Crise política, articulações, debandadas e corrida aos estados

 

dilma-horz
Dilma Rousseff a caminho do Maranhão em busca de apoio de Flávio Dino

BRASÍLIA – Poucas vezes a Capital do país viveu dias tão tensos e um horizonte tão imprevisível como agora. A Coluna acompanhou as movimentações de quinta-feira no Congresso Nacional e confirmou o cenário de crise política aguda, que ameaça não apenas o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) em si, mas também uma sensação de instabilidade que coloca em risco todos os pilares da República. Isso porque, se a situação do Poder Executivo é grave e delicada, a das duas Casas do Congresso Nacional também o é, e os reflexos dessa ciranda contaminam ainda o Poder Judiciário. É nesse contexto que a presidente da República desembarcará segunda-feira em São Luís, para uma visita que parece de trabalho, mas que na verdade o objetivo maior é mostrar a sua versão da realidade e pedir suporte político para superar os obstáculos gerados pela crise econômica e pelos descaminhos causados pela Operação Lava Jato, que está minando sua base partidária.

No complicado tabuleiro montado em Brasília, o clima é de pura incerteza, a começar pelo fato de que a base partidária que dá sustentação ao governo está se desmanchando sem que o Palácio do Planalto e seus articuladores consigam estancar a debandada. E o sinal mais forte da fragilidade política do governo foi evidenciado pela decisão do PTB (26 deputados) e do PDT (19) de se desligar formalmente da aliança governista e se declarar independentes. Foi uma pancada e tanto, primeiro porque a debandada pedetista e petebista apontou o agravamento da crise, e depois porque, mesmo tendo ainda uma maioria folgada, a perda de 45 deputados compromete seriamente o braço governista na Câmara Baixa e porque a guinada dada pelos dois partidos pode estimular outras bancadas a fazer o mesmo diante, principalmente, dos partidos nanicos ávidos por cargos e vantagens proporcionadas pela máquina pública.

No epicentro da crise, por ser um dos maiores responsáveis pelos movimentos que ameaçam a estabilidade política e a normalidade constitucional, o presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), reafirmou, numa coletiva no Salão Verde, que a Casa não sairá da linha que vem sendo posta em prática. E foi mais longe ao afirmar que a responsabilidade por tudo o que está acontecendo é do governo e de seus articuladores. Para concluir avisando, enfaticamente, que se tiver o suporte dos líderes partidários, vai manter o mesmo ritmo de votações, independentemente de as matérias prejudicarem ou não o ajuste do governo para colocar as suas contas nos eixos.  E sem esconder um sorriso nitidamente irônico no canto da boca, avisou que só fará o que os líderes partidários determinarem. “São eles que mandam”, assinalou para um grupo de jornalistas que pensam exatamente o contrário.

Para superar a crise, a presidente Dilma Rousseff atua em duas frentes. Uma dedicada exclusivamente às negociações no Congresso e ao campo partidário, tarefa entregue ao vice-presidente Michel Temer. A outra é a mobilização dos governadores, feita pela própria presidente a partir de uma articulação entregue ao chefe da Casa Civil, Aloísio Mercadante. A presidente já se reuniu com os governadores e agora inicia uma maratona de viagem aos estados para, segundo a versão do Palácio do Planalto, consolidar a estratégia. No Maranhão, onde desembarcará nesta segunda-feira, a presidente Dilma vai dar um passo nessa direção, devendo receber do governador Flávio Dino (PCdoB) declaração de apoio, tanto no sentido pessoal quanto no viés político,

O governador Flávio Dino vem dando seguidas demonstrações de que está integralmente alinhado com a presidente da República. Ele não tem perdido uma só oportunidade de se manifestar contra a proposta de impeachment. A manifestação mais recente foi na semana passada em Manaus, onde se reuniram os governadores dos estados que integram a Amazônia legal. Na ocasião, Dino criticou duramente a tentativa da oposição de quebrar a ordem com uma proposta de impeachment. E deve repetir o discurso ao receber a presidente acompanhado de deputados federais fieis à sua orientação. Embalada pelo fato de que o Maranhão foi o estado que lhe deu a maior votação em 2010 e repetiu a dose em 2014, a presidente aposta que sairá de São Luís com o compromisso de que as forças políticas lideradas pelo governador lhe darão o suporte que ela precisa.

 

PONTOS & CONTRAPONTO

Saia justa

fernandesNo contexto da crise política, dois deputados federais maranhenses de peso vestirão saia justa se comparecerem aos eventos que marcará a visita da presidente Dilma Rousseff ao Maranhão, nesta segunda-feira. O primeiro é Weverton Rocha, cujo partido, o PDT, abandonou a base governista, declarando-se independente, mas não devolveu o Ministério do Trabalho, o que é uma contradição que Leonel Brizola jamais aprovaria. O outro é o deputado Pedro Fernandes, que tentou evitar o rompimento, mas no final teve de se render à maioria do PTB.  Será um momento político muito interessante o encontro dos dois com a presidente Dilma. É possível que eles reafirmem os seus laços com a presidente, independentemente da posição dos seus partidos.

 

São Luís, 07 de Agosto de 2015.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *