As mudanças feitas ontem pelo governador Flávio Dino (PSB) na sua equipe de governo, com a troca no comando de cinco secretarias e da Gasmar ensejou uma forte onda de especulações, sendo a mais forte a de que as mudanças fortaleceram o secretário de Estado da Educação, Felipe Camarão, que recentemente se lançou pré-candidato do PT à sua sucessão. O PT de fato ganhou mais uma secretaria, com nomeação do suplente de deputado estadual Luiz Henrique Lula da Silva para o comando da Secretaria de Agricultura (Sagrima), mas o PSDB do vice-governador Carlos Brandão, pré-candidato assumido ao Governo, também ganhou força com a nomeação do ex-prefeito de Imperatriz, Sebastião Madeira, para a presidência da Gasmar, empresa pública que vale por várias secretarias. No mais, as mudanças feitas pelo governador não refletiram o turbinamento desse ou daquele pré-candidato da base governista, passando mais a ideia de um ajuste para os oito meses e meio que lhe restam de mandato, já que o roteiro estabelecido pela legislação eleitoral exige que ele renuncie em Abril para se candidatar ao Senado.
As mudanças feitas ontem não mexeram no equilíbrio dos espaços ocupados no Governo pelas forças governistas que têm aspirantes à sucessão no Palácio dos Leões. O PDT, por exemplo, que tem o senador Weverton Rocha como pré-candidato assumido a governador, não perdeu um só naco de poder no Governo, com a permanência do deputado estadual licenciado Márcio Honaiser, um dos líderes de proa da legenda pedetista, no comando da poderosa Secretaria de Desenvolvimento Social, e do ex-prefeito de Codó, Francisco Nagib – que não teve condições políticas nem eleitorais para tentar a reeleição – na diretoria-geral do Detran. A Secretaria de Agricultura saiu do controle do PL num processo absolutamente natural, uma vez que o chefe maior do partido, o deputado Josimar de Maranhãozinho, pré-candidato à sucessão governamental, rompeu com o Governo. A entrega da pasta entrega ao PT com a nomeação de Luiz Henrique Lula da Silva, foi um acordo costurado com o partido, e não exatamente com o secretário e pré-candidato Felipe Camarão.
O deslocamento do advogado Diego Galdino para a Casa Civil, depois de ter passado pelas secretarias de Cultura e Governo, é explicada pelo fato de ter sido ele o auxiliar “não partidário” que mais se ajustou à linha de ação do governador Flávio Dino, que precisava de um auxiliar com esse perfil para substituir o deputado Marcelo Tavares (PSB), que comandou a pasta por mais de seis anos, mas a deixou e renunciou ao mandato para ser conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. O que perece ser o caso da nomeação da jornalista Marcela Mendes para o comando da Secretarias de Governo, que é o elo entre a Governadoria e as demais áreas da administração estadual. A volta da deputada estadual Ana do Gás (PCdoB) ao comando da Secretaria da Mulher foi tem, dois vieses, a devolução de um espaço que já era ocupado pelo o PCdoB, o mais fiel partido da base do Governo, e, pelo que se ouve, um bom trabalho que ela realizou ali.
Depois de ser comandada pelo hoje deputado federal licenciado e secretário de Cidades Márcio Jerry (PCdoB), pelo advogado Rodrigo Lago, que criou e instalou a Secretaria de Transparência, dirigiu a Secretaria de Comunicação e Articulação Política e hoje é secretário de Desenvolvimento Agrário, e pelo deputado Rubens Jr. (PCdoB), a influente Secretaria de Articulação Política passou a ser comandada ontem, efetivamente, por Ricardo Barbosa, ex-vereador de Parnarama, que já vinha respondendo pela pasta desde que Rubens Jr. resolveu reassumir seu mandato de deputado federal. Para quem não sabe, Ricardo Barbosa é membro destacado do grupo político liderado pela família Pereira de Matões Ruben Pereira, e sua confirmação na pasta mostra o poder de fogo do parlamentar na área.
A pergunta que está no ar é se o governador Flávio Dino fez as mudanças combinando com o vice-governador Carlos Brandão, que se prepara para assumir o comando como governador titular. Se sim, ele já está formando sua equipe de Governo; se não, é provável que ele também faça amplos ajustes na equipe quando sentar na cadeira principal do Palácio dos Leões.
PONTO & CONTRAPONTO
Bolsonaro destrata Goulart e petebistas e pedetistas ignoram
Causou estranhamento em alguns observadores o silêncio de pedetistas e petebistas maranhenses em relação ao inacreditável veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao projeto que batizava a BR-153, que liga Marabá (Pará) e Cacheira do Sul (Rio Grande do SUL), com o nome do presidente João Goulart, sob o também inacreditável argumento segundo o qual o líder gaúcho não era um democrata. Um dos fundadores do PTB, quando era ministro do Trabalho do presidente Getúlio Vargas, João Goulart chegou onde chegou pelo voto direto e foi derrubado em 1964 por um golpe militar armado pelas elites antidemocráticas do País e financiado pelos Estados Unidos e morreu em 1976 exilado na Argentina. Recentemente, o Senado da República devolveu simbolicamente o mandato presidencial de João Goulart tirado pela força pelos militares golpistas de 1964.
Várias vozes ligadas à memória do presidente João Goulart protestaram. No Maranhão, velhos petebistas provavelmente nem tenham sabido da grosseria histórica do presidente Jair Bolsonaro, mas o silêncio dos mais jovens, que estiveram no comando do partido fundado por Vargas com apoio e empenho de Goulart, é no mínimo criticável. No momento, numa inversão histórica sem paralelo, o PTB do Maranhão, que até pouco tempo foi presidido pelo deputado federal Pedro Lucas Fernandes, é comandado pela deputada Mical Damasceno, uma jovem senhora “terrivelmente evangélica” e militante entusiasmada de extrema-direita, que provavelmente enxerga traços fortes do capeta em João Goulart.
Já o silêncio de pedetistas – com as devidas escusas a quem eventualmente se manifestou -, se revela estranho pelo fato de que, fundado por Leone Brizola, cunhado de João Goulart e seguidor entusiasmado de Getúlio Vargas, o PDT tem o DNA dos dois ex-presidentes, que são os pais da versão moderna do trabalhismo no Brasil. Leonel Brizola fundou o PDT liderando um grupo do qual participaram Neiva Moreira e Jackson Lago, após tentar, sem sucesso, resgatar o PTB, que o regime militar entregou para a deputada federal Ivete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio Vargas, que iniciou a lenta e cruel desfiguração que produziu o PTB de hoje, comandado pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson, símbolo maior da extrema-direita ensandecida e golpista, e alimentada pelo atual presidente da República.
A atitude do presidente Jair Bolsonaro merecia uma reação dura pela desfeita injustificada ao presidente João Goulart.
Repórter Tempo alcançou 2.000 edições
Na edição de Terça-Feira (13), Repórter Tempo emplacou 2.000 edições. Nascida em fevereiro de 2015 com o propósito de praticar um Jornalismo de observação e interpretação, procurando identificar a verdade nas diferentes versões dos fatos políticos e, eventualmente, culturais, a Coluna aspirou ser algo mais do que um simples espaço factual na blogosfera. A intensão do autor foi utilizar sua experiência de mais de três décadas de Jornalismo Político somada à vivência de mais de duas décadas como editor de jornal. Tem por princípio a independência do seu conteúdo e o respeito às personagens cujos movimentos documenta pela ótica da interpretação, sem nunca ferir padrões éticos. Foi rigorosamente assim até agora e continuará sendo até o fim. O registro vale como agradecimento aos que validam o espaço com seu acesso.
São Luís, 16 de Outubro de 2021.
Uma correção: Jango foi fundador do PTB e não do PDT.