Há divergências sobre se o domingo de protestos país a fora, que levou ao menos quatro milhões de brasileiros às ruas em protestos pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff, a prisão do ex-presidente Lula e a defenestração do PT do poder foi o “Dia D” para a traumática crise política que inferniza o Brasil. Há quem avalie que o 13 de Março foi um marco a partir do qual o Governo Dilma/PT entrou em contagem regressiva para chegar ao fim com o impeachment da chefe da Nação em no máximo dois meses; há os que avaliam que a agonia do Governo pode ser prolongada por alguns meses e com algum alívio eventual; e há também os que preveem, com alguma convicção, que a presidente, que enfrentou pau-de-arara e sevícias na ditadura, tem garra para suportar o terremoto e sobreviver por muito mais tempo. Mas enquanto não surgem evidências mais nítidas do que vem por aí, a classe política maranhense encontra-se com todas as suas antenas ligadas, especialmente os chefes de Poder, que recebem mais diretamente os impactos da crise. O governador Flávio Dino (PCdoB), o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Humberto Coutinho (PDT), e o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Cleones Cunha, cada um a seu modo, estão preocupados com a situação atual do país. Eles apostam numa solução rápida que devolva ao Brasil a estabilidade política e a retomada do processo econômico.
Aliado de proa da presidente Dilma, cujo mandato defende com discurso lucido e corajoso, o governador Flávio Dino acompanhou as manifestações com a atenção que tem dedicado à crise política. De acordo com uma fonte com trânsito no Palácio dos Leões, o governador não se surpreendeu com o fato de que grandes, médias e pequenas manifestações foram realizadas em pouco mais de 200 dos mais de cinco mil municípios brasileiros, e de que no Maranhão ocorreram protestos apenas em São Luís, Imperatriz e Balsas. Na observação da mesma fonte, o governador avalia a crise como muito grave, mas acredita que ela pode ser resolvida pela via do diálogo. Flávio Dino tem cobrado da presidente Dilma medidas econômicas mais ousadas, fugindo da crueza do ajuste proposto pela corrente neoliberal que integra o governo. O governador maranhense classifica de “golpe” o processo de impeachment da presidente em curso no Congresso Nacional e acha que é chegada a hora de a presidente Dilma mobilizar todas as forças e convocar todos os segmentos da política nacional para redesenhar o cenário da crise buscando uma saída sem traumas.
A evolução e as incertezas quanto aos desdobramentos da crise invadiram há tempos os bastidores da Assembleia Legislativa, onde os deputados se mantêm atentos aos acontecimentos. Ali, o presidente Humberto Coutinho observa o cenário nacional com forte preocupação, avaliando que “ninguém sabe o que vai acontecer”, depois que conversou ontem com diversas fontes avançadas da política estadual. Diante do cenário, o presidente do Legislativo se mostra convencido de que haverá mudanças no país. Não consegue ainda mensurar a extensão delas, mas não tem dúvida de que estão a caminho. Humberto Coutinho acha que o ponto mais grave da crise são as consequências do seu viés econômico. A quebra da economia, com a interrupção do processo de crescimento, gera instabilidade, insegurança e insatisfação em todos os segmentos e níveis da sociedade. Tanto que, na sua avaliação, se a crise econômica corta emprego e renda, reduz a receita de impostos, reduzindo as ações dos governos estaduais e asfixiando os municípios. Ao mesmo tempo, assinala que a raiz e a solução da crise econômica é a crise política. E do alto da sua experiência, o presidente da Assembleia Legislativa vaticina: “Se resolvermos a crise política agora, em poucos meses o país voltará a crescer”.
Numa outra realidade, onde as trombetas da política são apenas ouvidas, o presidente do Poder Judiciário, desembargador Cleones Cunha, acompanha a crise com atenção redobrada, mas sem emitir, como chefe de Poder, juízo de valor sobre o que está acontecendo no país. Admite que como magistrado-dirigente e como cidadão acompanha a situação e entende que o quadro “é delicado”, e acredita que a solução tem de sair de um amplo entendimento político. Um dos mais experientes magistrados do Maranhão, oriundo inclusive de família política de Tuntum, o desembargador-presidente Cleones Cunha mantém intacta a regra segundo a qual magistrado – principalmente no comando do Poder – não deve emitir opinião acerca de crises políticas. “O que posso dizer é que, como chefe de Poder, a crise me preocupa, mas não me cabe apontar culpados nem emitir opiniões contra ou a favor. Com o cidadão, acho que chegou a hora de resolver a situação. Se isso vai ser resolvido com diálogo, com impeachment ou sem impeachment, eu não sei. Só quero que se resolva logo, para que a Nação volte a viver em paz”, declarou o presidente do Tribunal de Justiça.
A crise é, de fato, fator de intranquilidade de todos, e o seu desfecho é aguardado com ansiedade e expectativa mesmo nas esferas onde muitos acreditam que não existe preocupação.
PONTO & CONTRAPONTO
Conversão do empresário e ex-prefeito Ildon Marques ao socialismo é bom negócio para o PSB
A grande novidade do cenário politico do Maranhão nos últimos dias é a iminente filiação do ex-prefeito de Imperatriz, empresário Ildon Marques. Não é boato, é informação verdadeira, já que ele próprio in formou a uma emissora de rádio tocantina que recebeu e aceitou convite que lhe foi feito pela direção nacional do partido. O convite a Ildon Marques foi, na verdade, uma articulação do senador Roberto Rocha, mostra que o PSB abrandou seu rigor ideológico desde que foi refundado no Brasil pelo legendário líder pernambucano Miguel Arraes, avô do ex-governador Eduardo Campos, que vinha democratizando os postulados da agremiação. Não que Ildon Marques não guarde alguma identificação com o PSB, mas ele até agora não havia deixado transparecer qualquer traço de esquerda no seu perfil político ao longo da sua trajetória empresarial e política. Para começar, Ildon Marques é um dos homens mais ricos da região que abraça o sul do Maranhão, leste do Tocantins e do oeste do Pará. O carro-chefe do seu grupo empresarial é a cadeia de lojas de eletrodomésticos Liliane, à qual se somam supermercados, fazendas e outros empreendimentos, que podem ser encontrados até no Ceará e em Goiás. Marques despontou na política nos anos 80, quando foi candidato a deputado federal e a vice-governador na chapa de João Castelo em 1990. Entrou para o Grupo Sarney filiando-se ao PMDB, e assumiu, em 1995, o comando de Imperatriz como interventor nomeado pela então governadora Roseana Sarney (PMDB), que interveio no município para encerrar o domínio de uma turma da pesada que tinha por trás o então ex-deputado e ex-prefeito Davi Alves Silva. Homem com boa formação, dotado de uma boa base cultural, Ildon Marques revelou que, além de empresário bem sucedido, é também um bom administrador público, haja vista o bom trabalho que realizou na Prefeitura de Imperatriz. O político defende posições de centro, podendo ser identificado como um militante de centro-direita. O bom trabalho que realizou com o interventor lhe deu dois mandatos seguidos como prefeito eleito. Foi suplente de senador – chegou a exercer o mandato por meses – e perdeu para o seu arquirrival Sebastião Madeira (PSDB), em 2008, a terceira eleição que disputou para a Prefeitura da Princesa do Tocantins. Todos os observadores da cena política de Imperatriz o veem como favorito na disputa deste ano, sendo o único com cacife para bater a candidata assumida do PDT, Rosângela Curado, e o provável candidato do PCdoB, deputado Marco Aurélio. Se ele vier a se converter ao socialismo ligth do PSB, o grande ganhador será o partido, porque terá um quadro de peso, eficiente, respeitado e politicamente confiável.
Bira do Pindaré volta, Fernando Furtado sai
Bira do Pindaré reassume hoje sua cadeira na Assembleia Legislativa, depois de, como secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, haver deflagrado o grande projeto dos Iema, um dos xodós do governador Flávio Dino. Volta à lida parlamentar para viabilizar sua candidatura à Prefeitura de São Luís, que só depende do partido. O único obstáculo, que se tem se revelado complicado, é o senador Roberto Rocha, que controla o PSB de São Luís e não quer Bira do Pindaré como candidato, preferindo filiar e lançar a deputada federal Eliziane Gama. O deputado conta o apoio assumido do presidente regional da agremiação, prefeito Luciano Leitoa (Timon) e com o aval do deputado federal e ex-governador José Reinaldo Tavares, que já apoiou a candidatura de Eliziane Gama, mas reviu sua posição quando se convenceu que Bira do Pindaré poderia mesmo ser o0 candidato. O ex-secretário vai travar uma guerra das boas contra o senador, e nos bastidores corre que ele, Bira do Pindaré, tem o aval do comando nacional do partido e do Palácio dos Leões.
Fernando Furtado volta hoje à vida de sindicalista depois de um ano e dois meses como deputado estadual. Velho e convicto batalhador nas lides sindicais, nas quais aprendeu o jogo pesado das disputas, construiu também uma trajetória como militante comunista, se destacando ainda pelo temperamento forte e uma firme capacidade de dizer o que pensa, não importa as consequências. E foram essas últimas características que o celebrizaram nesses meses de parlamento. Bateu forte no seu principal adversário, o deputado Junior Verde (PR), como ele envolvido com o movediço e complicado mundo da pesca, por muitos apontado como um antro de corrupção. Fernando Furtado penso assim também, tanto que denunciou várias vezes o deputado do PR. Outra vez, no afã de bater nos Serra, seus adversários em Pedro do Rosário, fez um discurso em que mostrava índios da região como vítima, chegando ao ato falho de chamar os silvícolas de “frouxos”, que “parecem uns veadinhos”. O destempero verbal caiu nas redes sociais e alcançou ONGs europeias, que num evento lhe deram o título de “racista do ano”, um presente e tanto para os seus adversários. E finalmente, ganhou outra vez os holofotes quando disse também em discurso, que um deputado ligado a um membro do Tribunal de Justiça vendia sentença, causando um escândalo nos bastidores do Poder Judiciário. Foi execrado por quem não leu corretamente os seus destemperos verbais. Mas ganhou o respeito dos que fizeram uma leitura cuidadosa dos fatos e descobriram nele um homem de princípios, que prima pela verdade e que não tem medo de dizer o que pensa. Vai fazer falta no plenário Nagib Haickel.
São Luís, 14 de Março de 2016.
Correa eu te conheço a tempos, te considero um bom jornalista. Parece que depois que saistes do EM surtou. Dizer que imbecil fara´falta na assembleia e´ridiculo.
Caro Gustavo Silva
Não surtei, não. Acontece é que com o tempo e a experiência aprendi a não surfar na primeira onda, principalmente quando ela é a da avaliação superficial, do escárnio, da agressão. Em muitos fatos, o juízo precipitado leva a julgamento injusto. Você chama Fernando Furtado de imbecil, mas eu não o vejo assim. Ouvi atentamente os discursos dele e, sinceramente, me impressionei com as muitas e cruas verdades que falou e que poucos deram atenção. Coisas que um imbecil, na verdadeira acepção da palavra, não diria. Asseguro-lhe que estou no melhor da minha maturidade jornalísticas, e por isso informo-lhe, com a maior tranquilidade, que minha avaliação sobre o suplente de deputado do PCdoB, com quem nunca troquei uma só palavra, é isenta e imparcial. Não quero com isso convencê-lo de nada, até porque uma das coisas boas que o jornalismo me ensinou foi respeitar a opinião alheia, ainda que ela seja discutível. No mais, agradeço o comentário, apesar do seu tom agressivo, na certeza de que você continuará leitor fiel da Coluna.
Ribamar Corrêa