Em meio à turbulências em curso no cenário político nacional com a traumática prisão do ex-presidente Lula da Silva (PT), o quadro partidário do Maranhão foi significativamente alterado com a mudança de peso de alguns dos principais partidos em atuação no estado por conta da janela partidária, que fechou no último minuto de sábado (7). O fechamento das contas indicará que os partidos que integram a aliança liderada pelo governador Flávio Dino (PCdoB) foram amplamente beneficiados com novas filiações. O DEM foi, de longe, a agremiação que mais ganhou musculatura nesse troca-troca de partido no Maranhão. Saíram também fortalecidos o PCdoB, que se consolidou como o partido que está na cabeça da aliança dinista. Já o PSDB recuperou parte da sua musculatura com o ex-governador José Reinaldo tavares e mais dois quadros de peso. O Grupo Sarney perdeu terreno com a saída, por exemplo, do vice-prefeito de Caxias, Paulo Marinho Jr., que trocou o MDB oposicionista pelo PP governista. Além do PP, outros partidos ganharam e perderam na janela, que se fechou no último de sábado, definido, de maneira irreversível, a composição e o passo dos partidos para as eleições de outubro no Maranhão.
Até alguns meses atrás amargando esquecimento, quando foi resgatado pelo deputado federal Juscelino Filho, o DEM saiu da janela como o partido que foi mais robustecido com a filiação dos deputados estaduais Rogério Cafeteira, ex-PSB, Neto Evangelista, que saiu do PSDB, e Paulo Neto, que deixou o PSDC, se somaram a Stênio Rezende, Cabo Campos e Antônio Pereira. O DEM foi ais longe ao atrair sangue novo, como a nutricionista Daniela Tema, que deixou o PCdoB e vem despontando como nome fortíssimo da Região Central do Maranhão, com base em Tuntum, na corrida para a Assembleia Legislativa.
Depois de ser esvaziado com a saída do vice-governador Carlos Brandão e de pelo menos 15 dos 28 prefeitos no final do ano passado, por conta da mudança de comando e se tornar Oposição, o PSDB recuperou parte do seu poder de fogo com a filiação dos deputados federais José Reinaldo Tavares e do deputado estadual Alexandre Almeida, que serão candidatos ao Senado na chapa do senador Roberto Rocha, candidato ao Governo do Estado. O ninho dos tucanos foi ainda turbinado na última hora com a entrada do deputado Wellington do Curso, que saiu do PP, e do deputado federal Waldir Maranhão, que decidiu concorrer à reeleição.
O PCdoB, por sua vez, foi expressivamente turbinado com o ingresso das deputadas Francisca Primo, que deixou o PT, e Ana do Gás, que saiu do PRB, e ganhando, na última hora, a filiação do deputado Carlinhos Florêncio, que se converteu ao comunismo pregado pelo governador Flávio Dino. O PRB, por sua vez, além do vice-governador Carlos Brandão e de vários prefeitos, ganhou também o ex-deputado José Gentil, que é candidato forte à Assembleia Legislativa, devendo fazer dobradinha com o vice-prefeito de Caxias, Paulo Marinho Jr., que deixou o MDB e se filiou ao PP.
O PDT ganhou vários reforços de peso, sendo o mais destacado a ex-deputada estadual Cleide Coutinho, viúva e herdeira do legado político do ex-presidente da Assembleia Legislativa, deputado Humberto Coutinho (PDT), que é candidata a suceder o marido no parlamento estadual. Por sua vez, o PTB foi reforçado pelo ex-deputado federal Wagner Lago, irmão do ex-governador Jackson Lago, que exerceu seus vários mandatos como filiado ao atual MDB e ao PMDB. O PR ganhou a filiação do deputado estadual Sérgio Frota, que deixou o PSDB na reviravolta em que o ninho dos tucanos foi devolvido ao senador Roberto Rocha.
Uma curiosa movimentação envolveu o PV e o PEN nos últimos momentos da janela partidária. O deputado Edilázio Jr. deixou o PV e embarcou no PSD, enquanto o deputado César Pires deixou o PEN e embarcou no PV, e o deputado Hemetério Weba deixou o PV e se abrigou no PP. E numa espécie de voo solo dentro do Grupo Sarney, o deputado Max Barros, que estava sem partido, se filiou ai PMB.
O ex-deputado Ricardo Murad comandou uma das guinadas mais radicais ocorridas na janela partidária: ele próprio e a deputada estadual Andrea Murad deixaram o MDB e ingressaram minúsculo PRP, o primeiro para disputar o Governo do Estado e a segunda para tentar uma vaga na Câmara Federal. E o deputado Souza neto, que segue à risca a orientação de Murad, deixou o PROS e se filiou também ao PRP, pelo qual tentará a reeleição em outubro.
A partir de agora, não há mais como pretensos candidatos mudarem de partido para as eleições de outubro. Quem fez a escolha certa pode se dar bem na corrida pelo voto, mas quem errou na opção pode ser atropelado.
PONTO & CONTRAPONTO
Roseana, Braide, Eliziane e Sarney Filho ensaiaram mudar de partido, mas recuaram
No jogo do troca-troca partidário não alcançou algumas personalidades cuja migração para outras agremiações era dada como certa. Quatro casos de políticos de expressão que, devido às circunstâncias, planejaram trocar de partido, mas no final preferiram continuar onde estão. 1 – A possibilidade mais surpreendente de troca de partido envolveu ninguém menos que a ex-governadora Roseana Sarney, que teria montado uma ampla operação para assumir o controle do DEM e, no caso, deixar o MDB e se candidatar pelo partido que já controlou no estado. A operação fracassou por dois motivos: a atuação firme e hábil do presidente do partido, deputado federal Juscelino Filho, e pela falta de apoio da direção nacional, que preferiu manter a agremiação na aliança liderada pelo governador Flávio Dino. 2 – Ao alimentar mesmo o projeto de ser candidato a governador, e não a deputado federal, como estava programado, o deputado Eduardo Braide entrou na relação dos que mudariam de partido, deixando o PMN, que controla inteiramente no Maranhão, para ingressar no PSD, numa operação que o levaria para uma posição mais próxima do Grupo Sarney. Depois de uma avaliação cuidadosa e pragmática, como costuma fazer em situações como essa, Eduardo Braide preferiu permanecer o seu partido, pelo qual poderá, se quiser, entrar para valer disputar o Palácio dos Leões. 3 – Também a deputada federal Eliziane Gama, que se movimenta para ocupar a segunda vaga de candidato ao Senado na chapa dinista, preferiu se manter no PPS, que expressa a versão mais amena do comunismo no Brasil. Ela foi tentada primeiro a entrar no Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva, e depois a dar uma guinada ideológica radical e se filiar ao DEM, mas depois de examinar bem essa última possibilidade, Eliziane Gama preferiu continuar militando no PPS. 4 – O deputado e ex-ministro do Meio Ambiente Sarney Filho cogitou várias vezes deixar o PV para se candidatar ao Senado. Primeiro foi levantada a possibilidade de ele se filiar ao MDB, mas devido a diferenças internas, essa alternativa foi logo descartada. Mais recentemente, Sarney Filho namorou com a ideia de se mudar para o PSD, mas de novo avaliou a situação com mais atenção e recuou, ficando mesmo no PV, onde, é frisar, é um dos fundadores, mas onde já não tem o peso de outros tempos.
Roseana Sarney mantém silêncio em relação à situação de Lula
Um fato chamou atenção durante o dramático processo que desaguou na prisão do ex-presidente Lula da Silva. O ex-presidente José Sarney (MDB), que manteve – e continua mantendo, agora de maneira menos intensa – relações de amizade com o líder petista, deu algumas declarações tímidas lamentando a situação do colega durante os dias que antecederam a sua prisão, e embarcou para Nova Iorque (EUA) exatamente na semana em que houve o desfecho, não tendo mais se manifestado. Por sua vez, o deputado federal Sarney Filho, que, vale lembrar, nunca teve relação próxima com Lula – foi ministro de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e de Michel Temer (MDB) –, se manifestou sobre o assunto em nota publicada na edição do fim de semana jornal O Estado do Maranhão. Na nota, Sarney Filho se manifesta amistosamente, “lamentando” os acontecimentos e destacando que Lula é “amigo do Maranhão”. Mas o que surpreendeu mesmo foi o silêncio da ex-governadora Roseana Sarney, que foi muito apoiada por Lula da Silva, que a nomeou líder do seu Governo no Congresso Nacional, e que em 2006, quando candidato à reeleição, entrou de cabeça na campanha dela para o Governo do Estado, primeiro obrigando, na marra, o PT a romper com o PDT e se aliar ao PMDB no Maranhão, e depois dar inúmeras declarações de apoio à candidatura dela. A participação do então presidente petista foi tão intensa que ele chegou ao extremo de, num comício em Timon, um dos últimos da campanha daquela disputa, pedir “pelo Amor de Deus” que os maranhenses elegessem Roseana Sarney. Jackson Lago, porém, venceu a disputa numa eleição histórica.
São Luís, 08 de Abril de 2018.