Disputa em São Luís ganha acirramento e troca de acusações e o desfecho pode surpreender

 

Eduardo Braide mantém liderança, Duarte Jr., Neto Evangelista se batem pela segunda vaga, também ainda almejada por Rubens Jr. na disputa em São Luís

É de intensa movimentação, alguma tensão e nítida indefinição o cenário no qual se desenrola a disputa para a Prefeitura de São Luís na reta de chegada. A única certeza que se tinha até dias atrás seria uma passagem olímpica e fulgente do candidato Eduardo Braide (Podemos), líder em todas as pesquisas para o segundo turno, perdeu muita consistência, embora ainda seja densa o suficiente para ser colocada em dúvida. Incerteza maior agita os candidatos Duarte Jr. (Republicanos), Neto Evangelista (DEM) e Rubens Jr. (PCdoB), que travam uma luta dura, já com forte dose de agressividade, e sem trégua, pela segunda vaga, num ambiente em que até os candidatos aparentemente sem chance – Bira do Pindaré (PSD), Jeisael Marx (Rede), Yglésio Moises (PROS), Franklin Douglas (PSOL), Hertz Dias (PSTU) e Silvio Antônio (PRTB) – se movimentam a cada levantamento das tendências de intenções de voto. Isso significa dizer que nos próximos cinco dias a disputa será bem mais intensa, com os candidatos usando todos os recursos que puderem alcançar para “queimar” o adversário mais próximo e, na mesma pisada, seduzir o eleitor.

Eduard Braide entrou no retão decisivo fortemente alvejado pelos estilhaços de uma nota publicada na influente coluna Painel, do jornal Folha de S. Paulo, no final da semana passada, dando conta de que ele é investigado por suposta movimentação “atípica” de recursos quando era deputado estadual. Inicialmente ele reagiu, classificou a nota de mentirosa, foi à Justiça e obteve uma decisão que proibiu o jornal de publicar a informação, num ato grave de censura. Ontem, o blog do jornalista Clodoaldo Corrêa mostrou documentos que comprovam a informação da Folha de S. Paulo. Eduardo Braide, porém, manteve sua campanha inalterada, abrindo espaços para refutar a pancadaria com discurso escorado numa frase enfática: “Sou ficha limpa. Minha vida é limpa”.

Nesse cenário, Neto Evangelista dedicou ontem parte do seu programa para responder a ataques, tentando evitar desgastes por causa de uma entrevista infeliz, dada há alguns anos, declarando que o salário de deputado estadual, às vezes não dava para garantir até o fim do mês. O alvo do seu contra-ataque foi o candidato Duarte Jr., que aparece à sua frente em todas as pesquisas, numa ciranda que envolve também o candidato Rubens Jr., que tem o governador Flávio Dino agora engajado na sua campanha e respondendo com munição de grosso calibre a insinuações de Eduardo Braide ao seu Governo.

Esse contexto foi fortemente influenciado ontem pela quarta pesquisa DataIlha, que trouxe Eduard Braide na liderança com 37,2% das intenções de voto. O dado bombástico é o empate técnico, dentro da margem de erro, entre Duarte Jr. (15,6%), Neto Evangelista (14,7%) e Rubens Jr. (12,3%), um enrosco de faísca, muito festejado por partidários do candidato do PCdoB, mas duramente questionado pelas vozes alinhadas aos outros candidatos. Nesse levantamento, Bira do Pindaré (PSB) aparece com 3%, Jeisael Marx (Rede) com 2,3%, Yglésio Moisés (PROS) com 1,8%, Silvio Antônio com 1,4%, e Franklin Douglas (PSOL) e Hertz Dias (PSTU) empatados com 0,3%. O DataIlha encontrou 4,7% dispostos a votar em branco ou a anular o voto e 6,5% que não souberam ou não quiseram responder. A pesquisa DataIlha ouviu 1080 eleitores entre os dias 3 e 5/11, tem margem de erro de 3%, intervalo de confiança de 95% e está registrada no TSE com o número MA-09383/2020.

Anterior à fase de pré-campanha, a disputa entre Duarte Jr. e Neto Evangelista ganhou força na campanha e ganha ares de vale-tudo na reta final, e se transformará num “triângulo de fogo” se Rubens Jr. estiver mesmo na posição apontada pelo DataIlha, que fez a mesma sinalização no levantamento anterior. Com uma informação que chama a atenção: ao mesmo tempo em que se batem, os três disparam contra o candidato do Podemos, numa guerra surpreendente, mas inteiramente lógica em se tratando de um embate eleitoral.

 

PONTO & CONTRAPONTO

 

Justiça confirma candidatura do Ildon Marques e anima o jogo sucessório em Imperatriz

Ildon Marques 

O que havia de incertezas em relação à participação do ex-prefeito Ildon Marques (PP) na corrida à Prefeitura de Imperatriz foi para o espaço. É o que informam observadores políticos da antiga Vila do Frei, segundo os quais Ildon Marques obteve na Justiça sinal verde para registrar sua candidatura.

A confirmação da participação de Ildon Marques na disputa produz algumas situações no cenário da disputa, que é liderada pelo deputado Marco Aurélio (PCdoB), com 27,8% das intenções de voto, segundo pesquisa Econométrica divulgada no final de semana passada. A primeira delas é que ele passa a ser a maior ameaça ao prefeito Assis Ramos (DEM), que aparece na pesquisa com 21%, e Ildon Marques com 20,2%. Sem ele na corrida, uma das hipóteses seria prefeito ficando numa situação confortável para tentar o embate com o líder.

A outra situação é que com Ildon Marques, o projeto ex-prefeito Sebastião Madeira (PSDB) – que aparece com 12,1% na pesquisa – de voltar ao comando municipal ficará bem mais difícil. Sem Ildon Marques no jogo, o candidato tucano poderia turbinar sua candidatura com parte dos votos de Ildon Marques, que pelo visto vai tentar ultrapassar o prefeito Assis Ramos e, se conseguir, brigar pela cabeça com Marco Aurélio.

Com a candidatura confirmada, Ildon Marques certamente vai jogar pesado para tirar o prefeito Assis Ramos do caminho e tentar alcançar o líder Marco Aurélio. Mas é certo que encontrará uma resistência dura e obstinada, o que tornará a disputa mais eletrizante na reta final.

 

Os artistas, que já marcaram a vida política de São Luís, estão ausentes da disputa

Um dado tem chamado a atenção na corrida para a Prefeitura de São Luís: a completa ausência de artistas e personalidades ligadas à cultura e à arte em geral. Ao longo de décadas, o envolvimento de cantores, compositores, poetas, escritores, intelectuais, artistas plásticos, grupos de teatro e agitadores culturais em geral foi um traço marcante dos embates políticos no Maranhão, notadamente nas disputas pelo comando de São Luís, onde se posicionavam, levantavam e defendiam bandeiras. Gênios culturais fortemente politizados como Cesar Teixeira, Josias Sobrinho, Sérgio Habibe, Chico Maranhão, Alcione, Zé Pereira Godão, Luís Bulcão, entre muitos outros, tinham lado e assumiam suas posições.

Artistas participaram ativamente da célebre disputa entre Gardênia Gonçalves e Jaime Santana em 1985, presença que se repetiu muito fortemente em 1988, na guerra travada entre Jackson Lago e Carlos Guterres, e em 1992 no animado embate entre Conceição Andrade e João Alberto. A presença de artistas foi ainda marcante nas duas eleições de 1996 e 2000, ambas vencidas por Jackson Lago, mas perdeu força, praticamente desaparecendo a partir de 2008, quando João Castelo foi eleito. Os artistas ludovicenses desapareceram da cena política e eleitoral em São Luís na disputa de 2012, com a eleição de Edivaldo Holanda Jr., situação que se repetiu em 2016, com a reeleição dele numa dura disputa com Eduardo Braide.

No pleito em curso, palavras como “saúde” e “emprego” dominam os discursos dos candidatos. Nas suas falas, porém, a palavra “cultura” foi pouco pronunciada, e “arte”, que é essência da primeira, foi pura e simplesmente ignorada por todos, sem exceção. Uma pena.

São Luís, 10 de Novembro de 2020.

 

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