Caxias: Grupo Coutinho ainda é poderoso, mas sem um líder forte, corre o risco de cair na desagregação

 

Sem a liderança de Humberto Coutinho, Cleide Coutinho tem dificuldade para manter aliados como Rubens Pereira, 

O anúncio feito na semana passada pelo ex-prefeito de Matões e ex-deputado estadual Rubens Pereira informando que tomará outro rumo, ou seja, não apoiará a candidatura do prefeito Ferdinando Coutinho (PSB) à reeleição na eleição de outubro, confirma o que já vinha sendo previsto nos bastidores mais fechados e nos círculos mais ativos da política estadual: a desagregação do poderoso grupo político criado pelo ex-prefeito de ex-deputado estadual Humberto Coutinho (PDT), falecido no início de 2018, quando exercia o segundo mandato de presidente da Assembleia Legislativa. O afastamento de Rubens Pereira se dá num momento em que o Grupo Coutinho, hoje comandado pela viúva de Humberto Coutinho, deputada estadual Cleide Coutinho (PDT), estremece numa desgastante e perigosa guerra interna por conta da indefinição sobre quem vai representá-lo na corrida sucessória em Caxias, o epicentro do seu poder, evidenciando uma desidratação que vem consumindo suas forças desde a partida do seu grande líder.

Ao longo de mais de três décadas, período em que foi cinco vezes deputado estadual – duas vezes presidente da Assembleia Legislativa, tendo, numa delas, sido governador por 72 horas – e duas vezes prefeito de Caxias, liderando uma guerra política cerrada, intensa e sem concessões contra o poder ascendente do também deputado estadual, deputado federal e prefeito Paulo Marinho (MDB), Humberto Coutinho acumulou um enorme cacife político, com habilidade, carisma e uma surpreendente capacidade de articulação. Montou em Caxias e Matões pilares sólidos da sua malha de poder, que exerceu praticando e aprimorando a sua versão ímpar de fazer política: conversa franca, acordos bem amarrados e rigorosamente cumpridos e compensações materializadas nos resultados das urnas. Durante todo o seu período de ação política, Humberto Coutinho se notabilizou por movimentos arrojados, como o rompimento com o Grupo Sarney – feito a contragosto devido à opção dos líderes sarneysistas por uma aliança com Paulo Marinho -, o apoio ao governador José Reinaldo no rompimento desse com o sarneysismo em 2004, e às candidaturas de Flávio Dino (PCdoB) para deputado federal e de Jackson Lago (PDT) ao Governo em 2006.

Humberto Coutinho tentou criar seu sucessor elegendo o sobrinho Leo Coutinho prefeito em 2012. Mas derrota dele ao tentar se reeleger numa disputa com o vereador Fábio Gentil (PRB) em 2016 foi um duro e inesperado golpe no poder de fogo de Humberto Coutinho, que se encontrava no auge do seu poder como o principal esteio político do governador Flávio Dino. Os meses que se seguiram à derrota fragilizaram o Grupo e a saúde do líder, que acabou vencido por um câncer no início de 2018. Sem a sua liderança forte e incontestável e sem um sucessor devidamente preparado, o Grupo por ele criado teve seu comando assumido pela viúva Cleide Coutinho, que mostrou força ao se eleger deputada estadual com a segunda maior votação. Os primeiros movimentos para as eleições municipais, em 2019, porém, sinalizaram com clareza que, sem a liderança e o comando firme de Humberto Coutinho, o Grupo dificilmente se manteria unido. Tanto que o ano terminou sem que tivesse definido um candidato ou negociado uma aliança em torna de um nome para enfrentar o prefeito Fábio Gentil.

O afastamento de Rubens Pereira poderá impor ao Grupo Coutinho a perda do comando político de Matões, o que será mais um golpe duro no legado político de Humberto Coutinho. Por maior que sejam a sua boa vontade, o seu prestígio e o apoio de aliados decisivos – como o governador Flávio Dino, por exemplo, que tentou, em vão, costurar uma grande aliança unindo os Coutinho com os Gentil -, a deputada Cleide Coutinho dificilmente terá força e ânimo para manter o grupo unido. Além das divergências internas e, contribuem para isso o fortalecimento visível e crescente do prefeito Fábio Gentil, a aliança por ele mantida com Paulo Marinho e o surgimento de lideranças novas, como o deputado Adelmo Soares (PCdoB), que vai aos poucos ocupando seu espaço na seara política da Princesa do Sertão.

Esse cenário em evolução não aponta para a desagregação imediata do Grupo Coutinho, mas se as suas correntes não demonstrarem rapidamente que podem estancar o desgaste com a escolha de uma nova liderança, o desmanche será apenas uma questão de tempo.

PONTO & CONTRAPONTO

 

PCdoB tentará manter Rubens Jr. e Duarte Jr. do mesmo lado

Rubens Júnior e Duarte Júnior: um terá de apoiar o que for escolhido candidato do PCdoB à Prefeitura de SL

Não houve ainda qualquer manifestação do governador Flávio Dino nem do presidente do partido, deputado federal Márcio Jerry, mas todos os movimentos informais dentro e fora dos bastidores governistas sugerem que o PCdoB caminha para escalar o deputado federal licenciado e atual secretário das Cidades e Desenvolvimento Urbano, Rubens Júnior, como o candidato da agremiação à Prefeitura de São Luís. As manifestações pró-Rubens Júnior são evidentes e ele próprio vem se movimentando de maneira independente, mas aqui e ali deixando entrever que seus passos têm clara anuência do domando partidário. O único fator de retardamento da formalização da escolha é o deputado Duarte Júnior, que é pré-candidato assumido, tem mostrado desempenho surpreendente nas pesquisas e estaria até mesmo disposto a mudar de partido para concorrer à sucessão do prefeito Edivaldo Holanda Júnior (PDT). O governador Flávio Dino e o deputado Márcio Jerry tentam encontrar uma fórmula de consolidar o projeto Rubens Júnior sem impor desgastes a Duarte Júnior, que é hoje um quadro que o PCdoB não tem razões para perder, ao contrário, tem todas as razões do mundo para preservar. A ordem do governador Flávio Dino é usar todos os recursos da diplomacia política para manter Rubens Júnior e Duarte Júnior como aliados nessa disputa. E nesse ponto os dois estão tendo comportamento exemplar: Rubens Júnior não ataca Duarte Júnior, e vice-versa.

 

MDB planeja lançar chapa forte à Câmara de São Luís

MDB quer emplacar vereadores na Câmara de São Luís

Ao mesmo tempo em que movimenta o cenário tentando convencer a ex-governadora Roseana Sarney a entrar na briga pela Prefeitura de São Luís, a cúpula do MDB cuida, de maneira mais discreta, mas com o mesmo empenho, de montar uma chapa de peso para disputar cadeiras da Câmara Municipal. Os nomes ainda estão são mantidos sob sete capaz, mas é certo que a chapa contará com políticos, empresários, artistas e, claro, ex-vereadores tentando fazer o caminho de volta. O projeto é arrojado e ambicioso: eleger entre três e cinco vereadores. Isso explica em parte a corrida do partido em busca de um candidato a prefeito de forte expressão política e bom lastro eleitoral, que possa “puxar” a chapa de candidatos a vereador, como a ex-governadora Roseana Sarney, por exemplo. Com a iniciativa, o MDB está determinado a não repetir a vexatória situação de 2016, quando não elegeu nenhum dos 31 vereadores de São Luís. É anotar e conferir.

São Luís 12 de Janeiro de 2020.

 

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