Nenhuma escolha do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para a formação do seu ministério causou tanto impacto no meio político e na seara institucional quanto a do juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato, para o poderoso Ministério da Justiça. O convite, aceito na hora, provocou amplas manifestações de apoio por parte dos que veem o magistrado como exemplar, como também causou um vendaval de críticas, disparadas pelos que enxergam nele um magistrado parcial e movido por convicções políticas. Os que o apoiam têm nele apenas um cidadão comprometido com o País, sem viés político. Os que o criticam o apontam como um militante político da direita conservadora, plenamente identificado com os postulados da extrema direita professados pelo presidente eleito Jair Bolsonaro. Entre os críticos da escolha e da aceitação está o governador Flávio Dino (PCdoB), que com a autoridade de quem foi juiz federal, avalia que Sérgio Moro cometeu grave deslize ético ao “militar no mesmo projeto político” do presidente eleito, e “esconder interesses eleitorais por baixo da toga”.
– Sérgio Moro aceitar o ministério de Bolsonaro é um ato de coerência. Eles estavam militando no mesmo projeto político: o da extrema-direita. O grave problema é esconder interesses eleitorais por baixo da toga. Não há caso similar no Direito no mundo inteiro -, escreveu Flávio Dino em sua conta no Twitter, na tarde de quinta-feira, horas depois do encontro de Sérgio Moro e Jair Bolsonaro, no Rio de Janeiro, no qual a escolha foi acordada. O governador do Maranhão completou a manifestação crítica afirmando que “a comprovação de interesses eleitorais na Lava-Jato, além de comprometê-la quanto ao já feito, infelizmente vai gerar suspeitas com relação a casos similares no futuro. Não é apenas Sérgio Moro que perde credibilidade”.
Com a manifestação à escolha do juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça, o governador Flávio Dino ratifica sua posição crítica a algumas decisões do ex-colega no comando da Operação Lava-Jato, vendo nelas parcialidade e motivações políticas. A postura do governador maranhense de apontar quebra na ordem jurídica e envolvimento político em decisões de Sérgio Moro em relação, por exemplo, ao ex-presidente Lula da Silva (PT), não é recente. Ela foi formada e manifestada ainda nos primórdios da Operação que desmontou o esquema de corrupção na Petrobras e apanhou de roldão figuras de proa do PT no Governo Dilma Rousseff, culminando com o impeachment dela e, mais tarde, com a condenação e prisão do ex-presidente Lula da Silva. Flávio Dino sempre defendeu a Operação Lava Jato, mas sempre foi enfático ao afirmar, em tom de denúncia, que em alguns casos o juiz Sérgio Moro abusou da autoridade, atropelou a ordem jurídica e atuou politicamente motivado por uma linha ideológica de direita radical. Ao aceitar o convite do presidente Jair Bolsonaro para ser ministro da Justiça, Sérgio Moro revelou por completo a sua posição política.
Poucas personalidades do contexto político e institucional brasileiro têm tanta autoridade para apontar Sérgio Moro como um juiz parcial e politicamente afinado com o projeto da extrema-direita de chegar ao poder. Para começar, os dois entraram para a magistratura federal em 1996, no mesmo concurso, no qual Flávio Dino foi aprovado em primeiro lugar. Flávio Dino exerceu a magistratura intensamente, militando também na luta corporativa, tendo sido presidente da Associação de Juízes Federais, uma entidade de forte militância em defesa da magistratura, enquanto Sérgio Moro foi estudar em universidades conservadoras norte-americanas. Flávio Dino deixou a magistratura em 2006 e elegeu-se deputado federal, tornando-se uma referência na Câmara Federal em assuntos jurídico-institucionais. Sérgio Moro se dedicou à magistratura no Paraná, atuando no combate à lavagem de dinheiro, até que assumiu o comando da Operação Lava-Jato.
A diferença entre os dois é nítida. Flávio Dino foi um magistrado sério, que optou por entrar na vida política pela porta da frente, renunciando a toga e conquistando um mandato de deputado federal, realizando um trabalho político na esquerda democrática e alcançando o Governo do Maranhão, que comanda sem mácula ética, o que o tornou uma das vozes políticas mais acreditadas do País. Sérgio Moro se manteve na magistratura e se notabilizou pela firmeza com que toma decisões relacionadas com o crime de colarinho branco, como lavagem de dinheiro e corrupção pura e simples, porém apontado por muitos de fazer política sob a toga. Como é do seu direito, Sérgio Moro deixará a magistratura para participar de um Governo de direita conservadora, não havendo nisso nada de ilegal podendo ser até mesmo ser um rasgo sincero de idealismo, como disse a deputada bolsonariana eleita Janaína Paschoal.
O problema é que o gesto causa a impressão de que o ainda magistrado está de acordo com o que pensa o presidente Jair Bolsonaro sobre fuzilar bandidos, “metralhar petralhas”, usar a tortura em interrogatórios, fechar a Folha de S. Paulo e outros itens do gênero, que nem de longe passam pela cabeça do governador do Maranhão.
PONTO & CONTRAPONTO
Blog da direita esclarecida reage a críticas de Dino a Moro
Formada por militantes assumidos da direita esclarecida que tem no antipetismo a razão de ser do seu jornalismo, a turma de craques do badalado blog o antagonista.com não gostou nem um pouco da declaração do governador Flávio Dino dizendo que, ao aceitar o convite do presidente eleito Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Justiça, o juiz Sérgio Moro confirmou a suspeita de ser um militante da direita e vinha escondendo interesses políticos debaixo da toga. E resolveu atirar no governador do Maranhão:
“Quem escondia interesses debaixo da toga era Flávio Dino, ex-juiz federal, hoje governador do Maranhão.
Ele fez exatamente como Sergio Moro.
Só que Dino, o político, se alinhou com o governo mais corrupto da história.
Moro, o político, vai comandar um ministério contra a corrupção”.
Nota é confusa e foi escrita simplesmente para bater no governador. Basta analisar as duas posturas para se perceber claramente a distância enorme que separa um do outro em matéria de correção política.
Flávio Dino não deixou a magistratura para entrar na política como um aventureiro, mas como um projeto de vida, rascunhado ainda nos embates do movimento estudantil. Ele renunciou à bem sucedida carreira de magistrado para entrar pela porta da frente e sem padrinho: candidatou-se e elegeu-se deputado federal. Exerceu o mandato respeitado como um dos grandes parlamentares daquela legislatura (2007/20011), tendo sido, por exemplo, o relator da Lei de Responsabilidade Fiscal e um dos articuladores da Lei da Ficha Limpa. Flávio Dino disputou e perdeu a eleição para prefeito de São Luís em 2008. Disputou e perdeu o Governo do Estado em 2010.
Independente e liderando um grande movimento de massa, disputou o Governo do Estado em 2014 e venceu a eleição sem o apoio de nenhum graúdo da política nacional. Reelegeu-se em 2018, livre novamente de qualquer amarra com chefões da política nacional.
Até agora, Flávio Dino faz uma carreira independente e irreprovável, sem nenhum deslize ético e nenhuma amarra política, e com esse cacife, que só cresce, caminha para voos mais altos. Sérgio Moro, ao contrário, decidiu deixar a magistral para entrar na vida política na poeira do sucesso eleitoral de Jair Bolsonaro, com quem tem afinidades.
Vale anotar que Jair Bolsonaro revelou esperteza política ao convidar Sérgio Moro para comandar o braço do seu Governo contra a corrupção e o crime organizado. Montou uma equação simples: se Moro for bem sucedido, os louros serão do presidente da República; se fracassar, a culpa será do ministro da Justiça, que decepcionará a sociedade e o presidente.
A turma do o antagonista errou feio na comparação de Sérgio Moro com Flávio Dino
Roberto Costa sai das eleições fortalecido e com desafios à frente
Passado o período eleitoral, uma avaliação simples aponta o deputado estadual Roberto Costa (MDB) como um dos políticos mais bem sucedidos na guerra pelo voto no Maranhão. Não apenas pela sua reeleição para a Assembleia Legislativa, mas pelos eventos políticos que pontilharam seu mandato. Por decisão do seu partido, Roberto Costa foi escalado para disputar a Prefeitura de Bacabal em 2016, correndo um grande risco, à medida que a dedicação a campanha em Bacabal o obrigaria a se ausentar das suas outras bases eleitorais, como São Luís, por exemplo, onde já foi inclusive candidato a vice-prefeito em 2008. Roberto Costa encarou o desafio, candidatou-se a prefeito de Bacabal, mas perdeu a eleição para o ex-prefeito Zé Vieira (PR). O prefeito eleito foi empossado, mas pouco mais de um ano depois perdeu o cargo por ser ficha suja, tendo a Justiça Eleitoral dado posse ao presidente da Câmara, Edivan Brandão (PSC). Roberto Costa seria o candidato natural para a nova eleição – marcada para o dia 28 de Outubro, data do 2º turno das eleições. Roberto Costa analisou o cenário e decidiu investir na sua reeleição de deputado estadual, preferiu do apoiar a candidatura do prefeito temporário. Apesar de todo o sufoco que experimentou, a estratégia deu certo: ele se reelegeu deputado estadual e teve papel fundamental na eleição de Edivan Brandão para a Prefeitura de Bacabal. A partir do próximo ano, Roberto Costa terá outros desafios pela frente, começando pelo futuro do MDB, que poderá sair do controle do senador João Alberto, já tendo sobreviventes do Grupo Sarney reivindicando o posto, entre eles o deputado federal reeleito Hildo Rocha (MDB), havendo também quem preveja que o ex-deputado Ricardo Murad tentará assumir o controle do partido. Há, porém, uma corrente que aposta que agora, ao assumir o terceiro mandato parlamentar, Roberto Costa deva assumir o comando do MDB em substituição ao seu orientador político, senador João Alberto.
São Luís, 02 de Novembro de 2018.