Ao dar apoio a Lula, Flávio Dino faz política madura e aposta alto no futuro da esquerda

 

Lula recebe u apoio de Flávio Dino em ato em frente ao Palácio dos Leões
Lula recebe u apoio de Flávio Dino em ato em frente ao Palácio dos Leões

Muita gente está perguntando por que o governador Flávio Dino (PCdoB), um político sem manchas éticas e cujo comprometimento com a causa pública é reconhecido até por  seus adversários, entra de cabeça na contramão da Operação Lava Jato e comanda um ato público, em frente ao Palácio dos Leões, em defesa do ex-presidente Lula da Silva (PT), como se tivesse plena convicção de que o líder petista seja, de fato, vítima de uma armação destinada a destruir sua reputação e sufocar seu partido, e assim varrer os dois da vida pública brasileira. Essa indagação foi reforçada na terça-feira (5), quando Flávio Dino foi o grande anfitrião de Lula no encerramento da peregrinação do ex-presidente pelo Nordeste em busca de suporte político e popular para o seu projeto de voltar ao poder em 2018. Naquela noite, os fatos produziram uma grande contradição: enquanto o governador e o ex-presidente reagiam, com discursos fortes, às investidas da direita contra o PT e as esquerdas de um modo geral e teciam duras críticas às ações da Operação Lava Jato sobre as acusações ao líder petista, os telejornais da noite anunciavam que o procurador geral da República, Rodrigo Janot, protocolava no Supremo Tribunal Federal (STF) mais uma denúncia contra Lula da Silva, acusando-o de formar quadrilha e de tentar obstruir a Justiça.

A primeira impressão sugere que o governador Flávio Dino vive uma baita contradição, porque o governador tem razões de sobra para querer ver o ex-presidente pelas costas, bastando para isso a posição assumida pelo líder petistas nas eleições de 2010 e 2014, quando usou mão de ferro para obrigar o PT maranhense a romper com seus aliados tradicionais para se juntar ao Grupo Sarney, jogando pesado contra o líder comunista. O governador, porém, encara o cenário como uma confrontação política entre as forças progressistas, que o têm como um dos seus líderes, e as forças conservadoras, como as que lhe fazem oposição no Maranhão, lideradas pelo ex-presidente José Sarney (PMDB). Flávio Dino, por sua vez, controla sua racionalidade e alimenta a esperança de que, cedo ou tarde, a boa política prevalecerá, consolidando de vez a democracia no País. O governador tem dito que não se opõe à Operação Lava Jato e que não tolera a corrupção, mas tem também sido enfático quando afirma, do alto da sua condição de ex-juiz federal, que os responsáveis pela Operação cometem erros, excessos e abusos, enquadrando, pelo menos até a o ex-presidente Lula da Silva e a ex-presidente Dilma Rousseff na cabeça da lista dos supostamente injustiçados.

Flávio Dino atua consciente de que representa hoje uma banda expressiva da esquerda que não contrariou os seus postulados, principalmente no campo ético. E numa visão mais abrangente, enxerga um Brasil em crise, essa agravada exatamente pelos esforços que o Governo do presidente Michel Temer (PMDB) está fazendo para diminuir o tamanho do Estado, enquadrar  programas sociais -Bolsa Família, por exemplo -, não adotando, porém, medidas efetivas para beneficiar diretamente a população, mas sim para salvar o mercado e o status quo político. “Precisamos financiar os serviços públicos e, para isso, precisamos de Justiça Tributária, no sentido de que os mais ricos, os milionários, bilionários, os rentistas e o capital financeiro tenham de pagar os seus impostos com proporcionalidade em relação aos mais pobres”, sugeriu Flávio Dino, em entrevista recente a um portal de notícias.

O governador do Maranhão tem clareza de que Lula é o mais o mais importante elo das esquerdas com a sociedade e com o eleitorado, e que com ele fora do tabuleiro, o chamado campo progressista corre o risco de perder o espaço que conquistou no cenário político brasileiro desde a redemocratização conduzida pelo presidente José Sarney. Flávio Dino sabe também que se tornou provavelmente a maior referência das esquerdas, e que por isso o seu papel nesse contexto é de extrema importância, podendo ser “convocado” para dar um passo bem mais largo do que reeleger-se governador do Maranhão. Isso ficou muito claro quando o ex-governador e pré-candidato a presidente Ciro Gomes (PDT), que apontou como “a coisa mais importante que aconteceu na política brasileira nos últimos tempos”.

São esses vieses políticos que explicam a posição do governador Flávio Dino como aliado e defensor do ex-presidente Lula da Silva e da mobilização das esquerdas em torno de um projeto comum, o que lhe abre caminho para se consolidar como uma liderança nacional. Mas, com faro suficiente apurado para saber que sua prioridade é reeleger-se governador do Maranhão, de preferência tendo o ex-presidente e as forças petistas como aliados.

 

PONTO & CONTRAPONTO

Sarney e Lobão contestam denúncia de Janot sobre desvios de chefes do PMDB

José Sarney e Edison Lobão contestam denúncia de Rodrigo Janot
José Sarney e Edison Lobão contestam a nova denúncia de Rodrigo Janot

Os canhões do procurador geral da República, Rodrigo Janot, se voltaram de novo contra o ex-presidente José Sarney e o ex-ministro e senador Edison Lobão (PMDB). Denuncia agora que eles, mais senadores pemedebistas Renan Calheiros (AL), Jader Barbalho (PA), Waldir Raupp (AC) e Romero Jucá (RR) formaram uma quadrilha que teria operado mais de R$ 800 milhões em propina desviada de contratos bilionários da Petrobras, tendo o dinheiro sido usado como caixa dois em campanhas eleitorais do PMDB. Dois fatos chamam atenção nessa denúncia. O primeiro é que nem José Sarney nem Edison Lobão presidiram o PMDB, não havendo registro fático, documental, de que eles tenham realmente participado da gigantesca falcatrua, que teria gerado um prejuízo de R$ 5 milhões à Petrobras. O outro é que o advogado de José Sarney e Edison Lobão, Antônio Carlos de Almeida Castro, chamou-a de “falácia”, corroborando com o argumento de que o procurador geral da República, Rodrigo Janot, de vender gato por lebre para encobrir as derrapagens que andou fazendo, como a escandalosa delação premiada da gang da JBS.E a julgar pela reação dos demais acusados, a denúncia é fraca e inconsistente. Na sua crônica domingueira ao O Estado do Maranhão, o ex-presidente José Sarney tentou desmoralizar mais essa flecha de bambu disparada pelo chefe do Ministério Público Federal. Do alto dos seus 87 anos, com mais de 70 deles dedicados à vida pública, Jose Sarney se jacta de jamais ter sido apanhado em desvios de conduta. E tenta demonstrar que a acusação é genérica, não fazendo qualquer sentido, dando a entender que, se autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, a investigação será inócua. O advogado Almeida Castro diz exatamente o mesmo em relação a Edison Lobão.

 

Se Janot denunciar Temer de novo, bancada maranhense manterá posições na Câmara Federal

Se g=for denunciado de novo, Michel temer terá o apoio da maioria da bancada maranhenseHildo Rocha

Se o procurador geral da República disparar mesmo mais uma flecha de bambu para tirar Michel Temer da cadeira presidencial, a bancada maranhense (foto) terá o mesmo desempenho no plenário da Câmara Federal, dando a maioria dos seus votos para que o pacote acusatório seja mandado para o arquivo morto. Os deputados Hildo Rocha (PMDB), João Marcelo (PMDB), Pedro Fernandes (PTB), André Fufuca (PP), Juscelino Filho (DEM), Cléber Verde (PRB), Júnior Marreca (PEN), Aluízio Mendes (PTN), José Reinado Tavares (PSB), Victor Mendes (PSD) e Sarney Filho (PV) – que deixará momentaneamente o Ministério do Meio Ambiente para participar da votação – votarão a favor do o presidente Michel Temer, repetindo o voto contra a denúncia anterior. Já os deputados Rubens Jr, (PCdoB), Zé Carlos (PT), Weverton Rocha (PDT), Deoclídes Macedo (PDT), Eliziane Gama (PPS), Waldir Maranhão (PTdoB), Luana Alves (PSB) votarão a favor da autorização para que o presidente da República seja investigado pelo Supremo.

 

São Luís, 10 de Setembro de 2017.

3 comentários sobre “Ao dar apoio a Lula, Flávio Dino faz política madura e aposta alto no futuro da esquerda

  1. Talvez comigo tenha uns dez leitores , a partir de hoje só terás nove. Não agüento mais , teus elogios a esse governo asqueroso me causa náuseas .

  2. O Governador Flávio Dino é hj, até pelo posto que ocupa um nome na esquerda nacional, é governador, o único em todo a história de seu partido, é um cabo eleitoral, para Ciro Gomes, Lula ou qualquer outro quenha disputar uma eleição no campo da esquerda… Mas ele está longe de ser um pilar desta, um nome a ser ungido por está esquerda hj do Brasil. Se um dia será, só 2018 dirá!

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