Em meio à crise, prefeitos e deputados estaduais e federais aproveitam a “janela da infidelidade” para mudar de partido

 

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Eliziane Gama, Juscelino Filho, Glaubert Cutrim, Alexandre Almeida, Souza Neto, Fábio Braga, Stênio Rezende, Cabo Campos, César Pires e Ricardo Rios: novos partidos usando a janela que fechará em abril

Enquanto os caciques das mais diversas cores partidárias travam uma guerra de vida ou morte política nos bastidores e nos plenários do Congresso Nacional pelo futuro da República, uns tentando colocar em xeque o governo da presidente Dilma Rousseff e encerrar a era do PT no poder, outros políticos, de menor peso e sem maiores preocupações com afinidades ideológicas, agitam ao seara partidária em busca de legendas que lhes deem mais segurança na corrida ao nas eleições municipais e o grande embate político e eleitoral agendado ara 2018. No Maranhão, deputados federais, deputados estaduais e alguns prefeitos, um número expressivo de candidatos a prefeito, a vice-prefeito e a vereador aproveitam a “janela da infidelidade” aberta pela reforma política para trocar de partido. Desde que foi dado o sinal, ainda no ano passado, já trocaram de partido vários prefeitos, três deputados federais, oito deputados estaduais e uma penca de vereadores em todo o estado. A “janela” permanecerá aberta até o dia 2 de abril.

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Leo Coutinho, à direita, e Ferdinando Coutinho, à esquerda, aldeiam o presidente do PSB, Luciano Leitoa, e o deputado Rogério Cafeteira no ato de filiação dos dois no PSB

Prefeitos de três dos 10 maiores municípios do Maranhão abandonaram as legendas pelas quais se elegeram e foram buscar abrigo em agremiações que em tese lhe dão mais segurança política e, claro, mais possibilidades eleitorais. A troca que mais surpreendeu e que pode ser mais bem sucedida nas urnas foi a do prefeito Edivaldo Jr., que abandonou o tímido e sem futuro partido pentecostal PTC, para se filiar ao PDT, uma máquina partidária que tem grande poder de mobilização e influência eleitoral em São Luís. Depois dele, ingressou na mesma agremiação brizolista o prefeito de São José de Ribamar, que por divergências internas deixou o poderoso e influente PMDB. Na quarta-feira, o mundo político foi surpreendido com o movimento do prefeito de Caxias, Leo Coutinho, que deixou exatamente o PDT para ingressar nas fieiras do PSB, levando com ele o vice-prefeito e candidato a prefeito de Matões do Norte, Ferdinando Coutinho.

Nessa corrida, que tem tudo a ver com a sobrevivência nas urnas, quatro deputados federais entraram na ciranda e trocaram de partido. A primeira guinada foi protagonizada pela deputada Eliziane Gama, que deixou o PPS, estava em situação estável e até privilegiada, para ingressar na Rede Sustentabilidade, um partido ainda furta-cor criado pela ex-senadora Marina Silva, num gesto que logo se revelou um erro político monumental – tanto que a deputada procura freneticamente um terceiro caminho partidário, o PSB, mas houve reação do deputado Bira do Pindaré e tudo indica que ela vai ter de continuar na Rede. Outra mudança radical, só que bem sucedida, foi protagonizada pelo deputado federal Juscelino Filho, que se elegeu perlo PRP e há três semanas desembarcou no DEM, ganhando não só um espaço no partido, mas assumindo o comando da agremiação no Maranhão. Com a iniciativa, deputado Juscelino Filho saiu de uma posição de pouca expressão para alcançar patamar elevado e sentar à mesa de líderes do estado. O deputado federal Aloísio Mendes, que se elegeu pelo PSDC e ingressou no PTN. Já o deputado federal André Fufuca deixou o PEN e ingressou no PP, uma decisão que muitos avaliam ser de alto risco.

A situação partidária de vários deputados estaduais era instável e incômoda, o que fez com que a “janela da infidelidade” se apresentasse para eles como uma espécie de tábua de salvação. Até aqui, nada menos que uma dezena de deputados estaduais trocaram de partido, o que representa quase 25% da composição do plenário da Assembleia Legislativa. O troca-troca fragilizou principalmente partidos miúdos, como o PMB, por exemplo, que foi varrido do parlamento estadual. Os maiores ganhadores até aqui foram o DEM e o PSB – o primeiro porque numa situação de quase insolvência, se fortaleceu repentinamente, formando uma bancada de três deputados estaduais, e o segundo por que ganhou bons quadros

O deputado Glaubert Cutrim, que se elegeu pelo PRB, acompanhou o irmão prefeito e ingressou no PDT. O deputado Stênio Rezende, que vinha se mantendo no acanhado PMB, deu uma guinada radical a ingressar no DEM, tornando-se nada menos que o presidente do Diretório do partido em São Luís, assumindo assim função de proa nas articulações para a corrida eleitoral em São Luís. O DEM ganhou também o deputado Cabo Campos, que também deixou o PMB. Insatisfeito pelos rumos tomados pelo DEM, o deputado César Pires deixou o partido e se filou ao PEN. O deputado Souza Neto, que tinha o comando do PTN no estado, deixou o partido e se filiou ao PROS, organizado no Maranhão pelo ex-ministro Gastão Vieira.

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Bira do Pindaré saúda a chegada de Rogério Cafeteira e Edson Araújo no PSB

Mergulhado numa dura luta política em Timon, onde é candidato assumido à Prefeitura, o deputado Alexandre Almeida deixou o PTN, pelo Qual se elegeu, e ingressou no PSD, que passa a ter representação na Assembleia Legislativa. As últimas mudanças de partido no parlamento estadual foram consumadas por dois parlamentares: Fábio Braga, que deixou o PRTB, e Ricardo Rios, que abandonou as fieiras do PEN. Os dois ingressaram no Solidariedade, comandado no estado pelo secretário de Industria e Comércio, Simplício Araújo. E para fechar a semana, os deputados Rogério Cafeteira e Edson Araújo deixaram o PSD e o PSL respectivamente, e ingressaram no PSB.

Na avaliação de observadores, a ciranda do troca-troca partidário ainda não foi encerrada, pois faltam ainda mais de duas semanas, e em se tratando de política, tudo pode acontecer.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Roberto Rocha consegue converter Ildon Marques ao socialismo
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Ao lado do senador Roberto Rocha e de lideres do partido – à exceção do deputado federal André Fufuca, que é do PP – Ildo Marques entra no PSB

Um dos atos de mudança de partido mais emblemático dos últimos dias foi a filiação do ex-prefeito de Imperatriz, Ildon Marques ao PSB, numa surpreendente ação política capitaneada pelo senador Roberto Rocha. O fato contém uma série de aspectos que chamam a atenção. O primeiro é que ao se filiar ao PSB, Ildon Marques sinaliza que pode mesmo vir a ser candidato a prefeito, o que estremece vários projetos de candidatura, a começar pelo da enfermeira Rosângela Curado, lançada pelo PDT. Pelo simples fato de que Marques é muito respeitado em Imperatriz e dispõe de cacife político e eleitoral para vencer a eleição. Outro aspecto é que com a conversão de Marques ao socialismo ligth do PSB, outros políticos de peso, principalmente empresários, façam o mesmo, o que resultará no fortalecimento político do senador Roberto Rocha. Um dos maiores empresários do Maranhão, que tem as lojas Liliane como carro-chefe de um grupo de várias empresas, Ildon Marques é reconhecido em Imperatriz como um bom gestor público. Tem algumas pendências na Justiça, mas nenhuma delas arranha gravemente sua imagem de homem bem sucedido como capitão de empresas e administrador público. Finalmente, com a candidatura de Marques à Prefeitura de Imperatriz, o senador Roberto Rocha se afasta totalmente do grupo comandado pelo governador Flávio Dino (PCdoB), obrigando-o a decidir se o PCdoB lançará o secretário de Estado de Infraestrutura, Clayton Noleto, ou o deputado Marco Aurélio. A leitora que alguns fazem é que se Marques voltar à prefeitura da Princesa do Tocantins, Roberto Rocha se cacifa politicamente até para se lançar candidato a governador em 2018.

Atos mostram que Dilma, Lula e PT estão de pé

Os atos de ontem contra o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff e de apoio ao ex-presidente Lula revelaram que, ao contrário do que muitos imaginavam, o PT e o seu governo não estão mortos. Ao contrário, contam ainda com uma base eleitoral muito forte. A manifestação na Avenida Paulista não deixou nenhuma dúvida quanto a isso. Daí continua valendo, agora mais do que nunca, a proposta de diálogo defendida por vozes sensatas, como o governador Flávio Dino (PCdoB).

São Luís, 18 de Março de 2016.

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