Uma decisão recente do comando nacional do DEM atiçou os ânimos nas entranhas da aliança partidária liderada pelo governador Flávio Dino (PCdoB), onde estão sendo travadas disputas que resultarão na definição do candidato – ou candidatos – do grupo a prefeito de São Luís. O partido comandado nacionalmente por ACM Neto, prefeito de Salvador (BA), confirmou a candidatura do deputado estadual Neto Evangelista à sucessão do prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT), e com a recomendação expressa de que esse projeto deve ser concretizado com ou sem aliança. Pelo que ficou claro, Neto Evangelista é uma das apostas do DEM na corrida por prefeituras de capitais, e a julgar pelo empenho de torná-lo candidato em São Luís, a cúpula democrata acredita que ele tem cacife para disputar e vencer o pleito. Até aqui, o parlamentar já trabalha com duas possibilidades: sair candidato em aliança com o PDT, que indicaria o vice, ou lançar-se sozinho.
Se por um lado a manifestação da cúpula do DEM reforça a posição de Neto Evangelista – que tem dito que será candidato de qualquer maneira -, injetando-lhe ânimo para seguir em frente, por outro o coloca numa situação incômoda dentro da aliança partidária liderada pelo governador Flávio Dino. A comodidade está no fato de que sua candidatura não encontra qualquer traço de resistência ou concorrência dentro do braço ludovicense do DEM, do qual é presidente, permitindo que ele se movimente como bem entender em busca de apoio político e eleitoral. E o incômodo se dá porque a irreversibilidade da sua candidatura determinada pela cúpula partidária pode colocá-lo em rota de confronto com algum aliado da base governista.
Vista por outro ângulo, a determinação da cúpula democrata de ter Neto Evangelista candidato lhe dá vantagem numa eventual negociação com o PDT. Isso porque dentro do arraial brizolista todos – inclusive o vereador-presidente Osmar Filho – sabem que uma aliança DEM-PDT, tendo Neto Evangelista como candidato a prefeito e um representante do PDT como vice é o Plano A do presidente regional do partido, senador Weverton Rocha, diante das dificuldades que tem de encontrar um pedetista com cacife eleitoral para brigar pela sucessão do prefeito Edivaldo Holanda Júnior. O senador e o atual prefeito vivem o drama de ter de passar o Palácio de la Ravardière a um representante de outro partido, ainda que aliado, como Rubens Júnior (PCdoB), Duarte Júnior (PCdoB) e Bira do Pindaré (PSB), ou, pior ainda, a um adversário, como Eduardo Braide (Podemos). A solução menos traumática para o partido será o projeto de aliança DEM/PDT. Não há outra saída para o partido fundado no Maranhão por Jackson Lago e que mandou na Prefeitura de São Luís por mais de 20 anos nas últimas três décadas.
Político jovem, mas com experiência e faro de raposa tarimbada, Neto Evangelista sabe onde está pisando quando o campo de batalha eleitoral é São Luís, onde perdeu a eleição em 2012 como vice do então prefeito João Castelo, candidato à reeleição e derrotado por Edivaldo Holanda Júnior. Quando entrou para o DEM, em 2017, sabia que tinha dois objetivos desafiadores: reeleger-se deputado estadual em 2018 e disputar a Prefeitura de São Luís em 2020. Venceu o primeiro com tranquilidade e está determinado a vencer também o segundo, mesmo sabendo dos enormes obstáculos que terá de superar, mesmo como cabeça de uma chapa tendo o PDT como aliado. As pesquisas têm informado que ele tem cacife para uma boa largada.
Nesse contexto em que a indefinição domina o cenário pré-eleitoral, a manifestação do comando nacional do DEM refirmando apoio incondicional à sua candidatura a prefeito de São Luís, Neto Evangelista dá mais um passo para consolidar em definitivo sua candidatura, mesmo num cenário em que há nomes de peso na disputa. Agora com a certeza de que, além do senador Weverton Rocha, a decisão de como o PDT participará da disputa passará também pelo prefeito Edivaldo Holanda Júnior.
PONTO & CONTRAPONTO
Solidariedade joga bem ao abrir caminho para candidatos a candidato
O aparente desnorteio do Solidariedade na busca de um candidato a prefeito de São Luís tem sido, na verdade, um surpreendente exercício de política, que poderá, ou não, resultar na montagem de uma chapa competitiva. O partido comandado por Simplício Araújo, suplente de deputado federal e secretário de Indústria e Comércio, já contabiliza nos seus quadros o ex-juiz Carlos Madeira, que se aposentou focado no projeto de ser candidato a prefeito. E tem ao alcance da mão os deputados Duarte Júnior (PCdoB) e Yglésio Moyses (sem partido). Político antenado, Simplício Araújo sabe que a candidatura de Carlos Madeira é uma aposta sem maior perspectiva de retorno político e eleitoral, pois servirá mais para introduzir o ex-magistrado federal na movediça seara política do que para participar da disputa com possibilidade real de vencê-la. No caso de Yglésio Moyses, que o PDT deixou escapar, a aposta seria um pouco mais consistente, por se tratar de um político jovem, extremamente ativo como parlamentar e que está determinado a ocupar espaço no cenário estadual, enxergando essa oportunidade na corrida eleitoral na capital. O deputado Duarte Júnior, um fenômeno eleitoral em busca de densidade política, queiram ou não seus adversários, poderá ser uma das estrelas dessa corrida, seja ou não escolhido candidato do PCdoB. As articulações em curso podem até não produzir um resultado política e eleitoralmente graúdo, mas não há dúvida de que o chefe do Solidariedade no Maranhão está jogando bem nesse tabuleiro movediço, onde há muito não se via tanta movimentação e ousadia.
PSB dá quinada à esquerda e pode fazer aliança com PSOL, PCB e PT
Poderão PSB, PSOL, PCB e PT juntarem forças numa aliança para disputar a Prefeitura de São Luís? Qualquer análise descompromissada feita até 48 horas atrás diria que não, mas o surpreendente encontro do professor e militante político Franklin Douglas, pré-candidato do PSOL, e o deputado federal Bira do Pindaré, candidato escolhido do PSB, sinalizou essa possibilidade, por mais remota que ela seja. Três pontos podem ser anotados sobre essa reunião. O primeiro é o gesto de flexibilidade do pré-candidato do PSOL, que abre o partido para a possibilidade de uma composição visando a Prefeitura de São Luís. O outro é a guinada do pré-candidato do PSB para a esquerda. E o terceiro ponto é que nas suas declarações nenhum deles sequer levantou a hipótese, por mais remota que ela seja, de uma aliança incluindo o PCdoB. A conversa de entre Franklin Douglas e Bira do Pindaré não produziu um resultado concreto, mas emitiu um sinal forte de que a fase preparatória da corrida à Prefeitura de São Luís ainda reserva muitas surpresas.
São Luís, 08 de Janeiro de 2020.