A campanha para as eleições municipais estão evidenciando que por mais que a realidade atual condene os desvios éticos por parte dos políticos, muitos deles parecem ignorar que a reforma partidária do ano passado enfatizou a infidelidade partidária como uma atitude política imperdoável, punível, portanto, com uma série de sanções. Isso porque a infidelidade partidária não se limita a um gesto, mas alcança uma dimensão de extrema gravidade em processo eleitoral, quando um líder, um detentor de mandato dá as costas para o candidato do seu partido e, ostensiva e agressivamente, declara apoio a candidato de outro partido. E quando esse ato não tem consequência, o partido “traído” deixa de ser uma organização com ideologia e uma doutrina nas quais a base são princípios éticos e de fidelidade aos postulados doutrinários. No momento, líderes de vários partidos estão agindo na contramão das suas agremiações, como se fossem movimentos lícitos, e não infrações éticas graves.
Quando, independentemente da crise interna que inviabilizou o seu projeto de candidatura prefeito de São Luís, o deputado Bira do Pindaré externa sua mágoa pessoal e dá as costas ao seu partido, o PSB, que se aliou ao candidato Wellington do Curso (PP) indicando o candidato à vice, vereador Roberto Rocha Jr. (PSB), está cometendo um ato de infidelidade partidária. O mesmo acontece com o suplente de senador Lobão Filho (PMDB), que por não engolir a candidatura do vereador Fábio Câmara a prefeito, declara apoio a Eliziane Gama (PPS). Numa realidade em que partido elevado a sério, Bira do Pindaré e Lobão Filho só teriam dois caminhos: conformar-se com a decisão da maioria do comando do partido ou rasgar sua ficha de filiação e procurar outro pouso partidário.
Ontem, por exemplo, o deputado federal Hildo Rocha (PMDB) foi a São José de Ribamar declarar apoio ao candidato do PSDB a prefeito, Luiz Fernando Silva (PSDB), num gesto político agressivo em relação ao candidato do PMDB naquela disputa, o ex-prefeito Júlio Matos. Outros líderes do PMDB, entre eles a ex-governadora Roseana Sarney, estão cometendo o mesmo desvio político, sem que o comando do partido possa fazer alguma coisa para conter a onda de traição. No outro polo, o próprio candidato tucano Luis Fernando Silva contraria frontalmente o seu partido em São Luís declarando apoio à candidatura do prefeito Edivaldo Jr. (PDT) enquanto o PSDB integra a coligação liderada pela popular-socialista Eliziane Gama.
Dentro do PV a situação é a mesma, refletindo uma medição de força entre o presidente da agremiação, deputado Adriano Sarney, e o deputado Edilázio Jr., que estão em combate aberto dentro do partido por causa dos rumos que o PV tomou no processo eleitoral na Ilha. José Adriano levou o partido formalmente para a coligação da candidata do PPS, Eliziane Gama, mas por divergências internas o deputado Edilázio Jr. (PV) ocupou a tribuna da Assembleia Legislativa para declarar apoio ao candidato do PP, Wellington do Curso, colocando-se como “um soldado” da sua campanha.
Os exemplos citados são apenas alguns entre muitos que estão acontecendo em todo o estado, principalmente nos municípios maiores, onde as relações políticas não são tão sólidas como pregam as regras que norteiam a vida partidária numa sociedade que se pretende politicamente correta.
Chama atenção nesse processo a tolerância com que os líderes partidários acompanham esses movimentos. Não há registro de que não os estão tornando atos de insubordinação e, por via de consequência, eles se tornam rotinas dentro dos partidos. Ao quebrar a disciplina partidária, transformando as legendas em organizações sem ordem nem respeito às regras, a infidelidade nega o conceito de partido e os converte em meros instrumentos a serviço de uma política que, em vez de princípios, se move pela esperteza, oportunismo barato. E resultado dessa tremenda distorção são acordos venais, subterrâneos, nos quais valem o troca-troca, o toma-lá-dá-cá, enfim, as tenebrosas transações.
PONTO & CONTRAPONTO
Waldir prepara volta à ribalta na Câmara Federal
É grande no meio político a expectativa em relação ao à viagem do presidente interino Michel Temer (PMDB) para a Rússia no início de setembro. E o motivo desse clima é ninguém me nos que o vice-presidente da Câmara Federal, deputado Waldir Maranhão (PP), que vai assumir de novo o comando da Casa, já que, como o vice-presidente da República o atual presidente, o segundo na linha sucessória é o presidente da Câmara, deputado fluminense Rodrigo Maia (DEM), que assumirá interinamente a Presidência da República. Waldir Maranhão comandará a Câmara Federal indiferente aos berros de alguns colegas dele inconformados. Isso porque no seu pior momento como presidente interino da Casa, ele foi ameaçado de responder a processo no Conselho de Ética, foi agredido verbalmente diversas vezes no plenário da Câmara, perdeu o comando do PP no Maranhão e foi ameaçado de expulsão do partido. Era tudo conversa fiada, discurso para chamar a atenção da imprensa. Maranhão não vive uma situação confortável, continua no purgatório, mas numa região em que também não são ainda as portas do inferno, como muitos alardearam. Isso não quer dizer que sairá ileso de tudo o que lhe aconteceu, mas a política tem portas de entrada e de saída que costumam surpreender.
Dino fez a justiça Nuzman não teve a hombridade de fazer
Quando homenageou os presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff, “que tiveram grande liderança e coragem para conquistar a Olimpíada do Brasil”, o governador Flávio Dino (PCdoB) fez um gesto de plena decência política. Resgatou uma verdade absoluta, incontestável, daquelas que nem os momentos mais atribulados e sombrios conseguem empanar: a Rio 2016 só aconteceu por que o então presidente Lula usou de todos os recursos ao seu alcance, a começar pelo seu avassalador prestígio internacional no momento em que a decisão foi tomada. Depois, a presidente Dilma não deixou a peteca cair durante o seu governo, pelo que foi muitas vezes agredida por muitos que hoje festejam os jogos maravilhosos que encantaram o mundo, inflou a autoestima nacional e deram uma nova dimensão ao Rio de Janeiro. Pena que o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Nuzman, que melhor do que ninguém sabe disso, não tenha tido a hombridade de, por medo de uma vaia, nas duas vezes em que discursou para o mundo, registrar a participação decisiva dos dois presidentes no processo.
São Luís, 22 de Agosto de 2016.