Escândalo na CNI chama a atenção para a falta de alternância em organizações milionárias como Fiema e Fecomércio

 

Edilson Baldez (acima) seguindo os passos de Alberto Abdalla no comando da poderosa Fiema, e José Arteiro, há mais de três décadas no comando da rica Fecomércio

Primeiro foi o ministro da Economia, Paulo Guedes, que numa conferência com empresários, avisou que vai cortar 30% da gorda fatia de recursos que a União repassa para manter o poderoso Sistema S (Sesi, Sesc e Senai), controlado pela Confederação Nacional da Indústria e pela Confederação do Comércio, através dos seus braços estaduais, as Federações da indústria e do Comércio, que no Maranhão são conhecidas como Fiema e Fecomércio. Agora foi a prisão do presidente da CNI, Robson Andrade, e dos presidentes das Federações da Indústria em Pernambuco, Paraíba e Alagoas, ação da Polícia Federal chamada Operação Fantoche, que desmontou um milionário esquema de corrupção que atuou em sete estados e desviou pelo menos R$ 400 milhões nos últimos por meio de empresas de eventos e o Ministério do Turismo.

O aviso do ministro, que deixou sem graça e, em alguns casos, assombrou, caciques que controlam organizações patronais, e o escândalo que alcançou uma teia em sete estados são sintomas que evidenciam o que muita gente já desconfiava e já começa a pregar abertamente: o Sistema S, que presta um enorme serviço à sociedade brasileira por meio da contribuição de patrões e empregados da indústria e do comércio, precisa se renovar urgente e profundamente. E o primeiro passo é democratizá-lo de modo que a alternância seja uma rotina democrática, para evitar que as organizações, que movimentam bilhões de reais por ano, não permaneçam controladas com mão de ferro, por décadas, por uma rede de caciques traquejados no corporativismo patronal.

Nesse contexto, o Maranhão é um dos estados onde a necessidade dessa renovação é mais que evidente. Com mais de seis décadas de existência, a Fiema, que controla uma formidável rede de serviços, como o Senai e o Sebrae, por exemplo, foi comandada durante mais de 30 anos pelo empresário Alberto Abdalla, capitão de uma empresa industrial falida, e que atualmente tem como presidente Edilson Baldez, um empresário de negócios no âmbito da construção civil, que reúne construtora, incorporadora e hotéis. Ele assumiu a presidência da poderosa corporação industrial em 2009 dando a entender que não se deixaria picar pela mosca furta-cor do caciquismo e cumpriria apenas um mandato. Dois anos depois mudou de ideia, cooptou aliados, alterou os estatutos – que haviam sido mudados para evitar reeleições a perder de vista – e já está no terceiro mandato. Forjado no corporativismo patronal, articulador de conhecida competência e tecelão de uma ampla rede de aliados, habilidades que refinou em longo aprendizado no comando do Sindicato das Indústria da Construção Civil, o poderoso Sinduscon, Edilson Baldez exibe o fôlego e a desenvoltura de quem conhece o caminho das pedras e está disposto a permanecer no poder por muito mais tempo.

Na outra ponta do Sistema S no Maranhão, a Fecomércio, que controla os braços do Sesc e do Senac no estado, está outro caso espetacular de longevidade no poder. A organização patronal é presidida pelo empresário José Arteiro desde 1990, cumprindo o oitavo mandato consecutivo, o que equivale a mais de três décadas ininterruptas de poder. O processo é o mesmo. Tanto quanto Alberto Abdalla e Edilson Baldez, José Arteiro soube construir a sua rede de apoio no corporativismo patronal maranhense, atraindo presidentes de sindicatos filiados, e assim montou uma base de poder até agora sólida. Na sua penúltima eleição, sofreu alguma pressão do empresário Haroldo Cavalcante Jr., mas acabou aclamado pelo presidente dos 17 sindicatos que formam a entidade, numa revelação de que sua reeleição não foi sequer ameaçada. Hábil, bem articulado, com amplas relações no meio empresarial e no meio político, José Arteiro já entrou para a história da corporação como o mais longevo dos seus presidentes até aqui. E do alto do prédio espetacularmente espelhado encrostado na Avenida dos Holandeses, que exibe como um dos triunfos da sua administração, emite todos os sinais de quem pretende continuar no comando da Fecomércio por mais um bom tempo.

Além da capacidade de articular apoios, convencendo seus pares de que são os melhores da sua classe e de que as organizações por eles controladas com a gestão de verbas milionárias estão funcionando a contento, dentro do figurino – o que alguns contestam à boca miúda – os atuais caciques da Fiema e da Fecomércio continuam aparentemente inabaláveis. Por outro lado, é curioso que a classe empresarial, que tem nos seus quadros homens de visão larga, esclarecidos, prefira a longevidade dos caciques do que a alternância no poder. No meio empresarial, há quem diga que há um silencioso movimento por mudança nas entranhas da classe empresarial, que poderá implantar uma cultura de alternância na Fiema e na Fecomércio. Como acontece na Associação Comercial do Maranhão, por exemplo.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Eliziane Gama mostra a Major Olímpio que só é frágil na aparência

O senador Major Olímpio, líder do Governo, se enganou com a aparência frágil da senadora Eliziane Gama

Se imaginou que com sua voz alterada e sua rispidez de militar casca grossa imporia sua vontade tentando intimidar a senadora Eliziane Gama (PPS), o líder do Governo no Senado, senador Major Olímpio (PSL-SP), se enganou redondamente. Ontem, num debate na Comissão de Transparência da Câmara Alta, quando senadores discutiam uma proposta de convite ao ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, para falar à Casa, a senadora maranhense, a favor da proposta, e o colega paulista, contrário, se enfrentaram verbalmente, elevaram o tom das vozes, protagonizando um embate que, ficou claro, vai se repetir com frequência. A aparentemente frágil senadora maranhense enquadrou o aparentemente intimidador senador paulista exigindo que não gritasse com ela e avisando-o de que também sabe gritar. Além de ser enquadrado pela senadora maranhense, o líder do Governo amargou a aprovação do convite ao ex-ministro, caracterizando uma derrota do Palácio do Planalto no Planalto.

Ao contrário do que sugere sua imagem frágil, simples, aparência humilde, de mulher que não usa maquiagem, Eliziane Gama é uma fortaleza ambulante, aperfeiçoada em dois mandatos ativos na Assembleia Legislativa e um muito bem-sucedido na Câmara Federal. No parlamento estadual, fez denúncias contundentes, propôs, conseguiu aprovação e comandou CPI, como a da exploração sexual de crianças, que agitou o Palácio Manoel Beckman durante várias semanas. Atuando na Oposição, atacou duramente o Governo controlado por Roseana Sarney (PMDB), que tentou em vão atraí-la. Na Câmara Federal, teve participação destacada na CPI da Petrobras, atuando também de maneira aguerrida na Oposição ao Governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), sendo também voz ativa e eficiente no apoio ao Governo Flávio Dino (PCdoB). Ninguém duvida de que no Senado a aparentemente frágil representante maranhense vai encarar oponentes com a determinação de quem parecia destinada a apanhar, mas que se revelou uma lutadora vitoriosa. O senador Major Olímpio que se cuide.

 

Cordino instala clima de confronto entre Rigo Teles e Fernando Pessoa

Fernando Pessoa e Rigo Teles,: diferenças políticas locais se manifestam no plenário da Assembleia Legislativa

O Cordino, o clube de futebol de Barra do Corda que aqui e ali se dá bem no Campeonato Maranhense, e que por isso é um o orgulho de Barra do Corda, teve sua importância confirmada ontem, no plenário da Assembleia legislativa, ao ser o motivo de uma tensa troca de acusações entre os deputados Rigo Teles (PV) e Fernando Pessoa (SD), que vinham segurando o clima de beligerância que os separa na política daquele município.

A refrega começou quando Rigo Teles foi à tribuna para reclamar que os atletas do Cordino estão há meses sem receber salário, acusando o prefeito Eric Costa (PCdoB) de ser o responsável pela situação, por não ajudar o clube. Ato contínuo, Fernando Pessoa ocupou a tribuna e rebateu a denúncia de Rigo Teles, dizendo que atualmente só o prefeito ajuda o Cordino e que agora o clube não está mais sob o tacão da família Teles. Em aparte, Rigo Teles reafirmou o ataque, acusando a atual direção do Cordino, controlada pelo prefeito Eric Costa de incompetência e manipulação. O tom dos ataques e contra-ataques foi se elevando, fazendo com que o presidente Othelino Neto (PCdoB) entrasse como poder morador.

O fato é que Rigo Teles e Fernando Pessoa usaram o Cordino para expor suas diferenças. E pelo que foi dito por ambos, ficou muito claro que os dois vão se chocar dura e frequentemente. Rigo Teles com a experiência de sete mandatos e com um longo período de poder familiar em Barra do Corda, e Fernando Pessoa como marinheiro de primeira viagem, mas com disposição para tentar desbancar o adversário. Não há dúvida de que Barra do Corda e Cordino serão pomos de discórdias tensas entre os dois deputados ao longo deste mandato.  É aguardar e conferir.

São Luís, 20 de Fevereiro de 2019.

 

2 comentários sobre “Escândalo na CNI chama a atenção para a falta de alternância em organizações milionárias como Fiema e Fecomércio

  1. O Sr. escreve muito bem, analisa também, mas como ninguém é perfeito… Desculpe, mas, deveria entender melhor o que se passa na cabeça dessa mulher chamada Elisiane Gama. Essa apóstata vai na direção da maré boa. Ma quem não iria?! de fato! Contudo, a dela é Quem oferecer a escada, o melhor trampolim rumo p/ ela se manter ascendendo politicamente, é quem ela segue. Talvez ela seja boa em gritar, mas isso não faz dela a tal. Frágil? quem a julgou assim? o povo? Ah, tá, então foi por isso que votaram na “coitadinha”! Não vi ela fazer nada, melhorar nada no grito ou propostas. Discurso de enfrentamento, é só o q/ esse povo faz, sempre, narrativas p/ barganhar verbas e no final ainda ganham uma fortuna. Nos dê uma outra análise. Lamento q/ o povo continua analfabeto-político, e sendo assim, essa aí, gritando, ainda pode chegar onde ela quer, ao governo do MA. Pena demais!

    1. Cara Elizabeth
      Difícil acreditar que uma mulher de origem humilde, jornalista, religiosa e que milita na política, conquista dois mandatos de deputada estadual, um mandato de deputada federal e um de senadora da República, com mais de 1,7 milhão de votos, batendo nas urnas candidatos do poder de Edison Lobão e Sarney Filho seja uma aventureira ou uma tresloucada. Mas, como você mesmo anota que ninguém é perfeito, agradeço o alerta.
      Abraço

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