A exemplo do que aconteceu em todas as capitais do país, a eleição para a Prefeitura de São Luís funcionou como largada da corrida ao Governo do Estado em 2022. O embate entre os aspirantes à sucessão do governador Flávio Dino (PCdoB) foi o grande pano de fundo do confronto entre Eduardo Braide (Podemos) e Duarte Jr. (Republicanos) no 2º turno, tendo surpreendido pela intensidade e pelos danos que causou à aliança governista. A medição de força se deu direta e abertamente entre o senador Weverton Rocha (PDT), que não esconde seu projeto de ser o sucessor de Flávio Dino, e o vice-governador Carlos Brandão (Republicanos), que é pré-candidato assumido e, segundo ele próprio, sem volta. Circulando entre os dois, uma terceira via, menos provável, mas igualmente ostensiva, o deputado federal Josimar de Maranhãozinho (PL). Os fatos que marcaram a campanha eleitoral foram reveladores de que os pretendentes estão decididos, e a menos que haja uma grande articulação por um entendimento que fortaleça a aliança construída por Flávio Dino em 2014 e mantida em 2018, o Maranhão será palco de uma guerra sem precedentes pelo poder.
O senador Weverton Rocha e o vice-governador Carlos Brandão avaliam que suas chances de chegar ao Palácio dos Leões estão na sucessão de 2022. O senador está estimulado pelo grande momento político que está vivendo, exercendo seu mandato a pleno vapor e ainda no comando de um partido que já não é o que herdou de Jackson Lago e Neiva Moreira, mas que constitui um lastro decisivo para o seu projeto, que pode se manter ou não até 2026. O vice-governador, por seu turno, sabe que sua única chance de se eleger governador será em 2022, quando provavelmente assumirá a titularidade com a eventual saída do governador Flávio Dino para concorrer ao Senado, usufruindo o direito de tentar a reeleição no cargo, ciente de que depois as possibilidades se tornarão remotas.
Weverton Rocha deu o passo decisivo e arrojado quando confirmou em São Luís uma aliança nacional do PDT com o DEM, abrindo mão de lançar um candidato pedetista à sucessão do prefeito pedetista Edivaldo Holanda Jr. e avalizar e apoiar o deputado estadual democrata Neto Evangelista. Carlos Brandão não ficou atrás e assumiu a condição de principal articulador do acordo que resultou na candidatura do deputado estadual Duarte Jr. à Prefeitura de São Luís pelo Republicanos. Na queda de braço eleitoral, Carlos Brandão levou a melhor com a ida de Duarte Jr. para o 2º turno. Weverton Rocha reagiu levando Neto Evangelista e o PDT para Eduardo Braide, que venceu a eleição, deixando no ar a duvidosa impressão de que o senador derrotou o vice-governador ajudando a impedir a eleição do candidato do Republicanos.
Esse confronto, que abriu fissuras na base partidária governista, levando o governador Flávio Dino a se posicionar avisando que a aliança será revista, tende a se acirrar. Tanto Weverton Rocha quanto Carlos Brandão continuam demarcando territórios e atuando fortemente para atrair aliados. Weverton Rocha, por exemplo, está operando para consolidar aliança com o prefeito reeleito de Imperatriz, o democrata Assis Ramos, com o aval das cúpulas estadual e nacional do DEM – corre nos bastidores a versão de que, por conta desse acordo, o PDT desacelerou o apoio ao candidato do PCdoB em Imperatriz, deputado estadual Marco Aurélio, abrindo caminho para a reeleição do prefeito. Carlos Brandão vem trabalhando duro para fortalecer os laços com o competente prefeito de Caxias, Fábio Gentil (Republicanos), e seu futuro colega de Santa Inês, Felipe dos Pneus (Republicanos).
O embate entre os dois é medido também pelo número de prefeitos e de votos recebidos nas eleições municipais. Weverton Rocha exibe triunfante o resultado de 42 prefeitos eleitos pelo PDT, destacando o reeleito Eric Silva, de Balsas. Carlos Brandão mostra que o Republicanos saiu das urnas com 37 prefeitos, festejando o reeleito Fábio Gentil, de Caxias, e o eleito Felipe do Pneus, de Santa Inês. Nesse jogo, aliados de Carlos Brandão fazem contas e mostram que o Republicanos teve mais votos do que o PDT no estado inteiro, incluindo os 216 mil recebidos por Duarte Jr. em São Luís. As comparações vão muito além, servindo para alimentar a disputa dos dois pretendentes ao Palácio dos Leões.
Em meio a essa guerra quase declarada, o controvertido deputado federal Josimar de Maranhãozinho, cujo partido, o PL, elegeu 40 prefeitos, corre por fora afirmando ser candidato a candidato. A operação da PF contra a agiotagem num suposto esquema de venda de emendas em São José de Ribamar pode ser um obstáculo intransponível.
PONTO & CONTRAPONTO
Mesmo passada a eleição, cenário político de São Luís tem movimentação intensa
Ao contrário do que muitos esperavam, a eleição para a Prefeitura de São Luís não mergulhou a Capital num período de calmaria política. A maratona de inaugurações comandada pelo prefeito Edivaldo Holanda Jr. (PDT), a movimentação preparatória do prefeito eleito Eduardo Braide (Podemos) para assumir sem risco de sobressaltos, e a incursão do deputado Duarte Jr. (Republicanos) pelos bairros da cidade agradecendo os 216 mil votos que recebeu no 2º turno são reveladores de que, cada um ao seu modo, está dizendo ao eleitorado que o campo de batalha da política municipal está longe da calmaria.
Depois de ter se omitido da disputa pela sua sucessão – como que esquecido das mobilizações partidárias que garantiram sua eleição em 2012 e sua reeleição em 2016 -, o prefeito Edivaldo Holanda Jr. irá para casa fazer planos para o futuro, apostando no lastro que construiu com sua gestão. Tentará ser governador do Estado? Ou vice-governador? Preferirá o Senado? Ou se conformará com uma cadeira na Câmara Federal? O fato é que em meados do ano que vem ele entrará em clima de pré-campanha nas entranhas da cidade que estará sendo governada por um adversário.
Dono de uma vitória expressiva e inquestionável nas urnas, o prefeito eleito Eduardo Braide assumirá o comando da Capital decidido a encarar os gigantescos desafios que o aguardam. Mas também consciente de que sua eleição lhe deu cacife para assumir papel político relevante no cenário estadual. No meio político a avaliação dominante é a de que Eduardo Braide caminha para assumir o comando das forças adversárias da aliança comandada pelo governador Flávio Dino, papel que o senador Roberto Rocha não conseguiu assumir com clareza.
Em outro campo, o deputado estadual Duarte Jr. continua movimentando o cenário político ludovicense. Ontem, ele fez uma incursão pelos bairros da Capital para agradecer os 216 mil votos que recebeu na disputa do 2º turno com Eduardo Braide, que recebeu 270 mil. No seu discurso de retorno à Assembleia Legislativa no início da semana passada, o deputado do Republicanos disse que está disposto a colaborar com o novo prefeito, mas também vai atuar fiscalizando a nova gestão. Ou seja, vai manter a chama acesa.
Como se vê, a ciranda da política vai continuar girando apesar do encerramento do ciclo eleitoral.
Não eleitos em Imperatriz têm futuros diferentes
Observador experiente do cenário político de Imperatriz faz a seguinte previsão. O deputado Marco Aurélio (PCdoB) não ganhou a eleição, mas sua colocação em segundo lugar, com 32,8 mil votos saiu cacifado para se reeleger deputado estadual sem maiores problemas, podendo alimentar o projeto para 2024. Terceiro colocado, com 21,3 mil votos o ex-prefeito Sebastião Madeira (PSDB) se credenciou para entrar na disputa por uma cadeira na Câmara Federal. E o ex-prefeito Ildon Marques (PP), que recebeu 18,5 mil votos, teria dito a amigos que vai abandonar a política e se dedicar inteiramente aos seus negócios cujo carro-chefe é a rede de lojas de eletrodomésticos Liliane. Mariana Carvalho (PSC) com 10 mil votos, Daniel Fiim (Podemos) com 9,9 mil votos são jovens e têm muito chão pela frente, podendo construir carreiras vitoriosas.
São Luís, 06 de Dezembro de 2020.