ESPECIAL: José Reinaldo não vê solução para a crise, e como outros líderes, avalia que o governo da presidente Dilma chegou ao fim

 

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José Reinaldo: uma visão real da situação do país

“A situação do país é muito complicada e não pode se prolongar mais, porque o governo da presidente Dilma não tem mais base política para sobreviver”. A avaliação é do deputado federal José Reinaldo Tavares (PSB), ex-governador do Maranhão e um dos mais experientes integrantes da Câmara Federal, o que lhe dá a condição de observador privilegiado do tenso processo político em curso no país. Com a autoridade de quem vive dentro do furacão que ganha volume e força a cada dia no cenário político nacional, José Reinaldo avalia que o governo perdeu o apoio da sua base, incluindo PMDB, e não detém força parlamentar para garantir a aprovação de projetos “salvadores”, como a CPMF, por exemplo. “O governo infelizmente perdeu tudo, não tem mais as condições políticas”, avalia o ex-governador, prevendo que, sem essa base, a presidente Dilma Rousseff não se sustentará no cargo. A avaliação do deputado socialista, que conhece o caminho das pedras de Brasília e compreende como poucos o movimento das correntes políticas que dominam o país, ajuda a entender como a crise está evoluindo, qual é o seu limite e o que pode acontecer nos próximos tempos.

O deputado José Reinaldo Tavares manifestou suas impressões em conversa com a Coluna, durante a qual desenhou o complicado e tenso cenário nacional e avaliou a situação do PSB, que também passa por uma situação de crise. Na sua visão, a crise política, pressionada pelo desastre econômico, chegou ao limite, a começar pelo fato de que o governo perdeu todas as condições políticas para negociar qualquer projeto que, em tese, poderia ajudar a reverter o cenário. “A CPMF, por exemplo, não tem a menor condição de ser aprovada em meio a essa crise. O governo não conta mais com uma base de apoio que possa lhe dar maioria de votos. Hoje, por exemplo, a maioria do PMDB já é oposição”, avalia.

Com base nas conversas que vem tendo com líderes dos mais diversos partidos e até mesmo com figuras proeminentes do governo, o ex-governador está amadurecendo a conclusão de que, se a presidente Dilma Rousseff não renunciar – ela garante que não renuncia -, será destituída do cargo pela via do impeachment, que depois de quase ser mandato para o arquivo morto, voltou a ser a prioridade da Câmara Federal. A situação, na leitura de José Reinaldo, chegou a tal ponto que a Câmara está paralisada, com a maioria das lideranças decidida a não mais votar projetos do ajuste fiscal, o que mina, dia após dia, as últimas forças do Governo. E é quase consenso que tal situação deve ter um desfecho rápido e definitivo, sob pena de as tensões nas ruas aumentarem, o que certamente levará a Nação a uma situação de caos.

Atualmente, nos bastidores da Câmara Federal começa a ganhar força a tese da renúncia da presidente Dilma. “O que os deputados dizem é que se a presidente não renunciar logo, cairá em 45 dias – que é o tempo previsto para o processo de impeachment – ou será derrubada em no máximo quatro meses”, relata José Reinaldo. O que ainda está retardando o aumento da pressão por um desfecho é uma negociação em curso no Senado, que já ganha espaço na Câmara Federal, para fazer uma mudança no sistema de Governo, tirando os atuais poderes imperiais do presidente da República para a implantação do semi-presidencialismo. Esse sistema é uma espécie de parlamentarismo, com a diferença de que no caso o presidente da República tem mais poderes do que no parlamentarismo clássico. “É uma tese que tem campo político para prosperar”, acredita o ex-governador José Reinaldo.

Em resumo, o deputado José Reinaldo demonstra estar convencido de que o Governo da presidente Dilma chegou ao fim. Poderá ter alguma sobrevida, mas isso vai depender, por exemplo, das manifestações pró-impeachment neste domingo, da reação das correntes governistas e do andamento que as articulações políticas terão no Congresso Nacional. “O que vier a acontecer só vai adiar ou até apressar o desfecho”, prevê, acreditando que, resolvida a crise política com a instalação de um governo comandado pelo vice-presidente Michel Temer, a crise econômica será solucionada rapidamente.

– O que eu não vejo é a continuação do atual Governo – conclui o deputado do alto da sua experiência política, lamentando que o País tenha perdido tanto com a crise.

 

PONTO & CONTRAPONTO

bira 3Ex-governador acha que o PSB tem de apoiar Bira do Pindaré

O deputado federal José Reinaldo Tavares também avaliou a posição do seu partido, o PSB, em relação à sucessão na Prefeitura de São Luís. Ele chegou a declarar apoio à deputada federal Eliziane Gama, mas avaliou que a candidatura do deputado Bira do Pindaré é para valer e por isso acha que o partido tem de se mobilizar em torno desse projeto. “Não é justo nem politicamente correto negar o apoio do PSB à candidatura do deputado Bira do Pindaré. Se ele for candidato mesmo – e acho que será- o partido tem de apoiá-lo”, disse, acrescentando que a maior parte das forças do partido já apoia o ainda secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação. Bira do Pindaré tem o apoio do presidente Luciano Leitoa, que é o chefe de fato e de direito do PSB no Maranhão, mas não tem a simpatia do senador Roberto Rocha, que quer puxar o partido para apoiar a candidata da Rede. Deixando claro que não pretende polemizar nem travar embate com quem quer que seja, ele avalia que o senador Roberto Rocha comete um erro de avaliação e de estratégia quando tenta se impor ao comando regional do partido. Lembra que o presidente Luciano Leitos, prefeito de Timon, tem o apoio da direção nacional do PSB e não será atropelado pelas ações do senador Roberto Rocha. José Reinaldo, que já apoiou o projeto eleitoral da deputada federal Eliziane Gama (Rede), deixou claro que, com a candidatura de Bira do Pindaré, sua posição é a de apoiar o candidato do partido. Mais do que isso, não aprova o projeto de Eliziane de se filiar ao PSB, para disputar internamente a vaga de candidato com Bira do Pindaré. “Acho que ela tem de procurar um novo partido, porque a Rede não tem lastro político para sustentar sua candidatura, mas acho que ela não deve escolher o PSB, porque ela não será bem recebida. O partido tem candidato”.

 

Deputado desfaz rumores: não sai do PSB e tem boa relação com Flávio Dino
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Relação “excelente” com Flávio Dino

Ao longo da conversa com a Coluna, o deputado federal José Reinaldo mandou para o espaço dois rumores que vinham circulando com insistência nos bastidores da política maranhense: um informando que ele estaria a um passo de deixar o PSB, e o outro que ele estaria em rota de colisão com o governador Flávio Dino (PCdoB). Com relação ao PSB, o ex-governador admitiu que encarou momentos de desconforto na agremiação, que na sua avaliação mergulhou numa crise de identidade desde a tragédia que matou o ex-governador pernambucano Eduardo Campos, seu presidente e grande líder. “O PSB perdeu muitas lideranças, perdeu muito da sua identidade. Tenho assistido o partido perder força e, sinceramente, cheguei mesmo a pensar em procurar um partido. Mas diante do que está acontecendo com ele no país, e também no Maranhão, resolvi ficar. Pode ser que em outro momento, se a situação se agravar, eu saia do partido, mas agora resolvi continuar”, disse José Reinaldo, dando esse assunto como encerrado, pelo menos por enquanto. No que diz respeito à sua relação com o governador Flávio Dino, o ex-governador foi taxativo, falando inclusive em tom de entusiasmo: “Minha relação com o Flávio Dino é excelente, nos damos muito bem. Pode até ser que eu discorde dele em um ou outro ponto, mas ele é um estadista, tem noção de que a divergência necessária. Ele poderia ter ficado indisposto por causa daquela entrevista em que discordei da sua ação política, mas, ao contrário, ele compreendeu exatamente o que eu disse e nada mudou na nossa relação. Temos conversado, eu o acompanho quando ele vai a Brasília. E ele está me ajudando muito nesse projeto de trazer o ITA para o Maranhão. Está tudo muito bem”.

 

São Luís, 12 de Março de 2016.

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