A escolha, ontem, do deputado Marreca Filho (Patriotas) para coordenar a bancada maranhense no Congresso Nacional pelos próximos 12 meses foi o desfecho de uma articulação a oito mãos, que deu cara definitiva ao grupo que joga de acordo com os movimentos do Palácio do Planalto. Por trás do jovem parlamentar, que sozinho não conseguiria viabilizar sua candidatura ao posto, estiveram os deputados Josimar de Maranhãozinho (PL), Aluízio Mendes (PSC) e Eduardo Braide (Podemos) e o senador Roberto Rocha (PSDB), sendo o primeiro o mais articulado de todos, atuando em Brasília com as portas ministeriais e do Planalto sempre abertas, bem como em São Luís, onde tem trânsito fácil no Palácio dos Leões, apesar do elevado grau de desconfiança com que é visto pelos auxiliares e aliados mais próximos do governador Flávio Dino (PCdoB), e o último mais entusiasmado partidário do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
A rigor, o posto de coordenador da bancada maranhense no Congresso Nacional não tem a importância que se costuma dar a ele. O titular – que tem mandato de um ano -, pode funcionar como porta-voz da bancada como um todo ou de parte dela junto ao Palácio do Planalto e dos ministérios, podendo articular audiência e encaminhar pleitos coletivos ou individuais. Mas não poder de decisão nem pode tomar iniciativas que não contemplem a bancada como um todo. Sua eficácia depende muito da desenvoltura e da experiência do ocupante e, mais do que isso, do presidente ou do ministro demandado. Fora desse ambiente de prestígio, coordenador. Sarney Filho coordenou a bancada federal durante duas décadas, e isso em nada mudou a relação da bancada com o Governo Central. Mais recentemente foi assim com o então deputado federal José Reinaldo Tavares (PSB), Rubens Júnior (PCdoB) e Juscelino Filho (DEM).
Ao mesmo tempo, no plano das relações pessoais, o cargo de coordenador de bancada é uma demonstração de prestígio de quem o alcança, à medida que a frequência e a abrangência dos seus contatos em Brasília aumentam e se tornam mais um jogo civilizado do toma-lá-cá-cá. É regra consolidada e reafirmada que coordenador da bancada sempre consegue mais. Os ex-coordenadores sabem disso. Hoje secretário de Meio Ambiente do Distrito Federal, para onde se mudou depois que deixou a Câmara Federal sob o peso de uma derrota na disputa para o Senado, Sarney Filho sabe muito bem o que é ser coordenador.
Alguns intérpretes da escolha de Marreca Filho, enxergaram no resultado uma derrota do Palácio dos Leões. Nem tanto. Ele obteve a aclamação depois de medir forças com o deputado Gil Cutrim () e com André Fufuca (PP). O que pesou mesmo na disputa foram os interesses do deputado Josimar de Maranhãozinho, que, além do dele próprio, manda nos votos de Marreca Filho, Júnior Lourenço (PL) e Pastor Gildenemyr (PL), o que lhe dá poder de fogo para resolver qualquer decisão dentro da bancada. Sua força aumenta principalmente quando se alia ao senador Roberto Rocha e ao deputado Aluízio Mendes, que também tem trânsito fácil no Palácio do Planalto e em alguns ministérios.
Os deputados e senadores aliados do governador Flávio Dino fazem oposição cerrada ao Governo de Jair Bolsonaro, o que significa dizer que o Palácio dos Leões não depende deles para ter acesso à Esplanada dos Ministérios. Flávio Dino tem mostrado habilidade para construir pontes com ministérios, separando, de maneira inteligente, postura política e partidária de posição institucional. Um exemplo, ontem: mesmo sendo um dos críticos mais ácidos da inacreditável política do Governo Jair Bolsonaro em relação à pandemia do novo coronavírus, veio à público via redes sociais, agradecer ao ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, o envio de três dezenas de respiradores para o Maranhão, informando ainda que mantém bom diálogo com o ministro.
Resumo da opereta: a eleição, por aclamação, do deputado Marreca Filho para coordenar a bancada federal do Maranhão foi o desfecho de um jogo com as cartas marcadas pelo deputado Josimar de Maranhãozinho, com o apoio do senador Roberto Rocha, o suporte do deputado Aluízio Mendes, o aval do deputado Eduardo Braide e o sopro discreto do Palácio do Planalto.
PONTO & CONTRAPONTO
Yglésio Moises provoca Eduardo Braide para o confronto direto na corrida à Prefeitura de São Luís
Pré-candidato a prefeito de São Luís pelo PROS, o deputado Yglésio Moises tem feito movimentos ousados para ocupar lugar de destaque no cenário da disputa. Sua estratégia é atrair para o confronto direto pré-candidatos bem posicionados, como o deputado Duarte Júnior (Republicanos) e o deputado federal Eduardo Braide (Podemos). Ainda não conseguiu alcançar plenamente seu objetivo, mas aos poucos vai demarcando território, o que poderá levá-lo ao epicentro do confronto político e eleitoral. No momento, estoca fortemente Eduardo Braide, tentando relacioná-lo com possível desvio de recursos federais mandados para Icatu para gastos na guerra ao novo coronavírus.
Um confronto direto entre Yglésio Moises e Eduardo Braide seria muito interessante. Os dois estão na mesma faixa de idade, Yglésio é médico e está se graduando também em Direito, enquanto Braide é advogado focado em Direito Público. Yglésio é um político de centro-esquerda, forjado na Juventude do PDT, enquanto Braide é um político de centro, tendo feito seu aprendizado na velha e eficiente escola sarneysista, da qual se afastou para seguir um rumo liberal e independente. Yglésio Moises é estudioso, dono de impressionante teia de conhecimentos, ao ponto de falar de medicina, constitucionalismo e economia com a mesma segurança e embasamento, o que o torna um dos mais, se não o mais, produtivos integrantes da atual Assembleia Legislativa. Eduardo Braide é igualmente estudioso, que vai às minúcias de qualquer matéria, o que fez dele um legislador nato, de grande visão, e um debatedor eficiente, como demonstrou nos seus dois mandatos de deputado estadual e agora na Câmara Federal. Yglésio Moises é um político perspicaz, que sabe identificar nichos eleitorais, enquanto Eduardo Braide já é um político maduro, testado nas urnas com sucesso, apesar da derrota sofrida em 2016, na primeira tentativa de chegar à Prefeitura de São Luís.
São dois quadros que num embate direto produzirão um bom momento político.
Quase certo que eleições serão adiadas para novembro
Ganha força no TSE e na classe política a proposta de adiamento das eleições municipais. Ontem, correu no meio político a corrida às urnas ocorrerá em novembro, sendo o primeiro turno no dia 8 (domingo) e o segundo, onde houver, no dia 29. Assim, todo o processo, que tem várias fases importantes depois das eleições – impugnação e diplomação, por exemplo -, acontecerá dentro deste ano, de modo que os prefeitos e vereadores eleitos sejam empossados no dia 1º de Janeiro de 2021. Fonte parlamentar informou à Coluna que os articuladores já descartaram qualquer possibilidade de prorrogação do mandato dos atuais prefeitos e vereadores. O martelo será batido até no máximo meados da semana que vem.
São Luís, 11 de Junho de 2020.