dê aval a tal aberração. Primeiro porque seria criminoso, e depois, porque o único exemplo concreto que se tem notícia resultou na formação de um estado criminoso paralelo no Rio de Janeiro. Os registros dão conta de que no seu primeiro governo, no início dos anos 80, o governador Leonel Brizola tentou controlar a criminalidade no Rio de Janeiro fazendo um acordo informal com facções criminosas. Os dados mostram que a criminalidade nas áreas centrais da Cidade Maravilhosa diminuiu acentuadamente ao mesmo tempo em que as quadrilhas foram deixadas de lado e se consolidaram em seus territórios. Resultado: quando o Estado tentou avançar em combate, encontrou organizações preparadas para o enfrentamento. A invasão do Complexo do Alemão há cinco anos mostrou ao Brasil e ao mundo poder de fogo das quadrilhas, que continuam dando as cartas, nas favelas cariocas. Que nada parecido esteja acontecendo no Maranhão.
São Luís, 12 de Janeiro de 2016.